quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Minha doce trigueira



Porque andas tu mal comigo
Ó minha doce trigueira
Quem me dera ser o trigo
Que andando pisas na eira

Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas
Eu choro ao ouvir-te as cantigas
que cantas nas noites claras

Por isso nada me medra
Ando curvado e sombrio
Quem me dera ser a pedra
em que tu lavas no rio

E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Aquela casa onde coses
Com varanda para o mar

Por isso nada me medra
Ando curvado e sombrio
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio


Poesia de Gomes Leal

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Paz Sem Limites


Ruhe auf der Flucht by Adrian Ludwig Richter, 1873

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles. 

Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo; alegram-se diante de ti como os que se alegram no tempo da colheita, como se regozijam os que repartem os despojos. 
Pois Tu quebraste o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz, como na jornada de Madian. 
Porque a bota que pisa o solo com arrogância e a capa empapada em sangue serão queimadas e serão pasto das chamas. 
Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz. 
Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça, desde agora e para sempre. Assim fará o amor ardente do SENHOR do universo. 


Salmos 96(95),1-2a.2b-3.11-12.13.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Camões, de Roy Campbell

Camões, alone, of all the lyric race,
Born in the black aurora of disaster,
Can look a common soldier in the face:
I find a comrade where I sought a master:
For daily, while the stinking crocodiles
Glide from the mangroves on the swampy shore,
He shares my awning on the dhow, he smiles,
And tells me that he lived it all before.
Through fire and shipwreck, pestilence and loss,
Led by the ignis fatuus of duty
To a dog’s death — yet of his sorrows king —
He shouldered high his voluntary Cross,
Wrestled his hardships into forms of beauty,
And taught his gorgon destinies to sing. 


Roy Campbell

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Palavra "Caridade"

"Hoje em dia as pessoas têm medo da palavra “caridade”, têm medo de palavras, atribuem conotações e pesos à palavra “caridade”. Na acepção de São Paulo, caridade é amor, é espírito de serviço, é o outro precisar de nós sem que nós precisemos do outro e portanto levamos o que ele precisa e não o que nós queremos levar. A solidariedade é algo mais frio que incumbe ao Estado e que não tem que ver com amor, mas sim com direito adquiridos. Infelizmente empobrecemos a nossa língua atribuindo algumas conotações a algumas palavras e portanto temos medo de as usar."
Jornal i
Isabel Jonet, uma mulher cuja coragem tem-me vindo a impressionar cada vez mais.

domingo, 9 de dezembro de 2012

The Demon of Evil


Dostoevsky warned that "great events could come upon us and catch us intellectually unprepared." This is precisely what has happened. And he predicted that "the world will be saved only after it has been possessed by the demon of evil." Whether it really will be saved we shall have to wait and see: this will depend on our conscience, on our spiritual lucidity, on our individual and combined efforts in the face of catastrophic circumstances. But it has already come to pass that the demon of evil, like a whirlwind, triumphantly circles all five continents of the earth... 

 Men Have Forgotten God
 by Aleksandr Solzhenitsyn

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Homem-Manada


The true "herdist" will carefully avoid acting or thinking originally, in order not to destroy the uniformity which is so dear to him, and he is also ready to rise immediately against anybody who dares to act independently and thus destroy the sacred unity of the uniform group to which he belongs. The loyal herdist will not rise alone against the sacrilegious offender; he will have the support of the rest of the circumscribed society and thus a mass action of collective protest will take place, forcing the "lonely individual" to conform or to withdraw. It must be fully borne in mind that no one of us is completely free from the influence of the herdist instinct and even the noblest among us yield to its dark appeal in one form or the other. 

The herdist instinct is furthermore not only personal, in the sense that it clamors for a personal collectivism; it creates also a longing and desire for the visual or acoustic contemplation of identitarian or uniformistic phenomena. The true herdist, the man truly dominated by that inferior instinct, will not only rejoice in marching amongst twenty thousand uniformly clad soldiers, all stepping rhythmically in one direction, but he will find an almost equal gratification in contemplating the show from a balcony. He will not only be happy in sitting amidst two hundred other bespectacled businessmen, drinking beer and humming one chant in unison, but the aspect of a skyscraper with a thousand identical windows will probably impress him more than a picture by Botticelli or Zurbarán.

Erik von Kuenhelt-Leddihn, The Menace of the Herd

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Princípios e Economia

Abandonment of Christian principles led to Europe’s economic crisis: Hungarian Prime Minister 
Orban said at the XIV Congress of Catholics and Public Life on “Hope and the Christian response to the crisis.” Behind every successful economy, Orban said, there is “some kind of spiritual driving force.” Viktor Orban “A Europe governed according to Christian values would regenerate.”
 “The European crisis,” he said, “has not come by chance but by the carelessness and neglect of their responsibilities by leaders who have questioned precisely those Christian roots. That is the driving force that allowed European cohesion, family, work and credit. These values were the old continental economic power, thanks mainly to the development which in those days was done in accordance with [those] principles.”

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Slavery


To all the horrors of technicism one must add the scourge of monotony and the tyranny of time. Cities like London, New York, Berlin, Paris, Chicago, Pittsburgh, Detroit, or Glasgow are high spots of slavery in comparison to Albania, Bulgaria, or even Central Africa. The slavery of the watch and clock, the bourgeois, anthropocentric slavery of material prestige and successful competition (to slave in order to keep up standards), the wage slavery of the proletarian, the school slavery of the children, the conscription slavery of the adolescents, the road slavery, the factory slavery, the barrack slavery, the party slavery, the office slavery, the parlor slavery of manners and conventions — all these slaveries make political "freedom" appear a bitter joke.

Erik von Kuehnelt-Leddihn, The Menace of the Herd

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Novo Sermão da Montanha


Portugal assim dizia, 
Quasi sempre em dôr tamanha! 
Assim prégou aos seus filhos 
Novo Sermão da Montanha. 

Honra os teus Mortos. E' deles 
Que tu vens. Deves-lhe culto
Que são os vivos? - A Sombra 
Dos Mortos que fazem vulto. 

- Povo! Povo! eu chamo... Escuta. 
Repara em mim: vê e pasma! 
Sombra e chagas do que fui... 
Fiseram de mim um fantasma. 

Onde irei? A ser escravo? 
Velho e rôto vagabundo 
Aos encontrões, ás esmolas, 
Aos enxovalhos do mundo... 

Povo! em ti, confio e espero 
Como foi no tempo antigo. 
Has de salvar-me...Ou ao menos 
Saberás chorar comigo. 

Antonio Corrêa d'Oliveira

agradecimentos a Cristina Ribeiro

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Batalha Cultural que os Católicos perderam em Portugal


e de como estão prestes a perder a Guerra, se não mudarem de táctica.

Quando o Muro caiu, há 23 anos atrás, poucos dentro da Igreja Católica poderiam pensar que a principal ofensiva cultural contra os valores religiosos da sociedade ocidental ainda estava para vir.
Após um século de combate contra o relativismo moral, o socialismo, o individualismo e o comunismo, a Igreja Portuguesa encontrava-se refasteladamente encostada ao novo regime democrático, manobrando na penumbra a pouca influência que ainda tinha dentro do Estado e da vida sócio-cultural do País. Depois de um século panfletário como o século XIX, depois da pujança ideológica e intelectual da primeira metade do século XX, a Igreja chegava ao virar de século desarmada - os pasquins católicos, os jornais conservadores e tradicionalistas, as publicações de obras de pensadores e políticos da Doutrina Social da Igreja, tudo isso desapareceu ou recuou em audiência até chegar à irrelevância. A Igreja continuava forte, as suas congregações ainda movimentavam as comunidades urbanas e rurais - no entanto, o seu papel nos destinos do pensamento político do País esfumava-se nos poucos políticos católicos (e quase todos católicos progressistas) que permitia o Estado do pós-25 de Abril. A principal culpada desta retirada foi, e é, a ideia retirada de um certo espírito pós-Concilio Vaticano II que dita que a Igreja só se deve envolver na política através dos leigos, ou que todos os esforços de aplicar a Doutrina Social da Igreja devem ficar-se pelos programas dos partidos democrata-cristãos.

Com isto, não pretendo defender a presença de bispos e padres no parlamento da República. A capacidade de os clérigos contribuírem para o descrédito da Igreja Católica na sociedade tem sido fartamente comprovada pela acção de muitos dos últimos bispos portugueses, especialmente D. Januário Torgal.
No entanto, não existe uma única revista de alcance nacional, ou jornal, inteiramente votado às doutrinas da Igreja, à cosmovisão católica dos problemas do país. As congregações católicas perdem-se em tercinhos e em passeatas, mas não existe num país com 80% de católicos uma publicação mensal que combata o socialismo, a devassidão moral, as concepções new age do casamento e do "direito ao corpo", a corrupção do Estado ou o espoliar violento que tem vindo a sofrer o nosso património público.

Em vez disso, a agenda católica para a política prende-se no retardamento de reformas que os próprios líderes da comunidade sentem ser, ao fim e ao cabo, imparáveis. A atitude meramente reaccionária, meramente defensiva, de perpétuo cerco sem perspectivas de socorro, só pode trazer às fileiras do cristianismo o desânimo e o desespero. Essa atitude defensiva girava à volta de alguns princípios inegociáveis, ou assim pensa a Igreja quando os discute com o Estado Português: o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Quis a Igreja descansar sobre os seus louros após a primeira vitória no referendo do aborto - no entanto, nada fez para combater a proliferação da cultura do contraceptivo, chegando até alguns dos seus "sequazes" a apoiá-la. Quando chegou a altura de se bater nas urnas pela segunda vez, uma nova geração estava já preparada para aceitar, naturalmente, o alargamento do período do aborto e do seu uso como novo contraceptivo. Quis a Igreja combater, com marchas e artigos e entrevistas, o casamento homossexual - no entanto, não mostrou metade do ardor para combater os sucessivos regimes de divórcio, que o facilitavam ao ponto de o casamento se tornar no mais frágil contrato do código civil português. Quando a maioria parlamentar e o governo quiseram, por fim, acabar de perverter totalmente esse instituto, já metade do caminho estava andado na corrupção. Só os católicos, e a Igreja, não quiseram ver isso.

No entanto, nos bastidores da política, a Esquerda ataca noutros sentidos com o mesmo fervor com que ataca os pontos "inegociáveis" da ICAR. Hoje em dia, o catolicismo nada tem a dizer sobre a subsidiariedade, a democracia, a economia e a propriedade. Da Doutrina Social da Igreja sobram princípios vagos e mal-entendidos que já começam a ser gozados nas faculdades de Verão dos partidos ditos "de direita". 
Nada diz a Igreja sobre a forma como a propriedade está distribuída no país. Os conceitos individualistas são aceites com a mesma complacência com que se torce o nariz às investidas estatistas nos domínios da cultura, da arte, do poder local e até da caridade. O ataque aos símbolos nacionais, a destruição do ambiente e da paisagem portuguesa - tudo isso são causas que o conservadorismo católico esqueceu ou relelgou para a Esquerda. Absorvendo estas causas, a Esquerda adaptou-as à sua ortodoxia. O mesmo fez com o estudo da História, da Sociologia, da Artes. Não há influência católica relevante no cinema ou na pintura portuguesa. Do que se escreve sobre o passado, muito é feito às custas da nossa antiga religião, com a pior das intenções, ainda que tenha sido pior nos anos 70.
Tudo isto porque, das organizações, associações, paróquias, ordens e conventos, congregações e prelaturas, que a Igreja tem em Portugal, nem um tostão é direccionado para a Batalha Cultural que o "progressismo" ganha, todos os dias, nos jornais e nas televisões nacionais. Não existe uma escola intelectual para a Doutrina Social da Igreja que influencia uma publicação regular sequer, não existem projectos apostados numa nova estética, numa nova mensagem que conduza a tradição e doutrina católicas às massas. Os donos dos media ganharam à Igreja uma batalha que o Islamismo e o Protestantismo não conseguiram - durante duas décadas, ou mais, calaram a voz pública da Igreja e separaram-na dos fiéis. Se no fim dos anos 80 a indignação dos católicos se faz ouvir para um sketch de Herman José que ataca a Rainha Santa Isabel, na primeira década do século XXI os Gato Fedorento podem retratar Jesus, no canal público de um país predominantemente católico, da forma que lhes apetecer. Afinal de contas, os católicos aprenderam a ser modernos e tolerantes.

A Igreja não possui, neste século, nenhum equipamento próprio para enfrentar a modernidade. Não possui uma Teoria, porque não tem veículos que a transportem até as pessoas. Não possui uma Estética, uma vez que os seus próprios valores morais estão dependentes das apreciações morais dos novos tempos - e sem moral não se constrói, imita-se. Se há movimentos que tentam criar o seu próprio espaço na sociedade política, logo são desaconselhados a usar o nome "católicos". Como se o nome fosse um desincentivo à simpatia dos outros grupos. E se for? Que alternativas temos, e que alternativas tiveram os primeiros cristãos? Por muito mal vistos que fossem pela sociedade romana, nunca lhes passou pela cabeça chamarem-se "Grupos de Amigos da Pesca" ou "Associação Sal da Terra". 

A Igreja enfrenta vários desafios neste século que agora começa. No entanto, nenhum desafio é maior para a Igreja do que encontrar, de novo, a forma de se exprimir dentro da sociedade. Essa expressão terá que assumir uma imagem de força, de confiança, de caridade e de esperança - uma mensagem verdadeiramente jovem, enérgica, capaz de assegurar pela força da oração e da acção uma nova aurora para Portugal e para aquilo que realmente Portugal significa. E isso só se faz autonomizando a Igreja - arrancando-a dos moldes da sociedade moderna em que alguns bem-intencionados padrecos pra frentex lhe impuseram (os mesmos que acusam a minha geração de sermos os "adolescentes conservadores e reaccionários"), dando-lhe símbolos próprios, intelectuais próprios, economistas próprios, arquitectos próprios, historiadores próprios, juristas próprios - e acima de tudo isso, artistas e poetas próprios.

Talvez agora, que os "inegociáveis" que os bispos mantiveram a custo durante os primeiros 40 anos da Igreja se foram à vida, uma nova fase se abra para a Igreja e para os cristãos, Uma fase em que estes finalmente percebam que não têm nada a perder no espectro político, porque já nada têm, e tudo a ganhar no prisma espiritual.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Municipalismo - André Azevedo Alves

Artigo de AAA no Económico

A reorganização torna-se ainda menos defensável quando se considera que não toca nas câmaras municipais, onde se concentra a maior parte da despesa pública em termos locais. Melhor teria feito o poder central em promover uma maior autonomia administrativa e financeira das autarquias, a que se deveria juntar um reforço dos mecanismos de responsabilização locais. Em qualquer caso, trate-se de freguesias ou câmaras, a iniciativa de qualquer reorganização deveria partir das comunidades locais e nunca centralizadamente de Lisboa. Um bom exemplo, independentemente da posição que se tenha sobre a proposta, é a discussão lançada por Luís Filipe Menezes sobre uma possível fusão dos municípios de Porto e Gaia. Já a reforma em curso do mapa autárquico comprova, infelizmente, a plena actualidade do que escreveu o grande Alexandre Herculano: "Todos os interesses que deviam ser zelados por municípios estão à mercê de um ministro que reside em Lisboa, e que nem os conhece, nem devidamente os aprecia."

A Cruz ao Pescoço


A meus filhos — para que as cumpram, ou não, e as façam (ou não) cumprir.

Meninos, tomem sentido:
amanhã já não me acordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Vou morrer menino e moço,
sem pátria nem parentela,
com esta cruz ao pescoço
e a coroa real na lapela.

Pretendo um inteiro olvido.
Não quero que me recordem.
— É isso, pai, um pedido?...
— Não, amores: é uma ordem.

Rodrigo Emílio, Inéditos

Direitinha

A chico-espertice de Helena Matos é própria desta direitinha que não quer dar sinais de muita religiosidade e, por isso, atira de vez em quando uma chalaçazinha ao cristianismo. No caso de Helena Matos, a ideia é fazer com que o cristão da bancada central-direita do parlamento se sinta bem consigo mesmo - "Ufa!, ainda sou moderno e sem pregas!".

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Conservadorismo

Estética, Comunidade, Esquerda e Economia no artigo de Roger Scruton no The Imaginative Conservative

The Burkean argument for a partnership across generations is an argument of the same kind, which asks us to recognize that consensual solutions may sometimes require that we consult the interests of the unborn and the dead. What has gone wrong, it seems to me, is not the attachment of conservatives to the market, but the failure to see what a real market solution requires: namely the retreat of the state and its projects from every decision in which local aims and loyalties are at stake. It is surely time for conservative politicians to recognize that, with really big issues, you need to think small.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Protestos em Madrid



O direito a insultar as pessoas apenas porque querem trabalhar e não querem politiquices a espalhar o seu veneno à porta dos seus estabelecimentos comerciais.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Contra a Caridade e a Poupança

O problema da Esquerda com Isabel Jonet não passa pelos lugares-comum que expressou na sua entrevista para a SIC. Toda a gente sabe, e os pobres também, que é melhor gastar dinheiro num jantar que num concerto rock. E que certos hábitos rotineiros devem ser aperfeiçoados de forma a levar ao mínimo de despesa possível. É contra o bom-senso que se revolta a Esquerda, especialmente o bom senso familiar, assente na Caridade e na Poupança. Valores que construíram a nossa civilização e que a Esquerda detesta. Odeia. Porque é incapaz de um e do outro.

leitura aconselhada:
Vamos brincar ao totalitarismozinho

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

De Pé entre as Ruínas!

Snipers alemães capturados pelo Terceiro Exército, comandado pelo General G.S. Patton. Alemanha, Março de 1945

sábado, 3 de novembro de 2012

As Elites e a Revolução

Lenine, filho de uma família da alta classe média que subira na escala social de forma astronómica, aqui a discursar perante a multidão
Las revoluciones son enfermedades de los pueblos libres. El mundo antiguo era un mundo en que los esclavos componian la mayor parte del género humano; citádme cuál revolución fué echa por esos esclavos!
Lo más que pudieron conseguir fué fomentar algunas guerras serviles; pero las revoluciones profundas fueron hechas siempre por opulentísimos aritócratas.
No señores; no está en la esclavitud, no está en la miseria el germen de las revoluciones; el germen de las revoluciones está en los deseos sobreexcitados de la muchedumbre por los tribunos que la explotan y benefician.
"Y seréis como los ricos"; ved ahí la fórmula de las revoluciones socialistas contra las clases medias.
"Y seréis como los nobles"; ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases medias contra las clases nobiliarias.
"Y seréis como los reyes"; ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases nobiliarias contra los reyes.
Por último señores, "y seréis a manera de dioses"; ved ahí la fórmula de la primera rebelión del primer hombre contra Dios. Desde Adán, el primer rebelde, hasta Proudhon, el último impio, ésa es la fórmula de todas las revoluciones.
Juan Donoso Cortés, Discurso sobre la Dictadura

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Usurpação Legítima



Deus faz os reis, literalmente. Ele prepara as estirpes reais, amadurece-as no meio de uma nuvem que encerra as suas origens. Elas depois surgem coroadas de glória e de honra: impõem-se - e é esse o maior sinal da sua legitimidade. Elas avançam como que sozinhas, sem violência por um lado e sem uma deliberação precisa pelo outro. É uma espécie de tranquilidade magnífica nada fácil de exprimir.
"Usurpação legítima" parecer-me-ia a expressão adequada (se não fosse demasiado ousada) para caracterizar esta  espécie de origens que o tempo se apressa a consagrar.

J. de Maistre, Essai sur la principe générateur des constituition politiques

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tolkien and Catholicism

Why Tolkien Says, JOSEPH PEARCE

The significance of this date will not escape the attention of Catholic scholars, though it is certainly overlooked all too often by Tolkien's non-Christian admirers. Tom Shippey, an Anglo-Saxon scholar and Tolkien expert, states in his book, The Road to Middle Earth, that in "Anglo-Saxon belief, and in European popular tradiion both before and after that, March 25 is the date of the Crucifixion." It is also, of course, the Feast of the Annunciation, the celebration of the absolute center of all history as the moment when God himself became incarnate as man.

 A Catholic and an Oxford don, Tolkien was well aware of the significance of "the twenty-fifth of March." It signified the way in which God had "unmade" the Fall, which, like the Ring, had brought humanity under the sway of "the Shadow." If the ring that the hero wants "unmade" at the culmination of Tolkien's quest is the "one ring to rule them all â?¦ and in the darkness bind them," the Fall was the "one sin to rule them all â?¦ and in the darkness bind them." On March 25, the one sin, like the one ring, had been "unmade," destroying the power of the Dark Lord.

Mitologia Portuguesa

máscara usada nas festividades do Entrudo de Lindoso

Trasgos
Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais.

 Zanganitos
Os Zanganitos são seres fantásticos, uma espécie de duende das lendas portuguesas, parecidos com os Trasgos e o Fradinho da mão furada, que vivem dentro de casa e fazem tropelias.

 Fradinhos da Mão Furada
O Fradinho da mão furada é uma personagem mítica de uma das lendas portuguesas, uma espécie de duende caseiro. É um ser que tanto concede favores e benefícios como engana e prega partidas. Tem na cabeça um barrete encarnado, entra nos quartos de dormir, durante a noite, através do buraco da fechadura das portas e escarrancha-se à vontade em cima das pessoas, frequentemente causando grandes pesadelos.

Tardos
O Tardo ou Trevor é uma espécie de duende, um ser mítico do folclore popular português. O tardo também se chama de pesadelo ou tardo moleiro. O tardo vai importunar as pessoas que estão a dormir na cama que depois acordam com um grande pesadelo. O tardo pode aparecer na figura de um animal e frequentemente aparece na figura de um cão, gato ou cabra. O tardo quando aparece nos caminhos, nos regatos e nas encruzilhadas tenta deixar as pessoas intardadas (desorientadas) sem saber qual caminho seguir, mijando nas pernas das pessoas. Uma criança pode se transformar num tardo e correr o fado se o padrinho durante o baptizado não disser as palavras certas. A transformação terá lugar antes da idade da comunhão, aos sete anos. A criança antes de se transformar pendura a roupa na árvore mais alta de uma encruzilhada e transforma-se num animal. Se durante sete anos não lhe quebrarem o fado transforma-se em lobisomem.

Insonhos
O Insonho ou pesadelo é um espírito ou uma bruxa do folclore português. Na cabeça tem um carapuço que quando alguém consegue lho tirar ele foge para o telhado e é obrigado a dar todo o dinheiro que lhe pedem até ele conseguir recuperar de volta o carapuço. O insonho tem uma mão muito pesada, "é um bicho que vem tapar a boca de quem está a dormir, mas como tem a mão furada não deixa morrer abafado".

Corredores
Nas lendas portuguesas, o corredor é a pessoa que tem que correr o fado, quer dizer, durante a noite toda vai percorrer um caminho onde vai passar a correr por sete pontes, sete fontes, sete montes, sete encruzilhadas, sete portelas de cão. O corredor é um ser mutante, pode assumir a forma de lobo, de cão ou outro animal. Quando se encontra um, para quebrar o fado deve fazer-se sangue, isto é, fazê-lo sangrar. Dizem que uma pessoa se transforma em Corredor, se em criança, os padrinhos disserem mal o Credo no baptizado. Outra versão consiste em que, nascendo o sétimo filho numa família cujos filhos são todos do mesmo sexo, o primogénito tem de "correr o fado".

Mouras encantadas
As moiras ou mouras encantadas são espíritos, seres fantásticos com poderes sobrenaturais dos folclores português e galego. São "seres obrigados por oculta força sobrenatural a viverem em certo estado de sítio como que entorpecidos ou adormecidos, enquanto determinada circunstancia lhes não quebrar o encanto".Segundo antigos relatos populares, são as almas de donzelas que foram deixadas a guardar os tesouros que os mouros encantados esconderam antes de partirem para a mourama. As lendas descrevem as mouras encantadas como jovens donzelas de grande beleza ou encantadoras princesas e "perigosamente sedutoras". Aparecem frequentemente cantando e penteando os seus longos cabelos, louros como o ouro ou negros como a noite, com um pente de ouro, e prometem tesouros a quem as libertar do encanto. Podem assumir diversas formas e existe um grande número de lendas, e versões da mesma lenda, como resultado de séculos de tradição oral. Surgem como guardiãs dos locais de passagem para o interior da terra, os locais "limite", onde se acreditava que o sobrenatural podia manifestar-se. Aparecem junto de nascentes, fontes, pontes, rios, poços, cavernas, antigas construções, velhos castelos ou tesouros escondidos.

Corrilários
O corrilário é um ser lendário das tradições portuguesas. Os corrilários são as almas penadas em figura de cão. Transformam-se em corrilários aqueles a quem faltaram palavras no baptismo, os que deixaram promessas por cumprir ou sofreram morte violenta. Vai ficar como corrilário por tanto tempo quanto era determinado que ele ainda vivesse se não tivesse morrido prematuramente. Tanto percorre caminhos direitos como atalhos enquanto os lobisomens só andam por caminhos direitos. Se um lobisomem morre antes de terminar o seu fadário, depois de morto termina os seus dias como corrilário.

Peeiras
Peeira ou fada dos lobos é o nome que se dá às jovens que se tornam guardadoras ou companheiras de lobos. Elas são a versão feminina do lobisomem e fazem parte das lendas de Portugal e da Galiza. A peeira tem o dom de comunicar e controlar alcateias de lobos.

Hirãs
As Hirãs são seres do folclore popular português. São mulheres de cabeça muito grande e um corpo franzino. Quando a Hirã faz 12 anos de idade ela se metamorfeia em cobra e vai viver no mar. A Hirã é a ultima filha que nasce de sete irmãs.

Fontes: Wikipédia. - pesquisa obrigatória na obra de José Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal

Bibliografia:
Cuidar dos Mortos, de Carlos Alberto Machado
Crendices, Martins Sarmento
A Mourama, Martins Sarmento

domingo, 28 de outubro de 2012

The Infant Jesus in a Baby Walker


“The Holy Family at Work. 92. From the Book of Hours of Catherine of Clèves, containing the prayers and litanies of the Mass in Latin, decorated with 157 lavishly colored and gilded illuminations by the Dutch artist, the Clèves Master, c. 1440, in Gothic style.”

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Ideia de Império



Império é força, trabalho e riqueza, é coragem, ideal e fé. Nunca poderia existir um império português baseado na candura. O império não se teria formado sem força, não teria nascido sem proselitismo idealista nem poder expansivo, sem luta, sem competição, e portanto sem sangue, nosso e de inimigos. Na formação do império português fomos grandes, muito grandes, porque dentro das ideias da época nos fizemos alguém no mundo, e poderosos contra a vontade do próprio mundo. Acolhemos amigos ou receosos da nossa inimizade, e esmagámos inimigos. Fomos bons e fomos maus, generosos e tiranos, justos e injustos, leais e traiçoeiros, valentes e cobardes, honrados e ladrões. Fizemos o que os outros fariam se pudessem, porque fomos em cada momento homens daquele tempo. Como homens de fé, quisemos espalhar nos infiéis a nossa crença, à força, e quem não aqueria aceitar tinha que morrer; era a época. Queimámos no mar navios cheios de inimigos, e o mesmo aconteceu a muitos dos nossos. Passámos a fio de espada populações inteiras e eles fizeram-nos o mesmo sempre que puderam. Uma vez o Vice-Rei mandou pulverizar num almofariz um dente de Buda apanhado em Ceilão e lançá-lo solenemente ao mar. Tadavia pelo dente venerado os cingaleses davam tudo o que quiséssemos. A fé teve mais força que a cobiça e as ofertas foram recusadas. Não se julgue, porém, que a atitude do Vice-Rei não provocou largos protestos dos católicos portugueses que viam na relíquia oportunidade de vantajosos negócios para as dificuldades financeiras do Estado. Quando tomávamos cidades ou navios, roubávamos, porque era legítimo naquele tempo como hoje, pelo direito de guerra, tanto que o rei decretava para o efeito do regimento das presas em que reservava para si o quinhão que lhe pertencia só por ser rei. Tudo isto é o Passado, nosso e de todos os mais povos e não fomos piores do que eles. Dizer que o Império se não fez e engrandeceu à sombra de interesses materiais é uma colossal mentira. Nem compreendo que isso se esconda, porque não temos culpa de que os nossos antepassados se não guiassem pelas nossas ideias, nem eles são culpados de termos relegado as suas. O mundo progrediu e nós também. Portugal não é na Lua e tem sempre acompanhado o mundo e o desenvolvimento da civilização.

Alexandre Lobato, Aspectos de Moçambique no Antigo Regime Colonial

O Santo


 

 "(...) a liberdade, em despeito do determinismo inflexível da natureza, não é uma palavra vã: ela é possível e realiza-se na santidade. Para o santo, o mundo deixou de ser um cárcere, ele é, pelo contrário, o senhor do mundo, porque é o seu supremo intérprete. Só por ele é que o Universo sabe para que existe: só ele realiza o fim do Universo." 

 Antero de Quental, Carta a Wilhelm Storck

Os Inimigos da Família



But there is, curiously enough, a third thing of the kind, which I am really inclined to think that I dislike even more than the other two. It is not the Communist attacking the family or the Capitalist betraying the family; it is the vast and very astonishing vision of the Hitlerite defending the family. Hitler's way of defending the independence of the family is to make every family dependent on him and his semi-Socialist State; and to preserve the authority of parents by authoritatively telling all the parents what to do. 
His notion of keeping sacred the dignity of domestic life is to issue peremptory orders that the grandfather is to get up at five in the morning and do dumb-bell exercises, or the grand mother to march twenty miles to a camp to procure a Swastika flag. In other words, he appears to interfere with family life more even than the Bolshevists do; and to do it in the name of the sacredness of the family. It is not much more encouraging than the other two social manifestations; but at least it is more entertaining. 

 THREE FOES OF THE FAMILY, GK Chesterton.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fundamentos de uma Nação Bélica

As ordenanças constituíam outra das instituições relevantes da sociedade local portuguesa, certamente uma das mais originais. Todo o reino se encontrava dividido em capitanias-mores de ordenanças, coordenadas por um capitão-mor, que devia ser o senhorio donatário ou alcaide-mor em terras onde existisse, coadjuvado por um sargento-mor. Cada capitania-mor dever-se-ia subdividir num número variável de companhias de ordenanças, chefiadas pelo respectivo capitão, com o apoio de outros oficiais. À hierarquia das ordenanças competia ter arrolados todos homens maiores de 16 anos, exceptuando os privilegiados e os velhos, para que pudessem, quando solicitados, ser recrutados para o exército de 1 . a linha ou ainda para operarem localmente como milícias quando tal fosse necessário, pelo que deviam reunir-se regularmente para receberem treino militar. Os ofícios de capitão-mor e de sargento-mor conferiam sempre nobreza vitalícia, qualquer que fosse a dimensão da capitania (os restantes, apenas enquanto eram exercidos), e exigiam um grande empenho a quem os exercia, pela natureza das tarefas requeridas e pela duração indeterminada do ofício. A estabilidade do ofício e o tremendo poder do recrutamento militar, de que eram depositários os seus detentores, constituem aspectos fundamentais para a caracterização desta instituição, ciclicamente criticada pela sua ineficácia e pelas opressões a que dava lugar . 


 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime,

sábado, 15 de setembro de 2012

Pela encosta acima.

Guy adormeceu por breves instantes. Depois Ivor disse: « Guy, o que é que tu farias se te desafiassem para um duelo?»
«Ria-me.»
«Pois. Claro.»
«Porque é que te lembraste disso agora?»
«Estava a pensar na honra. É uma coisa que muda com o tempo, não é? Há cento e cinquenta anos, se alguém nos desafiasse, teríamos de lutar. Agora ríamo-nos. Deve ter havido uma altura, aí há cem anos, em que esta pergunta seria um tanto incómoda.»
«Sim. Os moralistas religiosos nunca conseguiram pôr fim aos duelos - só a democracia o conseguiu.»
«E na próxima guerra, quando formos inteiramente democráticos, suponho que será perfeitamente honroso para um oficial abandonar os seus homens. Será o dever proscrito nas Ordenações Reais - a fim da manter intactos os cadres capazes de dar instrução às futuras levas de prisioneiros.»
«É provável que os conscritos não apreciem a ideia de serem treinados por desertores.»
«Num exército verdadeiramente moderno, não achas que o facto de eles terem dado à sola os tornaria mais dignos de respeito? Parece-me que o nosso problema é vivermos num período incómodo de transição - como um homem desafiado para um duelo há cem anos.»
Guy via claramente o rosto amigo ao luar, o seu rosto austero, calmo e composto, apesar de pálido, tal como o havia visto nos Jardins Borghese. Ivor levantou-se e disse: «Bom, o caminho da honra é pela encosta acima», e foi-se embora.

Evelyn Waugh, «Oficiais e Cavalheiros»

Guernica

texto de J. Luís Andrade


Com o intuito de dourar a pílula, Guernica é sempre apresentada como uma área aberta, sem o menor interesse militar, o que, como já vimos, não correspondia à verdade. Para marcar ainda mais a imagem de idílica localidade e, quiçá, aumentar o hipotético número de vítimas, fala-se ainda do facto de o dia 26 de Abril ter sido dia do mercado semanal a que haviam ocorrido todos os lavradores da região; assim, o descontraído e pacífico encontro rotineiro, teria sido dispersado pelo inesperado e mortífero ataque da aviação alemã. A realidade, porém, é que o mercado bem como o jogo de pelota que normalmente lhe sucedia havia sido cancelado face à proximidade da frente, a menos de 15 Km, e à avalanche de tropas bascas em retirada, apenas tendo estado presentes um pequeno número de lavradores inadvertidos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Agradecimento

Pude experimentar vários estilos de texto: crónicas, críticas, poemas, provocações;
tanta coisa por aqui passou.
Inventei discursos, propus temas, discuti valores.
Foi uma forma de mostrar ideias, problemas literários, paradoxos de vida.
Desafiei-me. Só ganhei com isso.
Conheci pessoas e lugares.

Descubri-me.

Obrigado Manel.



P. S. Ganhaste um espectador Portuguez.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um Rei

in Dragoscópio
Um rei não me representa (senão teríamos, em vez duma teia de representantes múltiplos, uma trama de representante único): um rei simboliza-me, congrega-me, confere-me sentido enquanto povo. Serve de elo vivo entre o passado e o futuro, entre o sagrado e o profano, entre o que nunca muda e o que muda todos os dias, entre os mortos e os vivos, os antepassados e os vindouros. O rei é, não faz de conta. É um algo acima e para além da sua pessoa e de todas as nossas pessoas. A limite, pois, o rei não é derrubável ou cancelável por qualquer surto efervescente de turbamultas mais ou menos orquestradas ou noctiluzes. Não, o que é, de facto, é traível: a começar pela pessoa dele próprio, se aceitar, vilmente, a canga ou a mutilação. Se, em vez de príncipe de homens livres, se degradar ao Primeiro dos escravos da puta da Lei. Rex é regra e a regra está acima, antes e para lá da lei. Ou não está. E depois pode ser atraiçoado por todas essas pessoas que não apenas se proclamam republicanas, como, e se calhar pior um pouco, se apregoam "monárquicas", isto é, adeptas do pseudo-regime. Ora, a república que é ela senão o estado e consequência última da deterioração da monarquia? Aliás, entre nós, que tem sido a república senão um proliferar de pseudo-reizinhos ao colo dum feudalismo de Estado?

domingo, 15 de julho de 2012

O homem que cunhava moedas

Certa tarde, deveras quente, com pouca brisa
certo carácter inconsciente irrompe pela crista
com poder mágicos, sólidos e inefáveis
controladores aéreos que escapam aos radares.

Este homem de que vos falo
era conhecido por cunhar moedas
gostava de ir comer à Cunha
mareava raridades.

Neste texto, que celebra coisas tão mundanas e profanas
quanto o podem ser as capicuas

este vosso benfazejo bem-feitor
compõe uma sonata
com nata
dos Açores

pois se esta terra fica mais perto de Louisiana
terra onde reina o Sr. Cunha.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Para si, Camões

No ano do leão, reinava pacificamente uma volatilidade no ar
que nem o Cupido conseguia apanhar
No ano do pombo-torcaz, reinava alegre e lentamente uma maresia florentina
que nem a Vénus era consentida permissão para ser menina

No meu tempo, o tempo tinha tempo para ser menino
No tempo dela, a franja que ela não tinha era cretina

No canto da mesa
o copo
No ramo da presa
o tolo

"Mas ela reina?"

"Em várias flamas variamente ardia"

terça-feira, 10 de julho de 2012

Um dia em Louisiana

Cucu Mr President, you have a call

"Who is calling?"

It is your life, Sir.

--//--

O bule estava quente, já tinha sido escaldado vezes sem conta, mas o seu conteúdo nunca tinha sido vertido para uma chávena, por mais simples que fosse.

Havia até quem desconfiasse que alguma vez o bule fosse usado para o que realmente era o seu dever.

Um dia, uma menina de modos simples pegou no bule.
Esse bule nunca mais se esqueceu das mãos que pegaram nele.

"E a chávena? Que aconteceu à chávena, avó?"

It is your life, Sir.

domingo, 8 de julho de 2012

PassarElle

Beleza não rima
nem com grandeza
nem com fineza
nem com princesa

Beleza nem rima
com fraqueza
com rudeza
com tristeza

Beleza só rima com Beleza.

Belzebu é único.

Belzebu rima com Beleza.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A mulher que tinha um gato

Onde é que eu já a vi?
parece-me que é uma Anabela
que conheci há muito e muito tempo
não lhe vou falar lembro-me eu melhor
das outras pessoas do que elas de mim
e não tenho nada para lhe dizer
parece-me daquelas pessoas
que não vão a uma loja para comprar coisas
mas para serem compradas pelas coisas
que será feito da mãe da Anabela?
estava convencida de que o mais importante
a fazer nesta vida era ser a esposa
de um sócio gerente da fábrica de
impermeáveis Parabellum inquiria
antes de convidar as meninas que a Anabela
conhecia o que é que os pais dela faziam
o teu aspira a sala? não faz nada?
o teu é escritor? mas isso dá alguma coisa?
o teu morreu? já não faz nada!
só o pai da Anabela fazia
alguma coisa que dava alguma coisa
a Anabela é que já deve ter descoberto
que os impermeáveis Parabellum
não fazem a felicidade de toda a gente

Adília Lopes, "Obra"

Entrevista no jornal "A Voz de Ermesinde"

Entrevista realizada a um músico de grande valia.
Edição online aqui.

Editada em "acordês" de acordo com os princípios adoptados pela redacção do jornal, mas enviada em português pelo autor.

3ª entrevista feita pelo autor a músicos residentes ou provenientes de Ermesinde.

quinta-feira, 21 de junho de 2012




Marcher des heures à travers la forêt
Respirer par le nez, se retourner jamais
Mettre un pied devant l'autre pour trouver le repos
Poser les balises d'un monde nouveau
À la tombée du jour, atteindre la clairière
Ermite volontaire évadé de l'enfer
Faire une prière et faire un feu de bois
Boire à la rivière pour la première fois
Déplier la toile pour s'en faire un abri
Briser le silence en poussant un grand cri
Crier à tue-tête pour entendre l'écho
Et compter les étoiles couché sur le dos
Baigné dans la lumière d'une aurore boréale
Réaliser que la beauté est sidérale
Ralentir le rythme de la course folle
Folâtrer un instant sans but, sans boussole
Sentir le vent caresser son visage
Ajuster sa mire, se fondre au paysage
Ajouter des secondes au film de sa vie
Vidanger son cerveau, tomber endormi
Plonger dans le lac du pays de Morphée
Féconder la terre où germent les idées
Débusquer dans le bois le grand caribou
Boucaner dans la pipe du bon Manitou
Chanter avec le lièvre, le renard et le loup
Louvoyer vers la cache du carcajou
Jouer de la vielle avec un farfadet
Descendre dans la grotte avec les feux follets
Laisser la poésie décider de son sort
Sortir au matin et accepter la mort
Mordre dans la vie sans penser à demain
Maintenir le cap tout droit vers son destin

Heresia

"YOU hold that your heretics and sceptics have helped the world forward and handed on a lamp of progress. I deny it. Nothing is plainer from real history than that each of your heretics invented a complete cosmos of his own which the next heretic smashed entirely to pieces. Who knows now exactly what Nestorius taught? Who cares? There are only two things that we know for certain about it. The first is that Nestorius, as a heretic, taught something quite opposite to the teaching of Arius, the heretic who came before him, and something quite useless to James Turnbull, the heretic who comes after. I defy you to go back to the Freethinkers of the past and find any habitation for yourself at all. I defy you to read Godwin or Shelley, or the deists of the eighteenth century, or the nature-worshipping humanists of the Renaissance, without discovering that you differ from them twice as much as you differ from the Pope. You are a nineteenth-century sceptic, and you are always telling me that I ignore the cruelty of Nature. If you had been an eighteenth-century sceptic you would have told me that I ignore the kindness and benevolence of Nature. You are an Atheist, and you praise the deists of the eighteenth century. Read them instead of praising them, and you will find that their whole universe stands or falls with the deity. You are a Materialist, and you think Bruno a scientific hero. See what he said, and you will think him an insane mystic. No; the great Freethinker, with his genuine ability and honesty, does not in practice destroy Christianity. What he does destroy is the Freethinker who went before." 

G. K. Chesterton: 'The Ball and the Cross.'

Escólios

Humilhar aqueles que imploram o perdão de Deus é tão "rebelde" como tratar injuriosamente a quem pede que lhe poupem a vida. É um atentado contra a misericórdia e, por sinal, uma declaração de ódio à Humanidade, naquilo que tem de humano e divino.

Viagem

O beijo da quilha
na boca da água
me vai trocando entre céu e mar,
o azul de outro azul,
enquanto
na funda transparência
sinto a vertigem
da minha própria origem
e nem sequer já sei
que olhos são os meus
e em que água
se naufraga minha alma

Se chorasse, agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos


Mia Couto

terça-feira, 19 de junho de 2012

14/VI/012

Aí estava ela, com sua pose de artista
Nada mais nada menos que a cabeça poisada na mão direita de punho fechado, ensimesmada num braço esquerdo de base, suportando este uma mão inerte segurando (qual sinistra) o seu leitor de músicas preferidas, um tanto ou quanto belas demais para nomear mas que qualquer melómano adorará, quanto menos um melodramático como só o narrador deste quadro de sublime beleza o pode ser
Nunca se tinha visto tal alma sonolenta, tal tez de quem muito fez e que agora tem como lema a mudez

O autor destas palavras passou a ter um vício saramaguiano
Mas o que mais importa é que ele estava acompanhado
E o seu Amigo é de confiança, tamanha fiança se pode depositar na sua Razão Apostólica Romana que tudo isto vislumbrou e pode corroborar

Ao lado dela, uma janela para o terraço de uma letra
essa letra que de tão firme
tão íngreme me faz desfalecer
L
mas fiquem a saber
que a cor branca de sua face
reluzente pelo finar do pôr-do-sol
me lembrou outra letra
C

e, por instante, ao mundo apeteceu captar tal nudez de espírito
e ombrear com essa figura feminina, na tranquilidade de um ser que quer ter
uma vida de grandeza
menina aplicada
menina desprendada

domingo, 17 de junho de 2012

Questões de Gramática

Depois de ler Manoel de Barros

à varanda

O ser humano é o ser mais incompleto de todos.
Por ter a capacidade de pensar, não consegue criar esse mesmo pensamento sem o ter que comparar com elementos da Natureza.
O mesmo ser que tem necessidades de comparar os seus feitos aos dos Deuses mitológicos.
O mesmo que precisa de uma profecia de fé para que os seus actos tenham alguma razão (que paradoxo tão bonito: fé para ter razão) de ser.

Precisamos de estar sempre acima do chão, precisamos sempre de preencher a necessidade de passar sobre o chão sem que ele dê conta. Por que saltamos, por que olhamos o céu, por que voamos?
Precisamos de construir em altura para que mais pessoas estejam "em cima" do mesmo solo, do mesmo pedaço de terra, em vez de alargar no horizonte o sonho sem procurar alcançar o Sol.
Era preciso, tinha de ser - dirão alguns.
Mas hoje, será preciso, será que tem de ser assim - perguntará uma consciência desperta para o poesia como algo aparentado a um "inutensílio".
Uma veleidade assim - a adoração e palpabilidade dos elementos da Natureza da nossa vida, pela verve de Manoel de Barros - deve ser agradecido com uma Fiore di Lino

Canção popular italiana | Fiore de Lino | Joaquim dos Santos

 

 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sobre a Missa em Dó

Beethoven: "O Kyrie contém uma profunda submissão, um autêntico sentimento religioso; sem ser triste, reina no todo uma grande doçura. Há, portanto, muita alegria em tudo isto. O Católico vai ao domingo à Igreja, alegremente ataviado. O Kyrie é uma introdução a toda a Missa e uma certa expressão demasiado forte deixaria poucas possibilidades para os passos em que tal for necessário."

Manuel Faria: "Ora, cremos bem que estas palavras além de exprimirem uma convicção profunda e clara, são até lição perfeitamente válida ainda para os católicos de hoje em dia"

Schindler (amigo de Beethoven): "No dia 20 de Abril de 1823 estávamos à mesa, ali pelo meio dia. O intendente da condessa Schefgotsch veio com a partitura de um novo texto para a primeira Missa (aquela em Dó, Op.86). Beethoven abriu o manuscrito e começou a ler rapidamente. Quando chegou ao Qui tollis do Gloria, as lágrimas começaram a banhar-lhe as faces. Ao Credo começou a chorar fortemente e teve de interromper a leitura. Dizia: «sim, sim - foi o que senti, quando escrevi»."

Romain Rolland: "Que dizia a paráfrase alemã do Qui tollis? Isto:
- Ele aguenta com terno amor, com fiel graça paterna, cheio de piedade, o próprio pecador...
Ele é o apoio dos fracos, o auxílio dos oprimidos, a esperança dos cansados de viver. Nenhum lamento chega até Ele em vão. Nenhuma lágrima cai no vácuo..."

Manuel Faria
Beethoven Compositor Católico
Separata da revista Cenáculo
Braga -1977

domingo, 10 de junho de 2012

A Verdade da Poesia

 O Artista
para o claudio

Da saleta na luz esmaecida
O perfil se lhe esbate, eterizado.
Toca... e o seu gesto é, como o som, alado...
E a música é mais funda e mais diluída...

Em tarantela mágica no ambiente
Erram, presos a um único destino,
Os silfos e os acordes do violino...
Fremem anceios, misteriosamente...

Toca... Do seu olhar a ígnea chama
Constroe, alenta e, prodiga, derrama
Magas vidas que bailam em redor.

E escutando-o, nessa hora de beleza,
Meu coração mordido de incerteza,
Reencontra com a paz um novo ardor.



António Carneiro
Solilóquios
Sonetos Póstumos

terça-feira, 5 de junho de 2012

Obrigado eu



Aos quadris da vida preciosa
a pulsação descarrilou
a comoção povoou
aos céus voltou

Por oração
com simpatia

Dedico a quem da amizade
uma amiga minha para sempre
tinha afeição e amor

Que a obra de Deus
Madre
seja homenageada
Mãe.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Deus dos cristãos

Aconselho vivamente a leitura de

O Excesso do Dom


de João Manuel Duque

Editado pela Alcalá, em parceria com Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa
Maio de 2004

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cortina de criança

Vou vos contar um segredo.
Por favor não contem a ninguém.
É segredo.

Havia uma alma bem bonita, por fora e por dentro.
"Por fora do quê, Mãe?"
Por fora da pele, meu filho.
"Por dentro do quê, Mamã?"
Por dentro da terra, da inconsciência, do amor.

Ela falava defronte da janela.
Seu filho já se tinha emigrado para o céu junto ao Rio Douro, naquele lugar onde era muito costume concretizar o pedido feito a Deus para terminar a vida de desespero de forma fluída, rápida e esvoaçante.

Ela roçava o desamparo de virgem.

Seu Pai lhe dava muita força.
Ela era muito devota.

Ora,
meu amigo,
se ainda não descobriste o segredo,
não serei eu quem to irá revelar.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti (1970-2012)

Oiço-o.
Parado, olhando as águas de Espinho.
Finjo que não o conheço.
Mas não me esqueço que o seu Retrato das Cantigas do Maio, Avec le Temps, me fazem dar Gracias a la Vida.

Desculpa-me.
Eu não te mereço.


Obrigado José Almeida por te lembrares, por o felicitares, por escreveres.

Obrigado Pedro Burmester.
Obrigado Fausto Neves.
Obrigado Helena Caspurro.

sábado, 5 de maio de 2012

Dia da Mãe

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.

"Fonte" de Herberto Hélder

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Princípio do Provocatório X

É elementar, meu caro Watson,
quando a fome é tanta,
a plebeia desconfia.

Pela verdade dos factos se mostra a vontade dos actos.
Só diz a verdade quem tem a vontade.

http://omeuamoreglandular.blogspot.pt/2011/02/apontamento-oitavo.html

Paixão? Sim, num copo de vinho do Porto

Fico triste quanto os meus amigos ficam tristes.
Fico triste quando o meu melhor amigo não está com sua esposa.
Fico triste quando a mulher do meu melhor amigo não está com seu marido.
Fico triste quando me lembro que já fui contente, alegre, esfuziante, dramático, carismático, sôfrego de vida, alma mater de mim mesmo.
Fico triste quando sei que fico triste.
Fico triste quando denoto que estou triste.
Fico triste quando sei que sei que fico triste.
Pela raiva contida numa pauta eu me vergo perante sua eminência, a Música.
Pela calma da voz seguinte eu me contenho em meu despudorado sofrimento.
Fico triste quando não compreendo a minha própria argumentação, quando noto que fui enganado por mim próprio vezes sem conta, que todo o meu esforço foi em vão, que esse alguém mestiço, violento e de candeias às avessas, como só umas pestanas altas, elegantes de tão austeramente brilhantes, com a clareza de um olhar que nada diz, de tão belo e fútil que é, como só essas pestanas podem parecer ser sérias.

domingo, 29 de abril de 2012

Em dia de Abrilada



O que diz Pátria mas não diz glória
 Com um silêncio de cobardia,
 E ardendo em chamas, chamou vitória,
 Ao medo e à morte daquele dia.

 A esse eu quero negar-lhe a mão,
 Negar-lhe o sangue da minha voz,
 Que foi ferida pela traição
 E teve o nome de todos nós.

 O que diz Pátria sem ter vergonha
 E faz a guerra pela verdade
 Que ama o futuro, constrói e sonha
 Pão e poesia para a cidade.

 A esse eu quero chamar irmão
 Sentir-lhe o ombro junto do meu
 Ir a caminho de um coração
 Que foi de todos e se perdeu.

 António Manuel Couto Viana

10 Mandamentos errantes, numa coroa de barro

Anda, não fujas, não cambalearás
não acentuarás
não dançarás
não comungarás
não abanarás
não saltarás
não precisarás
não mostrarás
não perseguirás
não cairás

sábado, 28 de abril de 2012

História de vida

lá estás tu a fazeres-me corar

seu ser visceral

a análise galopante por entre as cortinas do saber

chegando o dia da grande batalha
"esse dia estará próximo, menina?"

há coisas
tão bonitas!

que eu saiba, África não faz assim tão mal às pernas
mas sim, com suas planícies e desertos
silêncios brumosos
cavam sepulturas de solidão
das esfíngies desgrenhadas
de tal sal debruado
como camisas de alecrim
envoltas num capricho
de mulher

domingo, 15 de abril de 2012

Alice no País do Inspector

No céu o mais leve arco-íris: era o anúncio. A manhã como uma ovelha branca. Pomba branca era a profecia. Manjedoura. Segredo. A manhã preestabelecida.
Ave-Maria, gratia pela, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictum frutus ventri tui Jesus. Sancta Maria Mater Dei ora pro nobis pecatoribus. Nunca et ora nostrae morte Amen.
Padre Jacinto ergueu com as duas mãos a taça de cristal que contém o sangue escarlate de Cristo. Eta, vinho bom. E uma flor nasceu. Uma flor leve, rósea, com perfume de Deus. Ele-ela há muito sumira no ar. A manhã estava límpida como coisa recém-lavada.


(Onde estiveste de noite)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ritmo e vida quotidiana

Existe um tempo para tudo,
um tempo para construir,
um tempo para destruir,
um tempo para chorar,
um tempo para rir,
um tempo para procurar,
um tempo para perder,
um para se estar em silêncio e um tempo para falar...


Eclesiastes

Homenagem

Em sua honra
No seu dia

Pe. Joaquim dos Santos nasceu a 13 de Abril de 1936

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Monarquia e os Jovens

Recentemente uma jornalista do JPN entrevistou-me, e a outros jovens estudantes, para um artigo sobre a monarquia entre os jovens. Os resultados estão à vista aqui e aqui, com a ressalva que é afirmado num desses artigo que conclui a minha licenciatura em Direito, o que não é verdade.

Coloco aqui na íntegra no blogue as minhas respostas.


- Como e quando entrou em contato com a causa monárquica?

O primeiro contacto com a ideia monárquica costuma ser dado em casa. No meu caso, apesar de conhecer alguns antecedentes familiares monárquicos, o meu primeiro contacto com a monarquia, de um ponto de vista intelectual e teórico, deu-se no meu primeiro ano de Direito, no seguimento do estudo de Ciência Política. No entanto, o meu pensamento monárquico só começou a conhecer uma deriva "pouco comum" a partir da leitura do livro de Erik Kuenhelt-Leddihn, "Liberty or Equality".

- O que o atraiu na Monarquia, e porque é que considera que seria uma melhor forma de governo?

O que atrai na monarquia é o facto de, ao contrário de todas as restantes formas de governo, fazer sentido. É mais fácil explicar a uma criança o dever de honra, fidelidade e amor a uma figura paternal como o rei do que ensinar o mesmo tipo de sentimentos por um órgão de soberania eleito com determinada regularidade, seja esse órgão composto por um presidente ou por um "palramento". É claro que a contra-argumentação passa por dois pontos essenciais: há aqueles que são plenamente contrários à paternalidade, e exigem o total relativismo e impessoalidade das relações políticas (e até familiares!), como se a constituição política de uma nação fosse apenas o compêndio da vontade das gerações cotemporâneas. Com esses não há discussão possível, pois o ponto de discórdia é uma questão de princípios morais. A outra contra-argumentação surge da possibilidade de o Rei não estar à altura dos seus deveres políticos "paternalistas". Ora, da mesma maneira que não existem pais e mães perfeitos, não existem soberanos perfeitos. É o fundamento moral da monarquia que a justifica: o amor filial que temos ao nosso país surge assim com uma representação pessoal, familiar e típica do quadro de valores que a maioria da população, por circunstâncias históricas e humanas, partilha.

- Tens muitos amigos monárquicos, ou nem por isso? Como reagem os outros colegas ao facto de ser monárquico? Compreendem a sua opção?

É mais fácil para um monárquico ter inimigos monárquicos do que amigos monárquicos. Uma vez que os chamados "monárquicos" e as "causas monárquicas" são receptáculos de frustrações e ambições desmedidas de alguns meninos das classes altas, o ambiente habitual nesses lupanares raramente é coisa saudável para a criação de uma teoria intelectual portuguesa, popular e coesa. O crescimento actual das Reais Associações deve-se apenas ao actual mal estar nacional, económico e social, que consegue forçar o típico "monárquico" a engolir alguma das suas "manias" e a juntar-se em comunidade com outros como ele. No entanto, o número de tradicionalistas entre as hostes monárquicas tem vindo a aumentar, com um crescimento muito pequeno mas sustentável.
Em relação à segunda pergunta, as reacções não são muito díspares: ou ignoram, ou se opõem. Já tive de me afastar de um evento devido ao facto de a presença de um "monárquico reaça" os incomodar mais do que a presença de um comunista.

- Como é que imagina um Portugal monárquico? Era possível a implantação de um regime monárquico actualmente em Portugal? De que forma seria útil para resolver a crise económica, política e social que o País atravessa?

Não imagino Portugal de outra forma sem ser monárquico. De tal forma é assim, que o que existe hoje é a República Portuguesa e não Portugal. A implantação de um regime monárquico é tão possível quando a implantação de um regime parlamentar, presidencialista ou tribalista. Com a propaganda certa, com o apoio do exército e da conjuntura económica tudo se faz. Pode ser instaurado um regime monárquico em Portugal com o acordo das restantes potências mundiais, basta querer e querer com muita força. É claro que isso não resolverá, de maneira nenhuma, os problemas do país. Esses problemas não são meramente económicos ou sociais. Há toda uma recuperação do espírito português que tem de renascer e fortalecer, e a consequência de se ensinar à Pátria aquilo que ela significa é a monarquia. Ao contrário dos constitucionalistas, não vejo a monarquia como o fim do problema em que vivemos, mas como o fim da solução que precisamos.

- Está a ponderar apenas apoiar a ideologia ou intervir ativamente num futuro próximo?

Não pretendo fazer nada em prol da restauração da Monarquia porque o país não está preparado para uma Monarquia. Trocar o Presidente da República por um Corta-Fitas honorário e hereditário (nem se pode dizer hereditário quando a sucessão do rei depende, exclusivamente, de uma lei sucessória disponível a alterações pelo Parlamento) não é restaurar a Monarquia. Aquilo que eu pretendo fazer, e aconselho que outros monárquicos como eu o façam, é que se apliquem nas suas áreas de estudo, sejam bons profissionais e procurem pelo exemplo dar a este país aquilo que ele precisa. Questões de Coroas e Princesas são claramente secundárias quando estamos perante um país a viver num completo interregno histórico, sem "rei nem lei, nem paz nem guerra".

terça-feira, 10 de abril de 2012

Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
dir-te-ei da forma que nunca mais irei dizer tal fogacho de forma tão intensa
tão rebuscada e tão cósmica
de tal virilidade será depositária outra pessoa, outra alma.

Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
se me concederes o privilégio de figurar na tua memória momentânea
toldado estará o espírito de te ver lacrimejar furiosa
rancorosa com o Mundo que eu não conheço

Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
num local que me foi dado a conhecer no Novo Mundo por vós
que de vós eu tomei a liberdade de ficar triste
pois que os amigos ficam assim

Se um dia trocares tristeza por beleza
eu vou pedir um instantâneo Isabelino
irei fazer uma festa dantesca
falarei até me rir

Se um dia eu ficar triste
irei lembrar-me dos meus amigos
e ficarei de memória falado
das palavras que te disse.

sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa

É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a radicalidade do ser. À luz disto, creio justificado o meu apelo veemente e incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela unidade profunda que as tornem capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca autonomia. Ao desassombro da fé deve corresponder a audácia da razão.

Sumo Pontífice João Paulo II

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves