terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Amor Desesperado

O grande problema da defesa da identidade e da tradição é ser feita por homens desapaixonados.
Perante uma turba enlouquecida por uma sentimentalidade oca e consumista, de satisfação rápida e egoísta, a levantar as bandeiras e os estandartes do aborto, do casamento homossexual, da adopção gay, a propaganda do "se EU sou assim, quem ME pode impedir?", o que pode um homem meramente calculista, agarrado à prudência dos velhos e dos cansados?
Nada.
A defesa da identidade faz-se por almas apaixonadas, capazes de encher o coração, por uma vez que seja, de irracional bondade e sacrifício, de um amor incondicional que só conheça a entrega total de um coração em chamas.
Essa generosidade é sempre jovem, sempre alegre, cantando no caminho para o holocausto, tem como vontade suprema agradecer a gratidão de um espírito maior.
A Pátria deve ser livre, acima de tudo e todos? Deve, porque me deu tudo o que tenho - a língua, o local, o sentimento, a raiz.
E quantas vezes não são os próprios responsáveis por esta árvore, que é a tradição, os primeiros a envenenar as suas raízes?
Os velhos com mentalidade de cachopos, os curas com mentalidade de doentes. Lembro-me de viajar por uma terra em que o padre se orgulhava da sua luta contra as carpideiras, as mulheres a quem se pagava para que chorassem os mortos. Como se chorar não fosse uma ocupação nobre, como se a lágrima não fosse um presento cheio de beleza à memória de um morto.
A tradição dessa terra ditava que não se poupassem esforços a chorar a morte de um dos seus. Não se desprezavam lágrimas algumas, nem as da saudade nem as de obrigação. Mas a planura árida do sentido de estética estéril de um padre, infelizmente, conseguiu fazer prevalecer sobre a honestidade de uma crença local.
Deve assim o casamento entre homem e mulher ser a base da nossa sociedade? Sim, porque nestes dois opostos indestrinçáveis é que se encontra o segredo da sociedade, da família, da comunidade.
Deve o trabalho ser protegido, os nossos conterrâneos favorecidos no seu lar, as nossas instituições prevalecer sobre os interesses estrangeiros, sobre a ganância dos ricos?
Sim. Porque o que é nosso é maior do que nós, porque aquilo que merece ser protegido vale mais do que todo o dinheiro do mundo. Que um pai e uma mãe eduquem os seus filhos é mais valioso para um país que um arranha-céus pejado de escritórios de advogados e economistas. 
E é a paixão que reside neste factor tão simples, neste recipiente de infinito amor, que reside a base de qualquer programa que defenda, acima de tudo, a identidade de um País.

Todos Jeitosos

Em qualquer outro país a criminalização do piropo daria lugar a abusos preocupantes. Portugal, contudo, nação velha que ainda forma juízes com o rigor desmedido e ineficaz dos tempos antigos, vai lidar com esta medida com o mesmo espírito com que lida com a maior parte da legislação social proposta pela esquerda desde 1820 - vai permitir um burburinho inicial, aplicar a sentença na íntegra a alguns pobres incautos para depois, mais tarde, deixar a lei cair em letra morta, permitindo que o país volte à sua normalidade preguiçosa e meridional.
A coisa boa de terem impedido, quase definitivamente, que este país melhore para qualquer mediocridade decente, é que também o tornaram impermeável a tornar-se numa qualquer utopia de merda.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sublime Portas

Portas foi o único político português deste século que conseguiu criar a oportunidade de um partido conservador em Portugal que não estivesse dependente das infra-estruturas do Estado.
Foi também a causa pela qual esse partido conservador nunca existiu de facto.
Portas ligou com mestria um eleitorado católico e tradicional a um quadro partidário essencialmente liberal e individualista. Nas bases desse quadro, atraiu para o seu partido empresários, capitalistas, toda uma jovem geração de jovens empreendedores anti-Estado e de pensamento anglo-saxónico.
No entanto, Portas é e sempre foi um patriota, francófono, conservador, amante das coisas portuguesas, anti-burguês, alérgico ao empreiteiro novo-rico de meia branca que tomou conta do PSD. Entre os seus heróis de ficção está o mercenário e aventureiro anarquista Corto Maltese.
Criou o jornal mais controverso da segunda metade do século XX.
Podia e devia ter sido o Gandalf da Direita Portuguesa.
Mas não foi, porque não quis e porque não deixaram. Afinal de contas, no mundo medíocre da política portuguesa, dominado pela inércia social democrata e a inaptidão socialista, Portas era um gigante entre anões, mas um gigante muito só.
Um gigante que ameaça agora fazer uma sesta. Veremos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Entre a Revolução e a Tradição - uma herança, um contributo, para um pensamento político português

«Anti-comercial queria dizer, para aquele agente consular britânico (Hoppner), que o Portugal tradicionalista entendia ser selfsufficing, isto é, prover às suas necessidades com a sua própria produção agrícola e industrial, o que era o meio mais seguro de consagrar sua independência política zelando sua independência económica.
Não havia, segundo Hoppner, ninguém mais nativista do que o próprio Rei (D. Miguel), que ele compara com Marat e Robespierre e cujo ideal seria "obrigar os ingleses actualmente estabelecidos em Portugal a deixarem o país", suspendendo para este efeito as relações comerciais entre as duas nações, como o "exigiam os compromissos que o ligam a Espanha". Unidas com tal intuito, as duas potências estabeleceriam nesta parte da Europa um verdadeiro bloqueio continental. Era uma vez o comércio inglês com a Península Ibérica se D. Miguel triunfasse, mesmo reconhecido pela Grã-Bretanha, o que julgaria haver sido uma deferência à Espanha.»
Oliveira Lima, D. Miguel No Trono (1828-1833). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1933,pág. 177-178

domingo, 22 de novembro de 2015

Lei da Abdução

A recente vitória LGBT no parlamento português foi uma grande vitória para a geração Tumblr lusa e para a decadente burguesia endinheirada do portugalório.
Relembrando as palavras de Alain Soral, a sodomia não é uma característica nem social nem política - ou seja, não define qualquer tipo de causa ou activismo. Logo, não se desenganem - o "gay" citadino e com dinheiro que vai ao Miguel Bombarda fazer compras continuará a ser um óptimo exemplo de como se pode educar um puto e aparecer nas festas do Gays'r'us, enquanto que o pobre paneleirote da esquina continuará a ser o tarado do sítio.
It's all about the money. E porquê?
Em Abril de 2011, segundo dados do DN, existiam no mês de Abril desse ano 1.879 candidaturas de casais e 385 individuais. No mesmo mês, em condições de serem adoptados estavam apenas 532 menores.
Em Dezembro de 2014, segundo um artigo do Público, havia um total de 1805 candidatos em lista de espera para adoptar e 429 crianças em situação de adoptabilidade - ou seja, o número de candidatos era quatro vezes superior ao número de crianças que podiam ser adoptadas.
Ninguém está a fazer legislação social pelas crianças. Estão a fazê-la para um pequeníssimo grupo de homossexuais com dinheiro suficiente para passar à frente das listas de espera e negar às crianças o direito a um modelo de maternidade e de paternidade. Modelo esse a que muitos dos "activistas" tiveram direito e agora querem ver recusado a outros.
Nós, o que somos aparentemente movidos "pelo ódio e pelo preconceito", não nos podem acusar de sermos movidos pela cobiça, pelo capricho, pelo egoísmo. Muito menos pela ignorância e ingenuidade de quem assiste indiferente à degradação da nossa cultura.

sábado, 21 de novembro de 2015

Uma vitória para a cultura


O Pasolini que Brunello Natale De Cusatis nos apresentou não foi um Pasolini "aos bocadinhos". Não foi um Pasolini para inspirar uma certa seita ideológica, para acalmar os espíritos hesitantes de algumas almas asmáticas. Foi um Pasolini repleto dos seus anjos e dos seus demónios, um marco autêntico da cultura europeia do século XX. Um homem avassalado pelos seus ideais de pureza e devassidão, pelo pecado, pela luxúria, pelo sofrimento dos seus apetites, um homem que se viu afastado pelos amigos e pelos camaradas devido às tendências das suas paixões. Um Pasolini marxista, mas independente, apaixonado pela América jovem e irreverente, um Pasolini que desprezava a Europa homologada, homogeneizada, onde o igualitarismo reduziu pela rama mais baixa o nível das mentalidades e das políticas. Um Pasolini em conflito com o sexo feminino e com a maternidade, mas apaixonado pela figura de Maria Callas e pela palavra de Oriana Fallaci. Um Pasolini contrário à cultura do "Ter, Possuir, Destruir", que via no aborto um homicídio legalizado fruto dessa cultura de consumismo e desumanização.
Sim, desumanização. Pasolini foi uma dessas grandes mentes que viu no ar a aproximação desse Mundo apocalíptico, cuja Europa de Bruxelas é a imagem simbólica e real, onde não existem Seres Humanos na Humanidade.

Mais uma vez, o Café Odisseia assume a sua posição na Vanguarda, sem fronteiras, sem respeitinhos mundanos, pura Acção para pura Palavra. Encheu-se uma sala para uma conferência numa faculdade portuguesa - cinquenta pessoas. Feito raro para um grupo que não goza do apoio de docentes nem de grandes máquinas institucionais de divulgação.
Tudo isto porque o Café Odisseia é um ideal indomável, inspirado pela bravura e pela sinceridade mais pura.
Obrigado a todos os que marcaram presença.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Choque bem-educadinho

A minoria de católicos que ainda se interessa "por temáticas em geral" acordou muito abismada.
O pânico foi geral, mas sempre muito controladinho, para não causar choque ou escândalo.
Era ver o cacarejar das colegiais: os bispos reuniram com os juristas católicos e lá pariram mais um lembrete, que todos estamos à espera de ignorar, perorando a legislação sobre aborto e adopção homossexual.
Amanhã vai ficar este grupo de gente nervosa muito impressionada com o facto de, num país onde 80% da população se diz apostólica e romana, ninguém querer saber da sua epifania moral.
Estou aflito por presenciar as lágrimas. 
Não se preocuparam quando o vendilhame político mandou ao ar a soberania, a indústria, a agricultura, a cultura. Que o estado se tornasse sorvedouro de receita e poleiro de interesses, nem lhes tirou o sono. E agora aparecem muito aflitas, porque o país não bate a bota com a perdigota. Resignem-se senhoras e senhoras, já perderam o país há mais de 60 anos. Pelo andar da carruagem, ainda perdem a nacionalidade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O amor, a morte e o tempo.

Il est malaisé de parler de l'amour car c'est parler de soi. L'amour varie avec les gens e suivant l'âge; nous lui attribuons les particularités mêmes de notre nature. Si j'en crois ce que j'ai lu je ne suis pas un amoureux. Assez rassis et bien portant, il m'arrive de rester seul à Paris, occupé de ce qui m'amuse, et d'oublier Claire. Je n'ai jamais  de fièvre, d'impatience aiguë, quand je vais la revoir. Je n'ai pas de doute sur elle, ni sur nos sentiments; je ne suis pas tourmenté, jaloux, querelleur, et je ne me sens pas incompris. Je souffre seulement de voir que le temps va détruire celle que j'aime si bien.

Jacques Chardonne, Claire. Paris: Rombaldi, 1975, pp. 48-49.

gravura: Almada Negreiros, A Sesta. 1939.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A esquerda, a pornografia e o capitalismo

Se há prova acabada que a Esquerda se apaixonou pelo Capital mais desumano e mais consumista é esta segunda edição do Fórum do Futuro que vai infestar o Porto. Isto já era óbvio - quem não viu a Coca-Cola e outras grandes multinacionais a defender e a propagandear o casamento homossexual?
Mas agora temos o argumento final, vendo as burguesinhas do bloco de esquerda às voltas com umas conferências que, além do conceito monstruoso de "brand love" (o amor às marcas comerciais, pelos deuses!), vão pôr uma "actriz pornográfica" a falar sobre arte.
Jean-Luc Godard, no seu "Masculin Féminin", pôs o brilhante Jean-Pierre Leaud a escrever na porta de um cubículo numa casa de banho onde dois homossexuais se beijavam "A bas la république des lâches". Abaixo a República dos Cobardes. Um golpe de génio que hoje em dia custaria a carreira do realizador, afogada em acusações de homofobia.
Também no Porto precisamos de um Jean-Pierre que rabisque, nas portas da conferência onde Sasha Grey vai palrar sobre “O Prazer na Arte”, ABAIXO A REPÚBLICA DAS PROSTITUTAS.

sábado, 31 de outubro de 2015

Acção e Pensamento

Horácio Vilela merece toda a publicidade por esta iniciativa. Dentro do pensamento independente da direita há um excedente de meninos com manias aristocráticas que vivem da fama rebelde do Politicamente Incorrecto. Remetem-se depois ao sofá, à guerrilha de teclado e ao azedume que espalham pelos seus correlegionários, empatando aquilo para o qual nada fazem por cultivar. Na sua vida de enfants terribles só há movimento e esforço para aquilo que lhes agrada e só enquanto lhes agradar.
O verdadeiro sacrifício de tempo, meios e saúde está nestas acções de divulgação, de manifestação política, de empenho em servir as instituições nacionais e ocupar, assim, um espaço de proeminência suficientemente visível para incomodar o poder estabelecido por detrás das câmaras e dos parlamentos, nos bastidores das Lojas e das sedes partidárias.
Na teoria só saltam as incongruências das doutrinas e as rivalidades pessoais - na acção é que se realiza a verdadeira política, é que se foram os verdadeiros laços de união e lealdade.
De salientar que Horácio Vilela falou abertamente em patriotismo, nas nossas raízes cristãs e na família lusa como guias da sua acção, uma acção que visa combater o descrédito nacional e a irresponsabilidade orçamental de uma Esquerda que vai deitar por terra os esforços dos últimos anos. Acção, por Portugal e pelos portugueses, pela integridade da Pátria e pelos negócios, vidas e sacrifícios dos portugueses, apoiada por um discurso limpo e sincero.
Além da minha admiração, revelo também a minha inveja, em competição amigável e construtiva, por não ter sido eu a dizer estas palavras:

"Não sou, nem nunca fui, militante de qualquer partido. Sou patriota, e como tal o meu partido é o bem de Portugal.
Há uma palavra que só existe em português e que exprime bem o ideal que Portugal deve reincarnar, a ‹‹saudade››. Esta palavra traduz um sentimento há muito perdido, de sentir falta de algo que ainda não conhecemos, que nos motiva para um regresso ao desconhecido, que nos dá o espírito do descobrimento. É a este espírito que os portugueses devem de regressar, o espírito de levar a pátria ao progresso mesmo não conhecendo o seu porto. Penso que o suporte ideal para tal espírito proliferar é o da liberdade e do dever. A liberdade para descobrir e o dever de o cumprir.
Portugal deve construir um sistema político que espelhe a sua pátria e não um franchise estrangeiro como o que actualmente vigora, que aliás não considero sequer o melhor exemplo para adoptar. Com muito melhores olhos vejo o sistema tripartido inglês de Monarquia, Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns. Os portugueses e principalmente os portugueses com voz política devem questionar-se se há hoje em Portugal um sistema em que a virtude reja e dirija. Se não o considerarem, como eu, tratem de promover o necessário para que tal se manifeste no futuro. Não em disputas partidárias mas na gestação de um novo sistema, um genuinamente português."

sábado, 24 de outubro de 2015

La noble bannière de la Patrie


PREConceitos ou lá o raio que os parta

Esta Direita que vive amedrontada com o PREC falha em ver as verdadeiras ameaças aos seus postulados. Normalmente, o despesismo das políticas estatais, quanto maior, mais danos faz. Assim, para a quantidade de capitais estupidamente desperdiçados entre 75 e 76, o PREC foi surpreendentemente inócuo. A lealdade do eleitorado alentejano, mais do que para com os efeitos dessa política, vai para os partidos, nomeadamente a CDU, que se tornaram os seus porta-vozes contra alguma elite terra-tenente lisboeta que tratava aquela província como o seu parque de diversões e a sua minazinha de ouro.
Se a Direita quiser saber quem é a culpada pelo crescimento do número de abortos, de divórcios, da violência urbana, do vandalismo, da precariedade laboral e do desrespeito pelos mais básicos direitos dos trabalhadores, da venda desbaratada aos nossos aliados da nossa soberania pode bem começar a apontar o dedo aos yuppies dos anos oitenta que implantaram cá a Sociedade de Consumo nos seus moldes mais desumanos, assim como toda uma nova ideologia bancocrática que nos tornou reféns dos mercados.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Misogenia e Sexismo no Estado Novo - Escravizar a Imagem do Feminino, no Livro da 3ª Classe.


O Kamikaze Angolano

As correntes de solidariedade do facebook têm um historial de ridículo suficientemente longo para que qualquer pessoa com juizinho se saiba manter afastado delas. Basta lembrar os patetas do "Kony 2012", os fanáticos dos leõezinhos e os maníacos da suposta "gaffe" do jornalista da RTP.
No entanto, Luaty Beirão é um cidadão português detido em condições desumanas por um regime tirânico. Fora o BE, não vejo mais ninguém a falar sobre isso. 
Da "direita" não se espera nada que não seja uma análise económica acompanhada de tabelas e um relatório em anexo, com erros ortográficos.
Compreendo que a CDU tenha interesses obscuros com os seus antigos amigos. Basta ver a forma como os professores universitários ligados ao PCP andam silenciosos sobre este tema depois dos comunistas terem recusado apoiar a moção de apoio passada na Assembleia Municipal lisboeta.
Já o PS, conta entre os seus fundadores e militantes mais antigos os principais apoiantes da descolonização de Angola e da entrega do poder absoluto deste país ao MPLA de José Eduardo dos Santos. Mário Soares, António Almeida Santos, etc.
Falta, por isso, saber o que se passa com os nossos revolucionários de Abril, mais as musiquinhas dos amanhãs que cantam. No facebook não faltam freedom fighters, mas os meninos e meninas com acesso ao horário nobre das televisões, sempre tão activos, evaporaram-se.
Parece que Portugal padece dos mesmos males que Angola.


"A Revolução é moda de zelosos cumpridores da lei e anda sempre janota, mete brinco, mete bota."

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Última Tule - Afonso Lopes Vieira

Luso era considerado como povoador e primeiro rei-pastor da última Tule...
Carolina Michaëlis

Última Tule
- que lindo nome para Portugal!
A derradeiro Ocidente
azul

Na Última Tule
as estrelas afundam-se no mar;
cada um atira a sua taça ao mar
azul

Cada um morre então
tonto, tonto de azul
Assim as almas e as estrelas vão
na Última Tule.

Situar-se...

Se por acaso se encontrarem na capital, de preferência com algum tempo livre, metam-se no metro e saiam no Martim Moniz. De lá, subam a Rua da Palma, passem o Núcleo Fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa e parem no número 270. Nessa pequena e bonitinha moradia alfacinha está a sede do Bloco de Esquerda, onde os líderes do PS e do BE se encontraram para discutir o futuro do nosso país. É importante a noção do lugar para desmistificar a política - saber que as coisas se passam numa rua florida e simpática e não numa mansão de marfim e granito povoada por eminentes autoridades e gárgulas milenares.
O que quer que se tenha discutido neste "lugarito" inchou Catarina Martins de tais veleidades - até o peito púdico ufanava de excitação! - que a pobre ia desmaiando de importância ao declarar o fim do Governo Coelho/Portas. Que momento, que pingente de orgulho!
E foi ali, exactamente ali, a três passos do Intendente, num palacete redecorado e adaptado para goles palacianos, que o resultado de uma eleição que assegurou a adesão ao partido do governo de todos os distritos a Norte do Tejo (excepto Castelo Branco, se não me engano) e a vitória em todos os principais concelhos do país, foi posto de lado pelo entendimento entre duas forças minoritárias.
Isto não é uma declaração de princípios, não é a defesa de proposta nenhuma de governo. Em democracia é necessário que instituições republicanas, colegiais ou não, amorteçam as consequências de uma excessiva influência dos sufrágios e das suas maiorias. E a Esquerda mais Democrática tem tanto direito a usar estas instituições como a Direita.
Cabe-nos a nós, contudo, pensar na forma como estes controlos nos limitam e na forma como cada força política os usa - especialmente quando os partidos se comportam como gabinetes burocráticos que desprezam qualquer tipo de análise mais abrangente sobre os resultados eleitorais.

The Sexual Revolution

The sexual revolution, del Noce argues, was a radical change in Western metaphysics and views of human nature. Wilhelm Reich’s manifesto, The Sexual Revolution, began from the unargued assumption that there is no “order of ends, no meta-empirical authority of values.” In a world without purposes, “all that is left is vital energy, which can be identified with sexuality.”
(...)
Sexual revolutionaries thus turn sexual morality upside down. Earlier ideals like modesty, purity, and restraint are now seen as repressive and abnormal. The category of “sexual perversion” must be eliminated. Behind this is the anti-teleology of the new sexual metaphysics: Sex best expresses its essence when it has no goal (e.g., procreation) beyond itself, and so “homosexual expressions, either masculine or feminine, should be regarded as the purest form of love.”
(...)
The sexual revolution marks the crucial divide between the old and new left: “The new left [has] become sexualized.” It is “defined precisely by its unwillingness to reject either Freud or Marx,” but its synthesis would satisfy neither. The sexual revolution gives up Marxist teleology and abandons Freud’s tragic moralism; it regards Freud and Marx as bourgeois sell-outs. Eliminating social and economic inequities isn’t enough. Sexual revolution alone brings total revolution. De Sade, not Marx or Freud, is the true hero of total revolution.

Peter J. Leithart, in First Things

domingo, 11 de outubro de 2015

Tempos mais felizes

A "Contemporânea" foi publicada em Lisboa de 22 a 26 e assumiu desde o primeiro número o papel de uma revista modernista com tendências ideológicas de direita. Reuniu contributos daquela que era, na altura, a ala do pensamento e acção política mais activa em Portugal. Como tal, nos seus números podemos encontrar nomes como António Sardinha, Mário Saa, António Ferro, Fernando Pessoa, Judith Teixeira, António Boto, Alfredo Pimenta, Amadeo de Souza-Cardozo, etc.
Desta autêntica equipa de galácticos, apenas Judith Teixeira e António Boto foram resgatados pelas Faculdades de Letras. Valeu-lhes escrever sobre sodomia e homossexualidade. Ainda que o tenham feito virados para a sua ideia do divino e altamente perseguidos pelos republicanos revolucionários da altura.
Temáticas tipicamente votadas ao espírito conservador e nacionalista surgem tratadas pelos autores acima enumerados. A decadência da Raça e das elites, a influência do dinheiro e as consequências da usura, a soberania nacional, o folclore português como modelo da construção de uma identidade portuguesa.
Tudo isto e muito mais, acompanhado pelas ilustrações do imortal Almada Negreiros, cujas linhas representam o ideal do homem de direita. Linhas subtis mas fortes, próprias da entrega de um homem ao brio, ao sacrifício, a um ideal de vida superior que move vida e músculo ao serviço de valores eternos.







sábado, 10 de outubro de 2015

prioridades

Parece impossível, mas nenhuma das coligações possíveis e imaginárias vai apresentar ao Presidente da República qualquer tipo de medida drástica para impedir a constante propagação de Kizomba no território nacional. Mais uma vez as necessidades dos portugueses ficaram para segundo plano.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Saco de gatos.

O país vai discutir nos próximos dias a hipótese de uma aliança entre CDU e PS que permita a formação de um governo. O projecto, a ser apresentado a Cavaco, com certeza terá o apoio, ainda que só apalavrado, do Bloco de Esquerda.
Não faltam comentadores e militantes da coligação a mostrar a indignação com esta lição anti-democrática da esquerda. Porque é, sem dúvida, uma lição contrária aos princípios básicos de um regime democrático. De facto, ainda que os partidos do governo tenham perdido a maioria absoluta, garantiram a maioria relativa. Continuam a ser a escolha maioritária dos portugueses. Os partidos de esquerda, mesmo depois do apelo ao voto útil, de desfeitas as possibilidades de coligação pré-campanha, não obtiveram individualmente a soma suficiente de votos para vencer as eleições, ou seja, individualmente não conseguiram convencer o eleitorado das suas propostas. A coligação do centro-centro conseguiu.
Depois desta pequena volta pela alameda do senso-comum, o leitor é convidado à realidade. A esquerda em Portugal sente-se à vontade com a democracia como um proxeneta num lupanar. As regras são ditadas por quem preenche o papel sacerdotal do regime - e desde o 25 de Novembro que essa é a principal prerrogativa da esquerda. Ela tira retira, põe e despõe como bem lhe der jeito. A direita, que não existe, não tem voz, só tem conversa de merceeiro.
O que os senhores da dita direita se esquecem é que esta é a perfeita oportunidade civilizacional para que a esquerda se coloque toda no mesmo saco e se atire ao rio. Porque uma coligação de forças de esquerda é um saco de gatos, é a tentativa de combinar um PS esfomeado com um BE incompetente, metendo pelo meio uma CDU cuja voz nunca será satisfatória ou suficientemente poderosa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Índia...

Fausto, Porque Não Me Vês, in Por Este Rio Acima (1982)

Vem me ver amor
De mansinho
Se a dor é um mar
Louco a transbordar

domingo, 4 de outubro de 2015

Injustiças e vitórias pírricas.

Independentemente do regime em vigor, a política é sempre um jogo injusto. Esta derrota do PS faz lembrar um injustiçado, António José Seguro. Seguro sempre me lembrou aqueles militantes do PS, dos mais antigos, que acreditam piamente que o Estado precisa não só do PS, mas da sua estrutura e organização internas, quase como se o modelo da social-democracia europeia para o país fosse, mais do que a ideologia, a burocracia do Partido Socialista. E assim, depois do furacão Sócrates, Seguro ocupou-se a reconstruir e a olear essa grande máquina partidária que é o PS. Foi especialmente castigado pela juventude do seu partido, coio de ambições desmedidas, que se deixou levar pelo carisma de Costa. Mesmo assim, exilado pelo partido que procurou ressuscitar, Seguro não foi um foco de dissensão. Até ao fim, foi um homem do partido.
Outra profunda injustiçada, desta vez pelo resultado eleitoral, é a direita portuguesa. O acto eleitoral conheceu uma percentagem de abstenção acima dos 40%. A coligação dos dois partidos de centro-direita do país não conseguiu muito mais do que 37% dos votos. À direita deste resultado, o deserto. Não existe mais direita, para além desta desoladora percentagem, em Portugal. Uma direita que só existe pela necessidade suscitada no eleitorado de "pôr as contas em ordem". O CDS vê-se dissolvido, por esta vitória pírrica, nesse consórcio de Baronatos, Interesses e Companhia Lda. que é o PSD. A importância que tem no seio da coligação, ninguém sabe. Sabe-se que é pouca. Pouca, que o obriga a uma subalternização que levará, possivelmente, à fusão e extinção do único partido de representação parlamentar que se aproxima, ou aproximava, daquilo que é uma direita, no plano económico, cultural, social, histórico. A vitória da coligação marca o primeiro ano oficial da III República em que não existe direita no parlamento português, apenas um centrão tecnocrático, que preencherá a miragem de uma direita neo-liberal fascista que é a riqueza de tanta narrativa esquerdista.
A provar-se a incapacidade da esquerda em se comprometer e coligar - o maior obstáculo é a fome de Estado do Partido Socialista, que está desesperado e não pode dar-se ao luxo de repartir o bolo com ninguém - fica a esta direita a responsabilidade de governar, com pinças. Tem ao seu dispor a ausência de união dos adversários e a possibilidade de explorar as previsíveis dissidências dentro do Partido Socialista. Isto e, claro, o medo da falência do Estado. Basta não ser muito glutão quando chegar a hora de fatiar o Erário Público.

Manuel prático de voto II

Considerações para o dia da urna

Um PS que de socialista só tem o nome, que lhe ficaria melhor ser Despesista, Lobyista, Lojista.
Um PSD que não é nada, a não ser um emaranhado de interesses e ambições dos representantes dos grandes escritórios de advogados, dos grandes compadrios industriais e dos pachás que governam a província.
Um CDS democrata-cristão, popular, conservador, liberal, mas que não sabe governar nem agir de acordo com nenhuma destas ideologias, deixando-se levar pelo sabor dos ventos e pelo carisma do seu líder que é princípio, meio e fim da essência daquele partido.
Um Bloco de Esquerda que não é nenhuma esquerda, é uma confeitaria new left pós-social-democrata, promotora de todas as causas fracturantes apoiadas pelas corporações capitalistas mais poderosas à face da terra, cuja ideologia passa pela promoção dos instintos mais baixos e acaba na promoção dos instintos mais baixos. Isto tudo polvilhado com intervenções parlamentares suficientemente mediáticas para chamar a atenção.

São estas as parcas escolhas do eleitorado comum, escolhas essas que ainda atrofiam mais quando se procura outras soluções à direita. O PNR foi absolutamente desprezado pelos meios de comunicação, mas ainda assim fez questão de apostar todas as suas hipóteses de algum tipo de mediatismo numa acção de rua contra a emigração, um problema tão residual em Portugal que é ridículo sequer tê-lo em conta como parte de um programa eleitoral. O PNR é um partido que nasceu mal e que morrerá mal, uma vez que é dominado por um meio lisboeta que não tem qualificações para a luta política.

Fazemos uma ressalva para uma esquerda que mantém a ortodoxia militante, que se diz patriótica (e é) e valoriza o trabalho e a soberania nacional. O nacionalismo e o conservadorismo português têm muito a aprender com esta CDU, que merece um bom resultado nestas eleições.

Manual prático de voto

Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus, que, para O porem à prova, perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?».
Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?».
Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério».
Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas.
Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele».
E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.
Marcos 10,2-16.

domingo, 27 de setembro de 2015

Ese ejército que ves
vago al yelo y al calor,
la república mejor
y más política es
del mundo, en que nadie espere
que ser preferido pueda
por la nobleza que hereda,
sino por la que él adquiere;
porque aquí a la sangre excede
el lugar que uno se hace
y sin mirar cómo nace
se mira cómo procede.
Aquí la necesidad
no es infamia; y si es honrado,
pobre y desnudo un soldado
tiene mayor calidad
que el más galán y lucido;
porque aquí a lo que sospecho,
no adorna el vestido al pecho,
que el pecho adorna al vestido;
Y así, de modestia llenos,
a los más viejos verás,
tratando de ser lo más,
y de parecer lo menos.
Aquí la más principal
hazaña es obedecer,
y el modo cómo ha de ser
es ni pedir ni rehusar.
Aquí, en fin, la cortesía,
el buen trato, la verdad,
la fineza, la lealtad,
el honor, la bizarría;
el crédito, la opinión,
la constancia, la paciencia,
la humildad y la obediencia,
fama, honor y vida son,
caudal de pobres soldados;
que en buena o mala fortuna,
la milicia no es más que una
religión de hombres honrados.

Pedro Calderón de la Barca

Levar a sério os artistas

Em Portugal reina o mau hábito de tratar mal os artistas.
Em décadas recentes junta-se ao mau trato a conversa da treta. Já não chegava não pagar a tempo e horas os salários, deixar definhar nas gavetas dos orçamentos de Estado a Cultura nacional, mas agora ainda fazemos passar os artistas pelas vielas do ridículo.

É ver os telejornais a convidar os esfomeados músicos para virem falar sobre política, as faculdades a aspergir teses sobre as ideologias dos poetas, os comediantes feitos jornalistas e os actores armados em cronistas.
O facto de um pobre coitado conseguir esguelhar um som bestial numas cordas de guitarra, ou sacar umas risadas tremendas, não faz dele um Séneca da actualidade.
Gostamos muito da poesia de Fernando Pessoa, da música de Zeca Afonso e da prosa de Lobo Antunes.

Mas aquilo que estes três publicaram, pensaram ou ladraram em termos de política, sociedade ou história nacional é uma valente merda. No mínimo, risível. No máximo, chocante. No todo, medíocre.

Enquanto escrevo estas linhas, estou a ouvir o álbum Crónicas da Terra Ardente, de Fausto Bordalo Dias. Um lindo álbum.
Contudo, se consultarmos a internet sobre este autor, damos com uma entrevista do autor em que este vomita uma pilha épica de merda sobre temas como economia, política, etc. O respeitado autor deambula febrilmente por entre temas como cidadania e 25 de Abril com a graça de um crocodilo numa maternidade. Não vai ser por isso que vou desistir deste belo álbum - tal como não vou deixar de rever os brilhantes episódios dos Gatos Fedorentos passados na Sic Radical apenas por causa das figuras patéticas de Ricardo Araújo Pereira para criar um híbrido monstruoso entre Jon Stewart, Conan O'Brien e Jay Leno.

Quero com isto dizer que os artistas devem ser afastados da política? Claro que não. Quando fazem da política uma forma de arte, o seu contributo é mais que bem vindo. Basta ver as páginas brilhantes de Almada Negreiros. No restante, deixem a arte valer por si.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Conservador à inglesa, ou A paixão pelo bacon

Meritocracia. Tradição. Civismo.

And lots of pig fucking. Tudo em nome das elites que o mundo demo-liberal precisa.

Flocos de Neve

No último texto divaguei um pouco sobre a temática dos senhores e senhoras que pensam que Portugal é um floco de neve, que não descansam enquanto não provam que este país foi posto neste lugar de propósito pelos deuses para ser abençoado por algum tipo de mistério iniciático redentor. Com isto tudo, não quero dizer que não acredite no plano singular que Portugal ocupa no plano religioso e espiritual. A minha aversão aos indefiníveis, aos pós de pirilimpimpim que tornam todas as coisas boas em névoa indistinta, é para mim a prova de que respeito aquilo que pretendo chamar, talvez erroneamente, manifestação metafísica do meu lar, da minha pátria, das minhas tradições, do legado dos meus antepassados.

Esse legado é material e imaterial, santo e pecador, bom e mau. À volta dele construímos um discurso, uma narrativa, uma História, que legitima as escolhas e caminhos que os antigos tomaram. Esse discurso, contudo, não nos pode afastar da realidade - uma vez que ele mesmo é parte da nossa herança. É uma ferramenta que devemos usar - não uma desculpa para enfiarmos a cabeça na areia, uma cegueira simpática.

Um dos lemas deste blogue, a fazer uma recolha dos vários, seria "Portugal não é na Lua". Este lema não pretende abrir portas ao oportunismo, mas antes um lembrete daquilo que é, para mim, a verdadeira linha de princípios para um pensamento nacional, político, social e espiritual. Queiramos chamar-lhe uma doutrina nacionalista, de direita ou conservadora.

A Sageza e a Inteligência existem para ser postas em prática e partilhadas pelas gentes da Causa. Não para se guardarem ciosa e ciumentamente em caves, garagens e em prateleiras.

Amor é Sacrifício, Sacrifício Eterno e incondicional. A Fortaleza passa por não ceder ao capricho pessoal, à ambição mesquinha, enquanto nos abrimos às inseguranças e medos dos nossos pares e amigos, apenas para os suplantar, transformando-nos num baluarte de firmeza, mas também de ternura.

E este Amor não é nada sem nos inteirarmos das nossas fraquezas, dos nossos limites e dos nossos rivais. Que aquilo que perdemos, que abdicamos, por preguiça, por fraqueza ou porque estamos demasiado ocupados a discutir entre nós e a perseverar na nossa vaidade, vai-nos fazer muita falta, ou pior, vai fazer muita falta àquilo que sobrar dos nossos sucessores.
Que nos sirva de exemplo a Espanha que derrete na Catalunha, porque não faltavam entre os espanhóis aqueles que julgavam que a sua pátria era eterna, que o seu espírito não morreria, que tudo ia acabar bem. Quem não tende os campos vê crescer silvas, depois mato, até se perder a terra que os avós lavraram.
Castigo bem merecido ao falso Aliado que nos virou as costas tantas vezes no último século, conspirando com outros nossos pretensos amigos a nossa anexação. Também a Espanha foi em tempos protectora da Europa e da Cristandade, se calhar mais até do que nós.
Ainda assim, deixou-se abater, como nós, pela Lenda Negra que os países inimigos lhe imputaram, encheu-se de ódio de si mesma e devorou-se. Também em Espanha há aqueles que julgam viver num floco de neve, numa Espanha que plantou universidades no Novo Mundo por filantropia e sentido de civilização. A quem se deve fidelidade porque sim.
Assim, dividida entre os inimigos da terra, que são ao mesmo tempo seus filhos, e os filhos da terra que vivem no mundo da Lua, a Espanha caminha para o seu fim. Fim esse que poderá provar-se a nossa grande oportunidade - tal como a independência da Escócia prova o fim de outro falso amigo e aliado.

Oportunidade para reclamar, com inteligência e com firmeza, para a Nação, a base suficiente da independência efectiva, num cenário de desintegração de velhas fronteiras e, quiçá, da própria União Europeia. Firmeza para os maiores sacrifícios, inteligência para entendermos que, à mínima hesitação ou ao mínimo passo em falso, aquilo que amamos desaparece.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Filosofia Portuguesa?

Não sou suficientemente versado em Filosofia para discutir a fundo a temática da Filosofia Portuguesa, a escola de pensamento de Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, etc. O tempo disponível e as bases que possuo apenas me permitiram fazer algumas abordagens, entre as quais uma leitura à obra de Pedro Sinde "Sete Sábios Portugueses" e, recentemente, algumas leituras no site Homo Viator, que parece especializado neste tipo de pensamento.
De todos os autores da Filosofia Portuguesa, o único que aprecio é Pinharanda Gomes, talvez por se me afigurar como o mais objectivo de todos, talvez pela tendência para a análise histórica.
Das críticas que me parecem importantes tecer a esta escola, saliento as seguintes:

1 - Define como português um tipo de pensamento que é, muitas vezes, a intelectualização de alguns conceitos, como a Saudade, traduzindo-se em exercícios complexos cujo resultado é mais a criação de uma abstracção de Portugal que a descoberta do tipo português.

2 - É admitido por alguns dos seus autores que estas abstracções à volta da Saudade são apenas ferramentas para criar um pensamento português, à imagem do que se passou em França e Alemanha. A que nos opomos, explicitamente nos pontos seguintes.

3 - O pensamento alemão nasceu do habitus da comunidade científica alemã. Não foi uma criação coada e polvilhada em laboratório, como me parece ser a suposta genealogia do pensamento da filosofia portuguesa.

4 - A ser assim, a dita escola da filosofia portuguesa parece-me ser apenas o melhor reflexo da decadência do nosso povo, nomeadamente a obsessão pela auto-definição. Isto admitindo teses decadentistas, que não são de todo o meu forte.

5 - Esta auto-definição é ecuménica, muitas vezes de forma bastante inofensiva e inútil (como é visível nas conversas vadias de Agostinho da Silva) mas ao mesmo tempo selectiva. Define-se o fim da Idade Média e dos Descobrimentos como o início da decadência de Portugal. Está por escrever literatura no sentido de encontrar uma relação entre a finis patria e o declínio da construção naval a partir do Século de Quinhentos. A Inquisição torna-se sinal da influência de ideais externos e da perversão da cultura nacional, mas define-se o carácter nacional de acordo com uma suposta dicotomia céltico-semita, como a encontramos n'A Arte de Ser Português. Para alguém isto fará sentido.

6 - É uma escola profundamente iniciática, de carácter gnóstico, fixada num milenarismo, o Quinto Império. É, em tudo, afastada da tradição católica e da religião portuguesa. Sustenta-se muitas vezes de paganismos e rituais profanos da nossa tradição popular para justificar os seus pontos. Mais uma vez através de intelectualizações e de conclusões insustentadas. Além de que se fundamenta na leitura jesuítica (que parece ser o caso de Dalila Pereira da Costa) de um autor de claras influências satânicas como é Teixeira de Pascoaes. Por muito cristianizada que se faça a leitura deste último, pergunto-me se não estaremos a descascar demasiado o poeta do Marânus ao procurarmos atenuar o profundo lado diabólico da sua obra.

Concluindo: a filosofia portuguesa parece-me muito pouco portuguesa, mas muito importada em definir um portugal. O milenarismo tosco que move alguns dos sequazes menores possivelmente permitirá que haja um portugal para cada alminha.
Tanto serve para inspirar movimentos new age, mais preocupados em desconstruir Portugal do que noutra coisa, como para preencher a necessidade de "pensamento original" de alguns "fascistóides", ansiosos por deitar ao lixo algumas facetas menos kitsch da cultura portuguesa e ficar apenas com as coisas "giras".Tanto o lixo new-age como o nacionalismo de pacotilha partilham deste defeito, o de criar uma ilusão de que Portugal é um floco de neve especial. Típica não-actividade que assassina a Acção, diga-se.

Porventura, demasiadas conclusões para quem sabe tão pouco. Não é, contudo, por cepticismo teimoso que mantenho ao arrepio os sebastianismos e os "quintimpérios". Haverá, com certeza, muita desinformação, mas não falta de esforço para compreender melhor estes fenómenos. É a minha cabecinha, possivelmente, que não tem grande sensibilidade espiritual.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

últimos redutos

Só posso agradecer a simpática referência de João Marchante.
Comecei a acompanhar o Eternas Saudades do Futuro (que, a ser um espelho da alma do autor, só diz bem do seu carácter) numa fase recente, muito após a longínqua era em que acompanhava a blogosfera nacional com fervor. Ainda não tive o prazer de conhecer o autor pessoalmente, mas não nos faltam conhecidos em comum e comunhão de ideais.
Penso que vivemos em tempos em que a velhinha blogosfera cede, cada vez mais, o seu espaço ao micro ruído dos facebúques e tuíteres. Ficaram os velhos blogues ainda em funções e os cadáveres dos sítios que, tanto tempo passado desde a última actualização, continuam a ser merecedores de visita.
Podemos pensar que a exigência de conteúdo que este tipo de plataformas exige para manutenção resultaram numa internet mais limpa que a dos tempos de hoje. Não é verdade. Havia muito lixo também.
Ainda assim, para quem está desconectado da rede social zuckerbergiana, uma blogosfera selecta é a melhor maneira de fazer alguma eremitagem. Sempre construtiva.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


Autofagia Mediática

A acompanhar seriamente o périplo da Europa dos 25 Milhões de Desempregados que precisa desesperadamente de manter a força de trabalho e as soluções para todos os refugiados que por lá pararem.

O patronato já se manifestou alegre com a onda de solidariedade. É um começo.
Por outro lado, alojar tamanha migração nos sacrossantos estádios de futebol ou nos terrenos destinados aos festivais de verão poderá levar a reacções contraproducentes. Há que manter satisfeitos os principais fregueses da solidariedade.
Propaganda Portuguesa
Primeira Guerra Mundial

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Dushi Aruba

O papiamento, a língua falada em Aruba, Bonaire Curaçao, é o fruto de uma mistura entre os linguajares de negreiros portugueses, mercadores espanhóis, colonizadores holandeses. piratas ingleses, judeus brasileiros e escravos africanos.
O resultado é um lindo crioulo português na voz doce de Izaline Calister.


Mi pais, ta un lugá chikitu
Ku un historia riku
Pieda, mondi, bientu i laman
Ta mi isla i e ta intresante ku bista impaktante i partinan dañá

I unda ku mi ta…

Mi pais, t'un ku sa di pobresa
atrako i malesa i hende ku tin bia ta molestiá
Ta mi isla i e ta impreshonante
K’un pueblo elegante i un par ku no ke tra’a 

I unda ku mi ta…

Mi ta un tiki preokupá pa mi baranka, mi lugá
Mi no por mira den futuro i mi no sa kon kos lo ta
Ma mi ta resa pidi Dios pa de bes en kuando si e tin un chèns e yuda nos
Djis drecha algun kos i kuida loke ta di nos

Mi pais ta un isla hopi dushi
kaminda mi lombrishi
pa semper ta derá…

Reconciliar

Da leitura de alguns blogues e textos antigos, tropecei alegremente num artigo da Legio Victrix sobre Alain Soral.
Presumivelmente o grande teórico da Terceira Via política dos nossos tempos, Alain Soral quebrou tabus que se tinham cristalizado à volta do pensamento nacionalista e advoga hoje em dia uma doutrina que defenda a direita dos valores e a esquerda do trabalho. Recupera assim uma tradição idiossincrática que foi pujante nos anos 20 século XX e que levou, entre outros exemplos, um sindicalista revolucionário como Sorel a militar numa organização nacionalista e católica como a Action Française.
Em Portugal vemos esse fenómeno na criação da revista Homens Livres, que juntava Seareiros e Integralistas.
Um dos textos reconciliadores de Soral (que fundou o movimento Egalité et Réconciliation) foi o discurso escrito para Le Pen aquando da celebração da vitória de Valmy.
Última vitória festejada em tempos de um monarca Bourbon, foi também o feito militar que legitimou as pretensões dos republicanos que derrubaram pouco depois a monarquia. É assim um símbolo muito importante para todos os quadrantes ideológicos franceses e europeus, descendentes directos do conflito civil, social e espiritual que nasceu da Revolução Francesa. Divide e une nas vitórias e derrotas que se lhe seguiram.
Divide e une também quando pensamos no sangue derramado por patriotas em nome de causas estranhas, mas cuja simpatia não podemos deixar de sentir.
Devo muita da minha sensibilidade para a questão política do nacionalismo aos escritos do Corcunda e ainda concordo, depois de tantos anos, na importância do acervo histórico e religioso para definir esse Bem Comum que é o fim último da comunidade dos homens, consubstanciada na Nação.
O tema da reconciliação é fulcral para a Direita, a meu ver, porque passados duzentos anos desde que as ideias da Revolução nos atingiram, os seus efeitos e as suas consequências impregnaram-se também no nosso código moral.
Tal como qualquer outro povo europeu, os Portugueses são inevitavelmente filhos da Religião de Cristo, mas também da Revolução Francesa. Podemos desprezar as ideias carbonárias dos revolucionários do 5 de Outubro, mas a verdade é que várias gerações de portugueses, muitos deles católicos praticantes e patriotas, lutaram e morreram para defender uma bandeira verde e vermelha. Se a intenção original estava errada, o sacrifício plantado à volta daquele trapo, ao longo das décadas, transformou-o num estandarte tão honrado como qualquer outro.
E não é verdade que vemos, em várias localidades portuguesas, marchar nas procissões religiosas bandeiras de confrarias e associações profissionais laicas que contêm claras simbologias maçónicas, carbonárias, etc.? Criadas por revolucionários nos seus dias, foram-se cristianizando e normalizando com o passar do tempo. Inevitavelmente nacionalizadas, tal como acontece com os corpos de escuteiros e rotários e outros grupos que, há 70 anos atrás, ainda comungavam do seu espírito fundador que seria, para nós, anti-católico e anti-nacional.
E se uma Direita que vise o Bem-Comum e a Vida Boa tem, por direito do acervo histórico da nação, acesso a toda esta riqueza abandonada pela Esquerda, que nos pertence porque o que é nacional é nosso, mesmo na área mais "obscura" das direitas encontramos um património que merece ser pensado.
O grande flagelo do nacionalismo em Portugal é a corruptela do neo-paganismo rácico, esta vontade de ser compatriota de Deus ou primo de alguma divindade que justifique as vaidades fisiológicas. A Antropologia já nos presenteou com provas mais que suficientes para acabarmos com estas tentativas de criar bonsais humanos, para quem o grande fundamento da nação portuguesa é pertencer a uma sub-espécie do grupo caucasóide.

Mas não é verdade que, entre os bens que herdamos, o nosso património genético merece o mesmo carinho e atenção que o restante? As características físicas que nos tornam únicos e reconhecíveis pelos nossos iguais, que permitem que as relações sociais decorram com um à-vontade próprio de quem se identifica nas características exteriores do outro, circunstância tão importante ao diálogo?
Se a esquerda do trabalho nos leva a opor à imigração porque esta não é mais do que o exército de escravos do capitalismo, a direita dos valores traz à baila a necessidade de defendermos não só as prerrogativas sociais e económicas mas também o nosso património espiritual, religioso, histórico e genético. Se isto nos livra da assistência aos refugiados? Não me parece. A nossa cultura, nos fundamento dos seus valores e das suas práticas ancestrais, obriga-nos a estender a mão ao desprotegido.
O que um pensamento de Direita pode e deve ditar é que o estender a mão é uma actividade digna e dignificante, que propõe ajudar a curto prazo e resolver a longo. Não é, como vemos hoje em dia, uma medida de propaganda mediática. Mas haverá força para recriar e revitalizar um pensamento de Direita?
Absolutamente, sim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

(...) de modo algum somos o porta-voz dos socialistas ou dos republicanos. O oportunismo e a cobardia apodreceram todos os partidos políticos italianos, e nós trazemos-lhes o desinfectante futurista, o ácido corrosivo revolucionário.

Marinetti, Le Futurisme

quarta-feira, 9 de setembro de 2015


Finis Mundi nº8

A blogosfera da área nacional tem andado relativamente desatenta a esta publicação de grande qualidade, apesar de alguns bloggers terem feito boa e merecida publicidade. A minha primeira contribuição veio no número 6, com um artigo intitulado José Acúrsio das Neves: Pensador Líberal ou Político Conservador?, e é com todo o gosto que informo os meus leitores que vou publicar neste número 8 um trabalho sobre a tradição filosófica, política e jurídica europeia: A Grande Casa Europeia – A Idade Média e a Idade Moderna através da perspectiva de Otto Brunner, Julius Evola e Émile Lousse.

Outros autores conhecidos cá da casa e que param muito pelos nossos meios também vão publicar, sendo provável que o leitor já terá ouvido falar de algum deles.
Dos que vão sair neste número, aponto os meus escolhidos para uma leitura que, aposto, merecerá particular atenção:

Os anti-lusófonos e os anti-colonialistas - Renato Epifânio 

António Sardinha e o Integralismo Lusitano, na idealidade do novo século - Daniel Santos Sousa 

O Desafio Europeu Contemporâneo: do Indivíduo para o Grupo. A análise sociobiológica - Filipe Nobre Faria

ausência esporádica

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Os media no aproveitamento político da morte de uma criança - As lágrimas do crocodilo

Se havia dúvidas sobre a verdadeira cor deste novo jornal da direitinha, o último edital d'O Observador acabou de as esclarecer.
O jornalista José Manuel Fernandes junta-se ao coro internacional que visa mais uma vez impressionar as massas pelo apelo a um sentimentalismo pervertido. O aproveitamento político de alguns partidos, movimentos e jornais, tendo em vista amealhar prestígio social ou o avanço de metas políticas, do falecimento do pequeno Aylan.
Não me interpretem mal. Nada magoa mais do que a morte de uma criança inocente, independentemente da sua etnia, credo ou sexo.
O que me ofende é a construção de uma historieta de encantar, com entrevistas à família do falecido, apelos à moralidade pública e todo um aparato choramingas que visa apenas distrair as pessoas do que verdadeiramente interessa.
De onde vem esta guerra na Síria? Quem a começou? Quem a sustenta?
Quais são os principais responsáveis por estas ondas migratórias?
A Europa é acusada de não ter desenvolvido instituições e meios para salvar o pequeno Aylan, mas o que os nossos jornalistas não nos contam é a forma como a Europa apoiou as dissidências e os contrastes que puseram o Norte de África e o Médio Oriente a ferro e fogo. Tudo sob o pretexto da santa Liberdade, mascarando o interesse capitalista da grande finança. Já se vê que o governo a cair sobre a batuta das manifestações "espontâneas" que se segue é o distraído Líbano...
Não falta até a citação do economista bem intencionado. O The Economist ensina-nos que acolher todo o tipo de emigrantes é bom, para rejuvenescer a população europeia. Como se a multiplicação não fosse responsabilidade dos europeus. Qual raça de anjos na terra, servem apenas para pagar, receber e acolher, deixando os frutos do futuro aos outros.
Ou seja, em nome de um hipotética e falível prosperidade material, o fim do nosso património genético, da nossa presença no mundo enquanto povo de características únicas e peculiares. 
Uma Europa transformada numa gigantesca plataforma de emprego, investimento e "empreendedores". Já dizia Marx que o exército de escravos do capitalismo é o imigrante. Exército escravo esse que se vê obrigado, pela instabilidade induzida nos seus países de origem, a reduzir-se à função de substituir geneticamente a população autóctene, mais ciente das suas prerrogativas, agarrados que ainda vão estando a conquistas políticas e a raízes como a tradição ou a religião.

Encontramo-nos perante vários dilemas. Por um lado, as tradições, a espiritualidade e a religião dos europeus obrigam-nos a acolher os indefesos, os doentes, os pobres.
Por outro, o nosso sentido de comunidade e justiça obriga-nos a descobrir, entre nós, os verdadeiros culpados das tempestades que assolaram África e Ásia. Depois, restabelecer nesses países a sua soberania e estabilidade, criando condições para que os refugiados voltem para a terra dos seus antepassados.
Manietados, contudo, por todos os tipos possíveis e imaginários de materialismos, só nos restam as hipóteses dos que pretendem fechar fronteiras a cadeado e os que pretendem escancará-las. Nenhuma delas chega, nenhuma resolve, por si só, o problema. E o problema, mais década menos década, será demasiado grande e visível para ser contido.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

600 anos de Ceuta

Seja por interesse histórico, seja por orgulho nacionalista, a boa parte do país está hoje a relembrar, em jornais, livros e artigos, a tomada de Ceuta em 1415.
Tomando estes dias pelo que são, confesso que não sou grande fã da comemoração de datas-chavão. Será porventura pedantismo de quem estuda História, de quem absorve isto não de forma apoteótica, mas como quem respira e vê o mundo pelo que tem de sujo e violento, mas com as suas pontadas de beleza a prismar depois do feixe da luz.
Ceuta é descrita como o princípio de algo maravilhoso. É para alguns a promessa de uma cavalgada valquíriaca até um passado habitado por armaduras polidas, excalibures gloriosas e cruzadas galantes.
Se Ceuta tem validade, para mim, é pelo que reside por detrás do pano.
A praça eternamente cercada, frequentada por corsários, prostitutas, nobres exilados, almogávares, vadios, bispos, mouros, escravos, pecadores e santos. A Ceuta que foi durante muito tempo fronteira dos Algarves de Além-mar, e no parco tempo em que o não foi, centro de pirataria e rapinagem dos soldados da Cruz. Foi o marco da nossa verdade, de um Portugal que vivia e existia com as mãos na terra, como as grandes nações do Mundo, em vez de perdido na lua, a sonhar com sebastiões, naus catarinetas, democracias europeias e empreendedorismos.
Ceuta transformou-se durante a nossa presença numa cidade devotada à destruição do poderio naval berbere, à formação de uma casta de fronteiros, a cavalo ou embarcada, sempre pronta à acção. Nem sempre bem sucedidos na luta, a guerra nos mares formou uma gente seca pelo sal e pelo sol, de barba hirsuta e suja que saqueou as profundezas da Ásia, Goa-Malaca-Ormuz e tudo o resto, e criou um império de mercadores-piratas, ou mercadores-corsários dependendo da vossa fantasia.
Para os espíritos sensíveis de hoje, tal realidade fustiga a consciência. Para aqueles que vêm cada recordação da história como uma apologia da violência e para os que vêm como glória. Daqueles portugueses que estalaram as costas no convés dos navios de Ceuta, de mãos calejadas a montar e desmontar muralhas desvastadas pelos diários ataques do inimigo, já não podemos exigir mais nada. Nem que se façam santos nem que se façam demónios. Foram homens, bons e maus, de uma cepa superior, pelo sangue e pelo suor que lhes saiu, aos que festejam hoje.

Mestre Carlos Reis (1863-1940)

O baptizado

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sempre Non

Terrível palavra é um Non. Não tem direito nem avesso. Por qualquer lado que o tomeis sempre soa e diz o mesmo.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Mika Antunès

Neste blogue fazemos, não raras vezes, uma defesa obstinada da tradição do povo português. Ao leitor deambulante que por aqui tropeça, essa defesa pode parecer uma intransigência iracional, meramente anacrónica, simplesmente fetichista.

Não têm sido poucos os esforços para evitar essa confusão. Nada tem sido mais prejudicial à criação de um pensamento "de direita", conservador e verdadeiramente radical, que o anacronismo e o "patrioteirismo da romantiquisse", aquele discurso de embuste cheio de sentimentalismos bacocos, das saudades de um Portugal de vistas curtas.

De facto, para o êxito de um pensamento renovado há que aceitar e criticar certas características do povo português, de certos elementos do povo português. Um dos filmes que mais lágrimas patróticas derramou nos últimos tempos foi o engraçadíssimo "Gaiola Dourada" um filme de uma sensibilidade muito honesta que retrata o tipo de emigrante luso em terras gaulesas que todos nós gostaríamos que fosse dominante. Com todos os seus defeitos e grandezas.

Infelizmente, não é. Ao lado das Maria e dos Josés, trabalhadores e amáveis, prestáveis, elementos de união da sua comunidade portuguesa e imprescindíveis à sociedade francesa, bons cristãos e honestos, estão os "Mikas" (que foram Miguéis) e as "Natalis" (que foram Natálias).

Esta companhia de emigrantes não é tão agradável, mas pode às vezes parecer mais representativa que a anterior. Os "mikas" são gananciosos, ambiciosos, brutos como uma parede, egoístas e estúpidos. São o produto terminado de gerações e gerações que, já antes do 25A74, eram educadas com cada vez menos cuidado pelas subtilezas da vivência pessoal, cada vez mais conectados com o único valor moral que uma sociedade pobre, pedante e pedinchona como a portuguesa tem: o dinheiro. Este é o único valor que conhecem e que os insufla. 

A única coisa que inibe estes "mikas" de uma vida de depredações e furtos (quando inibe) é o fraco exemplo dos meliantes que passaram pela sua experiência de vida -  os corruptos das câmaras e juntas de freguesia (que os mikas invejam e desprezam) não ganham para as chatices; os desgraçados dos surripiantes da aldeia não passam da miséria e da indigência (a estes o "mika" odeia com tal força que nos leva a concluir que a mensagem de amor e misericórdia para com os pecadores, espalhada pelo cristianismo, ou nunca chegou a certas partes deste país ou então foi há muito esquecida).

Os "mikas" não recebem bem os que vêm de Portugal, no mesmo estado que eles há uns 20 ou mais anos, para fazer a vida lá fora. Não são gentis (a não ser que possam vir a ganhar com a bajulice) e a sua presença em solo pátrio faz-nos desejar por uma invasão furiosa de turistas espanhóis. Concebem entre si uma prole que cumpre o fado de serem maus portugueses e maus estrangeiros. Quando voltam a Portugal todos os odeiam. Os familiares odeiam-nos, os hoteleiros odeiam-nos, os restaurantes odeiam-nos, até as auto-estradas tentam matá-los.

Podem viver uma vida inteira além-pirinéus que sabem menos sobre a sociedade que os rodeia do que um licenciado de Relações Internacionais (ou seja, muito, muito, muito pouco). Em nome do lucro e do ganho são capazes de esforços heróicos, se houvesse heroísmo na manhosice. Genéticamente, guardam as piores características dos povos pré-romanos que viviam, por estes lados, da rapina e do saque.

O "mika", concluindo a diatribe, é mais um dos produtos de um país que esqueceu, há muito tempo, de inculcar nas suas gerações a bondade, a generosidade e a valentia. Esse falhanço social, essa quebra das funções sagradas da pólis, é anterior à nossa mais recente "secularização" abrilina. Começou, convenhamos, na degradação de uma mensagem estado-novista que até era saudável, a que defendia a poupança, a auto-suficiência, a normalidade. Esta mensagem decaiu rapidamente na marosca miserável do novo-rico, no egoísmo tacanho e na mesquinhice, no desprezo por tudo o que não parecer iminentemente prático.

Ou seja, o "mika" seria, caso se interessasse, um eleitor fiel do quadrante PSD-CDS. E digo quadrante porque, na rotação lunar do partidarismo português, por muito que as formas mudem, é tudo o mesmo astro. Os astronautas que ainda acreditam no actual estado de coisas, ao votarem à direita, admitem políticamente o estilo de vida do "mika", o país da chico-espertice, do "todos por si e cada um na sua", o país que só concebe o uso de livros velhos para pé de mesa.

Com a diferença que esta nossa "direita" não se atura só ao Verão, é visita frequente pelos diferentes monitores da vida. De facto, com os "mikas", temos de lidar com eles, para gáudio dos deuses e do seu terrível sentido de humor. A esta direita, já nem os anjinhos a aturam.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves