domingo, 19 de junho de 2011

O Vazio Pegou-se à Estalada - Manifesto Anti-Causa Monárquica

Existe pouca coisa mais gloriosa do que uma luta de bigodes monárquicos.
Quem tiver tempo e disponibilidade para ler estas três comédias perceberá facilmente do que falo.
Este tipo de dramatismos rotos são típicos de associações sem disciplina e sem objectivo - são celeumas mesquinhas da velhice que um ideal tão binário como este (de arranjar um trono para um tipo gorducho e simpático para depois tê-lo lá calado e "democrático") provoca nos homens.

Ficam desde já entregues, de bandeja e em prosa fina, os principais problemas da Causa Monárquica, para auto-correcção dos visados:

1- A Causa Monárquica não lê, ou pior, lê as obras do Mendo Castro Henriques - a doutrina de que se envolve é própria de um movimento de massas comandado por uma elite lobotomizada.

2- A Causa Monárquica não pensa - não tem um único intelectual, um rosto carismático, é uma sociedade saudosista atrelada a alguns cronistas e bloggers, como o Miguel Esteves Cardoso, que escreve cagadas destas, onde se tira a ideia de que ser monárquico é, no fim de contas, ser republicano mas não de 4 em 4 anos.

3- A Causa Monárquica nem sequer é monárquica, é democrática, liberal e parlamentar. Como tal é - à excepção do procurador vitalício despido de competências concretas que procura colocar na chefia do Estado, em regime hereditário de funcionário público - já parte integrante do sistema. Por aquela ridícula e minúscula diferença mais vale não ser monárquico, e será praticamente impossível, uma vez desaparecido o espectro da crise económica (e respectivo queixume inconsequente), atrair algum jovem fora das coutadas da Foz e de Cascais disposto a perder oportunidades políticas por causa dela.

4- A Causa Monárquica, além de burra e estúpida, é velha e nasceu velha. Porquê? Primeiro, foi criada historicamente pelos inadaptados do regime republicano, todos aqueles que sabiam que não podiam garantir a sua sobrevivência política num estado comandado pelo Partido Republicano Português. Estes senhores, grande parte deles antigos sequazes do Partido Regenerador Liberal, foram-se "comendo" em conluio com a nova República ou em aventuras militares às quais não tiveram estofo de dar continuação digna. Sem ideias novas a não ser o retorno a símbolos caducos e desacreditados pelo país e pelo estrangeiro, andaram a reboque das circunstâncias até 1926.

5- A Causa Monárquica foi tanto um movimento de resistência à ditadura como é um movimento de vanguarda intelectual respeitável por mais pessoas que as que vegetam na Praça Luís de Camões, 46, 2º Dto, Lisboa. Aparte as alturas em que se apropriou do nome dos Integralistas Lusitanos, especialmente aqueles que compunham a única força política organizada não-esquerdista oposta ao Estado Novo, a Causa Monárquica dançou com o Estado Novo tudo o que tinha a dançar, e só o largou para participar gloriosamente no baile da República Democrática.

6- Sendo assim, além de não ter uma ideia nova há mais de 100 anos, ser um viveiro de snobs efeminados e cobardes, a Causa Monárquica é um Partido. A diferença é que se chama Causa - mas move-se como um partido, fala como um partido e partilha do mesmo tipo de vícios. Uma outra diferença é que, ao contrário dos partidos, não tem programa nem agenda definidos, mas tem a profundidade e eloquência dos discursos em Parlamento do Quartin Graça, que é um óptimo senhor.

7- A Causa Monárquica é conservadora, e quando não o é, é jacobina. Às vezes descamba para a loucura das definições e é realista, ou o diabo que o carregue. Preserva-se a Monarquia porque sim - sem procurar saber objectivamente porquê, mas sempre a falar dos símbolos e da malta que morreu a capturar o Gungunhana com as calças na mão. Depois do famoso Discurso do antigo mandatário desta Causa Frustrada - Monárquicos Porque Sim - a nova direcção devia apostar na criação do Manifesto Republicanos Porque Não.
A CM é jacobina quando é anti-aristocrática e quer pôr o povo todo igual. Excepto o Rei. Porquê? Porque sim.

8- A Causa Monárquica, nua, é horrorosa.

9- A Causa Monárquica não tem discussão, não tem inovação, mas tem Loja, só que não tem sequer bons preços para os pins e para as gravatas (item presentemente indisponível).

10 - A Causa Monárquica é fogo de vista numa era que a ultrapassa. É promotora de uma forma de Monarquia que é apenas um estágio anterior, no que toca à preservação de instituições políticas, ao regime actual. Se a transferência da soberania do Monarca Constitucional para o Candidato Eleito fez-se, em Portugal, por processo revolucionário, foi apenas porque as forças que coordenavam o sistema viam e viram esta transferência como inevitável e resolveram-se a apressar o descalabro do regime. Jogar contra estas forças de mudança sem se lhes opor directamente é o vosso Problema - não têm uma cultura de pensamento conservadora consolidada, algo que é necessário para se defender uma Monarquia (mesmo que se queira ser Moderno).

Mas quando se tem a conversinha da democraciazinha, pensar não é lá muito necessário, não é?

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves