Cortina realizada por Carlos Botelho para o bailado D. Sebastião, do Grupo coreográfico Verde Gaio
«O espírito e a tensão da controvérsia doutrinal da medievalidade, em que frequentemente se envolveram os teólogos cristãos, hebreus e islamitas, ressurge de uma forma vigorosa e nova no poema camoniano, com uma diferença; que, nas controvérsias medievais, o confronto era apenas doutrinal e que, no poema, a controvérsia se une à cruzada, porque a ideia de missionação se aliara ao acidente (mal necessário) da guerra santa. As guerras santas de portugueses e árabes exprimem o dado imediato do real, as condições temporais da obra divina, se feita por humanas mãos; as gestas conversórias exprimem o fundo que permanece, a mensagem de Igreja. Ali, os católicos são portugueses; que não deixam de ser portugueses por serem católicos, nem podem deixar de ser católicos quando actuem como portugueses. Deus trabalha com os homens que há e, no caso, havia portugueses. A gesta portuguesa apenas manifesta a aventura católica. O sujeito do poema é esta aventura; a gesta portuguesa vem junto ao sujeito, mediante o verbo: modifica o modo, mas não altera o sujeito.»
Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 186.