terça-feira, 2 de agosto de 2011

People in concerts/O típico espectador de concertos de piano

Há aqueles que estão lá só para ver quem está e quem não apareceu, que vestidos levou, que perfume vai usando. Notam-se logo as não comparências de "gente importante". Há gente que se só vê lá. Temos os que ouvem uma interpretação muito boa mas só sabem dizer "Ah, aqueles estudos de Chopin foram muito bem tocados, mas o Pollini toca melhor" ou "a Martha Argerich toca mais rápido", entre outros dislates.

Aqueles que falam de tudo e mais alguma coisa menos do concerto em si. Aqueles que fazem questão de nos fazer saber que já têm bilhetes para o próximo concerto do festival ou ciclo e que, se quiséssemos, tínhamos a tido a possibilidade que essa pessoa arranjasse um convite. Estes também fazem propaganda dos concertos que viram e daqueles que vão dar, dos cursos de aperfeiçoamento/masterclasses que fizeram e vão realizar, das peças que andam a estudar, dos concursos em que vão participar, das escolas e professores com que vão estudar, sem nada lhes ser perguntado. É um desenrolar quase mecânico por cada concerto que passa.

A comparação com outros concertos que nós tenhamos visto é salutar, demonstra conhecimento de recitais ao vivo, alguns deles sublimes, os quais normalmente deixam-nos sem palavras. Só o exagero de tudo ter que dizer a toda a gente é que chateia.

Há aqueles que estão a conversar tranquilamente e aqueles que pensam estar no meio de um arraial. Os que ficam no seu lugar no intervalo, porque não lhes apetece andar a cumprimentar meio mundo - finos, porque assim quem quiser vai ter com essa pessoa. E aqueles que, não vendo uma pessoa há muito tempo, só se lembram de dizer "estás com melhor cara, até o teu acne melhorou", ou "ah, agora usas maquilhagem", ou até andas a namorar, não andas?", entre conversas sobre o tempo.

Há casais importantes. Há casais fictícios ainda mais importantes. E ainda há coscuvilhice para casais que o poderiam ser. Há dissertações sobre a idade de certos músicos.

"Personagens"

Aquela que vai logo para o facebook escrever maravilhas do concerto, que aquele pianista é o maior, ou pior, que aquela cravista é a melhor e que muda de opinião ao concerto seguinte.

Aqueles que vêm sempre com CD da Fnac e que no fim passam por lá de novo.

Aqueles que ficam meia hora quer para levantar bilhetes quer para pôr o casaco de peles no bengaleiro.


A sensação de se assistir, de respirar uma interpretação, seja de que agrupamento ou instrumentista solista, ao vivo, é sempre única e irrepetível, se bem que, por vezes, inócua, outras porém, inolvidáveis.

É uma atmosfera de espera pelo novo, pela inspiração, pela surpresa, pela revolução.

Esse será, obrigatoriamente, um dos fascínios do concerto ao vivo - a não recriação total de uma gravação.

Combinam-se cafés, negócios e negociatas, jantares, namoros, gravações, recitais. Trocam-se contactos, criamos factos, ouvimos relatos.

Só que há sempre gente que não desliga os telemóveis; logo na parte mais íntima, quase silenciosa PIMBA, lá começa uma valsa de Chopin toda estridente. Há fotógrafos que usam máquinas com tamanho flash que a gente fica a parecer uns fantasmas de tão brancos que ficamos, quase hipnotizados. Há quem se lembre de se levantar a meio e passar à frente do público e das câmaras mesmo à descarada.

Pior, há gente que se veste mal, outra muito mal. Vá lá, outra que se veste muito bem. A mesma coisa na escolha dos perfumes, dos sapatos, dos adereços, da maquilhagem, do corte de cabelo. Há pessoal que leva pochete - há uma pessoa que, de tanto andar sempre com a mesma, já se tornou um clássico - e outros que andam com a casa às costas.

Vê-se mulheres bonitas, outras demais feias, horrorosas. Mas, ufa, há mulheres muito bonitas, mulheres de pianistas que são mesmo uma "brasa". Há mulheres na assistência lindíssimas, outras caquécticas. Há fascínio entre os ouvintes se uma certa e determinada pianista levar um certo e determinado vestido vermelho fatal.

Há públicos agradáveis, outros profundamente desagradáveis, mal-educados, distraídos. Há silêncios constrangedores, mas outros deliciosos.


Dedicado a todos que assistem a concertos e que vão mantendo este evento cultural com público.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves