"Dia 21, Igreja da Lapa, concerto de órgão."
Parecia ser interessante, até porque já tinha visto o concerto do dia anterior.
Sem saber mais nada lá fui.
Primeira surpresa: Entrada -10 euros! Mas então o Festival (que decorreu de 17 a 22 de Janeiro) não era todo de borla?
Entro, recebo o programa do Festival e vejo uma Igreja apinhadíssima, outra grande surpresa, pois com o frio que estava, não era nada convidativo sair de casa.
Consigo lugar no Altar (ò pra mim, em lugar importante - brincadeira) e fico de frente para o resto da Igreja e para o imponente e belíssimo Órgão de Tubos - o maior órgão sinfónico português em funcionamento -mas de costas para Jesus.
E reconheço várias pessoas: D. Manuel Clemente, Hélio Loureiro, Nuno Caaaaardoso (ok, não vale brincar com a gaguez dele), Bispos (mas nenhuma "Irmã" por sinal), e outra pessoas de que já não me lembra o nome.
Afinal ia ser concerto com vários organistas:
Jean Guillou (o mais velho), com uma casaca Azul bem vistosa, deu-me momentos de pura urticária; então não é que começou com 3 Sonatas de Domenico Scarlatti? Em órgão soam bastante estranhas, e nem eram das mais conhecidas (este compositor escreveu mais de 500 sonatas ). Mas por este organista (com uma "fulminante técnica" que "brilha e domina" - de acordo com o Programa ) parecia estar a ler à prima vista, eu só ouvia Glissandos, chocalhos e improvisações. Bolas.
Passamos para Antonio Vivaldi: Concerto para violino e orquestra transposto para órgão pelo mesmo intérprete. Outra salgalhada, só percebi o início de cada andamento, o resto era só fumaça.
Réplica Opus 75, de Jean Guillou. Estilo aleatório, um pouco incongruente. Posso estar a ser injusto, como é o mais provável, mas a necessidade de tentar transpor esta experiência para o domínio de uma determinada linguagem musical faz com que não consiga estabelecer nenhuma comparação ou tentativa de assemelhação às inúmeras linguagens do Século XX, pois parecia uma mistura muito pessoal de Serialismo, Dodecafonismo, como Impressionismo e demais linguagens.
Mas quando passa para o Concerto para 4 cravos, cordas e baixo contínuo em Lá menor, BWV 1065, em referência/como (a tradução melhor seria "depois de" - nach) o de Antonio Vivaldi Opus 3, 10 RV 580, em arranjo para 4 órgãos mais o Grande órgão de tubos; então finalmente oiço música bem interpretada.
Deu gosto ver a sobriedade de Joahannes Skudlik, um dos organistas, só a dirigir. Estando bem entrosados (linguagem futebolística), conseguiram finalmente dar algum sentido ao tempo despendido até então. Foi perfeitamente visível no semblante das pessoas que era outra maneira de tocar, outra limpeza. Pessoas que até então só punham as mãos na boca a roer a unhas ou que bocejavam (não vou dizer quem), muito desapontadas, agora renasciam.
Claro que são de excluir os alunos de órgão, que vendo os seus ídolos tocar mesmo à sua frente, lacrimejavam de orgulho, sentindo uma emoção enorme por ali poderem estar, o que é fantástico, demonstrando o poder da Música nas pessoas.
Agora vem o mais fascinante, "La Révolte des Orgues" Opus 69 para 9 órgãos e percussão. A peça, de Jean Guillou, com todos os outros organistas do Festival (incluindo o português Filipe Veríssimo), teve como maestro o mesmo da peça Bach e percussionista a muito ágil e penetrante visual e musicalmente, Hélène Colombott.
Adorei esta peça. A mistura entre os diversos registos, timbres, isto é, "personalidades" de cada órgão, com os gongos, tambores e demais instrumentos, criavam um ambiente apoteótico, envolvente, de puro êxtase. Ressoando nas paredes grossas, nos vitrais, em Jesus, com os olhos fechados sentiamos arrepios na espinha.
A completa antítese disto foi a intervenção, palestra de Padre António Ferreira dos Santos, que para dizer 2 palavras demorava uma eternidade, à espera que todas as vibrações das palavras se desvanecessem num puro e completo silêncio antes de mais 2 palavras.
Tudo isto para explicar o porquê do Festival - reunião de grandes nomes organistas - do concurso Ibérico que se realizará em Setembro, do Euro-Via-Festival, percorrendo os caminhos europeus desde Roma a Santiago de Compostela, só pelas cidades com órgãos e dos Concertos sem-paragem de Outubro próximo. Parece muita coisa, mas não é, porque demorou 40 minutos a falar.
Sejam bem vindos ao mundo dos órgãos!!!
Parecia ser interessante, até porque já tinha visto o concerto do dia anterior.
Sem saber mais nada lá fui.
Primeira surpresa: Entrada -10 euros! Mas então o Festival (que decorreu de 17 a 22 de Janeiro) não era todo de borla?
Entro, recebo o programa do Festival e vejo uma Igreja apinhadíssima, outra grande surpresa, pois com o frio que estava, não era nada convidativo sair de casa.
Consigo lugar no Altar (ò pra mim, em lugar importante - brincadeira) e fico de frente para o resto da Igreja e para o imponente e belíssimo Órgão de Tubos - o maior órgão sinfónico português em funcionamento -mas de costas para Jesus.
E reconheço várias pessoas: D. Manuel Clemente, Hélio Loureiro, Nuno Caaaaardoso (ok, não vale brincar com a gaguez dele), Bispos (mas nenhuma "Irmã" por sinal), e outra pessoas de que já não me lembra o nome.
Afinal ia ser concerto com vários organistas:
Jean Guillou (o mais velho), com uma casaca Azul bem vistosa, deu-me momentos de pura urticária; então não é que começou com 3 Sonatas de Domenico Scarlatti? Em órgão soam bastante estranhas, e nem eram das mais conhecidas (este compositor escreveu mais de 500 sonatas ). Mas por este organista (com uma "fulminante técnica" que "brilha e domina" - de acordo com o Programa ) parecia estar a ler à prima vista, eu só ouvia Glissandos, chocalhos e improvisações. Bolas.
Passamos para Antonio Vivaldi: Concerto para violino e orquestra transposto para órgão pelo mesmo intérprete. Outra salgalhada, só percebi o início de cada andamento, o resto era só fumaça.
Réplica Opus 75, de Jean Guillou. Estilo aleatório, um pouco incongruente. Posso estar a ser injusto, como é o mais provável, mas a necessidade de tentar transpor esta experiência para o domínio de uma determinada linguagem musical faz com que não consiga estabelecer nenhuma comparação ou tentativa de assemelhação às inúmeras linguagens do Século XX, pois parecia uma mistura muito pessoal de Serialismo, Dodecafonismo, como Impressionismo e demais linguagens.
Mas quando passa para o Concerto para 4 cravos, cordas e baixo contínuo em Lá menor, BWV 1065, em referência/como (a tradução melhor seria "depois de" - nach) o de Antonio Vivaldi Opus 3, 10 RV 580, em arranjo para 4 órgãos mais o Grande órgão de tubos; então finalmente oiço música bem interpretada.
Deu gosto ver a sobriedade de Joahannes Skudlik, um dos organistas, só a dirigir. Estando bem entrosados (linguagem futebolística), conseguiram finalmente dar algum sentido ao tempo despendido até então. Foi perfeitamente visível no semblante das pessoas que era outra maneira de tocar, outra limpeza. Pessoas que até então só punham as mãos na boca a roer a unhas ou que bocejavam (não vou dizer quem), muito desapontadas, agora renasciam.
Claro que são de excluir os alunos de órgão, que vendo os seus ídolos tocar mesmo à sua frente, lacrimejavam de orgulho, sentindo uma emoção enorme por ali poderem estar, o que é fantástico, demonstrando o poder da Música nas pessoas.
Agora vem o mais fascinante, "La Révolte des Orgues" Opus 69 para 9 órgãos e percussão. A peça, de Jean Guillou, com todos os outros organistas do Festival (incluindo o português Filipe Veríssimo), teve como maestro o mesmo da peça Bach e percussionista a muito ágil e penetrante visual e musicalmente, Hélène Colombott.
Adorei esta peça. A mistura entre os diversos registos, timbres, isto é, "personalidades" de cada órgão, com os gongos, tambores e demais instrumentos, criavam um ambiente apoteótico, envolvente, de puro êxtase. Ressoando nas paredes grossas, nos vitrais, em Jesus, com os olhos fechados sentiamos arrepios na espinha.
A completa antítese disto foi a intervenção, palestra de Padre António Ferreira dos Santos, que para dizer 2 palavras demorava uma eternidade, à espera que todas as vibrações das palavras se desvanecessem num puro e completo silêncio antes de mais 2 palavras.
Tudo isto para explicar o porquê do Festival - reunião de grandes nomes organistas - do concurso Ibérico que se realizará em Setembro, do Euro-Via-Festival, percorrendo os caminhos europeus desde Roma a Santiago de Compostela, só pelas cidades com órgãos e dos Concertos sem-paragem de Outubro próximo. Parece muita coisa, mas não é, porque demorou 40 minutos a falar.
Sejam bem vindos ao mundo dos órgãos!!!