Por ocasião do curso de aperfeiçoamento pianístico realizado na Fundação Engenheiro António de Almeida, houve a oportunidade de ouvir a pianista Rita Kinka ao vivo, a tocar os 24 Prelúdios, "Os quados de uma Exposição" de Modest Mussorgsky e um extra programa: "Gondoliera" de Franz Liszt, peça que faz parte do Suplemento ao Volume II de Itália dos "Anos de Peregrinação", sendo por ocasião, pelas palavras da própria, "do 200º centenário do nascimento do compositor".
A performance não começou da melhor maneira, parecendo que estava "a aquecer", com bastantes erros nos 1º (pouca clarividência na pulsação), 3º (onde estava a mão esquerda?, conseguindo enganar-se na mão direita??) e 5º (faltou maior junção das harmonias das duas mãos). Nos prelúdios lentos (2º, 4º, 6º), adorei a condução da melodia, mantendo-nos em suspense pelo que ia acontecer de seguida. Gostei da força e carácter da melodia (feita com o polegar da direita) do 8º. Gostei particularmente do 23º onde realmente senti plenitude em tudo o que a Pianista fazia. Pena que tenha sido só nessa altura. Dos restantes, senti que já os toca há muito tempo, que sabe exactamente o que quer mostrar em cada um. Delicadeza, força, direcção, proporcionaram ambientes contrastantes. tal como na peça seguinte.
Tal como no ciclo de peças anterior, na segunda parte podemos continuar a ouvir uma qualidade de som muito boa, variedade de timbres, grande musicalidade, momentos orquestrais.
O facto de a sala ser péssima - o concerto foi na sala do piso superior, que é um autêntico salão de festas, de baile, com um piano duro de roer, em vez de ser na melhor sala do auditório, que estava ocupado - não ajudou nada.
Com sala cheia, o que se revelou um dado fantástico, de como foi possível ter tanta assistência para um concerto desta natureza, o primeiro de uma temporada que foi criada para substituir a extinta (por razões económicas) que se realizava no salão Árabe do Palácio da Bolsa. Mostrou que toda a gente que ia ver os concertos no outro sítio não fugiu e que ainda mais pessoas apareceram, diversificando a audiência presente (com alemãs presentes).
Mas, como é da praxe (e tudo o que é praxe, é mau), lá estavam as pessoas que se lembram, nos momentos mais íntimos, suaves e delicados das peças, de tirar da carteira os rebuçadinhos embrulhados em plástico e toca de os desembrulhar muuuuuuito devagar, para podermos ouvir claramente cada parte a ser aberta. Chiça, que estas pessoas ainda não meteram na cabeça que ou fazem isso ANTES do concerto começar ou nas partes de maior volume ou "Façam o favor de serem rápidos". Não há paciência para essas coquetes!!!!
O extra foi lírico e delicado. Conseguiu transportar-me para outros mundos.
A opinião das pessoas foi muito positiva, até para o vestido da pianista.
Foi um concerto a que valeu a pena ter assistido.