sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Rei Demos

Real, Real, Por Quem Não Merece Portugal!
1. Dou o meu inteiro apoio ao Movimento das Forças Amadas e à Junta de Salvação Nacional, a minha plena adesão ao seu Programa, especialmente em ordem à instauração de uma verdadeira e consciente Democracia, saneamento da vida pública e solução do problema do Ultramar, no mais estrito respeito pelos inalienáveis direitos da pessoa humana.
Mensagem do Príncipe da Beira, 1974

Heróis do Mar - Revolução



Agradeçam ao Homem de Muge

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Chaves do Céu

Isaías 22:22

"Naquele dia chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias, e vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto, e entregarei nas suas mãos o teu governo; e ele será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá.
Porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro; ele abrirá, e ninguém fechará; fechará, e ninguém abrirá."

Evangelho de S. Mateus, 16:19:

"Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra, será desligado nos céus".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Le Rebelle

Un Ange furieux fond du ciel comme un aigle,
Du mécréant saisit à plein poing les cheveux,
Et dit, le secouant: «Tu connaîtras la règle!
(Car je suis ton bon Ange, entends-tu?) Je le veux!

Sache qu'il faut aimer, sans faire la grimace,
Le pauvre, le méchant, le tortu, l'hébété,
Pour que tu puisses faire à Jesus, quand il passe,
Un tapis triomphal avec ta charité.

Tel est l'Amour! Avant que ton coeur ne se blase,
À la gloire de Dieu rallume ton extase;
C'est la Volupté vraie aux durables appas!»

Et l'Ange, châtiant autant, ma foi! qu'il aime,
De ses poings de géant torture 1'anathème;
Mais le damné répond toujours: «Je ne veux pas!»

— Charles Baudelaire

Liszt : Totentanz - Dança da Morte

José Vianna da Motta ( 1868-1948 )






"Cristo profetizou todos os pormenores da arquitectura gótica na Sua reacção às objecções que as pessoas nervosas e respeitáveis (...) levantaram aos brados dos garotos das ruas de Jerusalém. «Se estes se calarem, as próprias pedras clamarão», disse Ele. E foi assim que, sob o impulso do Espírito, surgiram as fachadas das catedrais da Idade Média, cobertas de bocas escancaradas e de faces que gritam
/as gárgulas/ , qual coro de clamores. A profecia cumpriu-se: são as próprias pedras que clamam." G. K. Chesterton - Ortodoxia


György Cziffra ( 1921–1994 )



domingo, 25 de setembro de 2011

Novio de la Muerte

Nadie en el Tercio sabía
quién era aquel legionario
tan audaz y temerario
que en la Legión se alistó.
Nadie sabía su historia,
más la Legión suponía
que un gran dolor le mordía
como un lobo el corazón.
Cuanto más rudo era el fuego
y la pelea más fiera,
defendiendo su Bandera,
el legionario avanzó.
Y sin temer el empuje
del enemigo exaltado,
supo morir como un bravo
y la enseña rescató.
Y al regar con su sangre la tierra ardiente,
murmuró el legionario con voz doliente:
Soy un hombre a quien la suerte
hirió con zarpa de fiera.
Soy un novio de la muerte
que va a unirse en lazo fuerte
con tal leal compañera.
Cuando al fin le recogieron,
entre su pecho encontraron
una carta y un retrato
de una divina mujer.
Y aquella carta decía:
"...si Dios un día te llama,
para mí un puesto reclama,
que a buscarte pronto iré".
Y en el último beso que le enviaba,
su postrer despedida le consagraba.
Por ir a tu lado a verte,
mi más leal compañera,
me hice novio de la muerte,
la estreché con lazo fuerte
y su amor fue mi Bandera.

sábado, 24 de setembro de 2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Verdade em História

Em qualquer uma das modernas línguas ocidentais a palavra Verdade (Truth, Warheit, Pravda, Verité, Verdad) carrega um significado etimológico que joga simultaneamente com o mundo do facto e com o do valor. A Verdade é, assim, em simultâneo, juízo de valor e afirmação do facto. A verdade exige uma valorização absoluta (como aquela que fez Marx quando considerou a luta de classes como o principal motor da mudança histórica) tanto para os factos sem valor como para os juízos de valor. Ora a subjectividade é uma característica preponderante para a definição da investigação histórica. A Verdade Histórica tem, por tal, de se situar numa posição intermediária entre estes dois pontos, uma vez que o seu absoluto é, nos dizeres de Butterfield, a mudança. Este mesmo factor impede-a de ter "leis" capazes de fazer previsões futuristas, próprias de uma ciência como a económica (pelo menos é assim que actuam certos economistas), mas tem uma contextualização que permite analisar tendências, permitem pressentimentos, descobrir padrões (apesar de estes nunca serem gerais) e mecanismos de mudança histórica em geral.

Ainda em relação a este tema, faço minhas as palavras de A. von Martin, quando este define , na sua "The Sociology of the Renaissance", a História como um composto entre um elemento positivo e absoluto - a mudança; e outro elemento subjectivo e relativo - a inércia. Deste modo podemos dizer, com o filósofo colombiano Nicolás Gomez Dávila, que a "Verdade está na História, mas a História não é a Verdade". A História é necessariamente Objectiva quando se limita a reconstruir a consciência que um determinado passado teve de si mesmo. É o historiador, com a sua subjectividade, com as suas causas e as suas estruturas que a transforma, na ânsia de transcender a impressão empírica de uma consciência alheia, em mera projecção da sua própria consciência.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sentido da História

EL individuo cree en el «sentido de la historia» cuando el futuro previsible parece favorable a sus pasiones (EI, 272c).

Nicolás Gomez Dávila, Escólios

domingo, 18 de setembro de 2011

‎"All that is gold does not glitter,
Not all those who wander are lost;
The old that is strong does not wither,
Deep roots are not reached by the frost.

From the ashes a fire shall be woken,
A light from the shadows shall spring;
Renewed shall be blade that was broken,
The crownless again shall be king."

— J.R.R. Tolkien (The Fellowship of the Ring)

sábado, 17 de setembro de 2011

Um Amigo

Que surge, surpreendentemente, nos sítios mais inesperados.

ver sobre o autor:

Ao Encontro da Madrugada



"Para testemunhar a verdade da sua Terra, mandou Deus a geração nova. Para testemunhar a mesma verdade, praticando o acto de Inteligência que eu peço à geração nova para praticar, é que eu me confesso católico e monárquico.
Confessando-me católico e monárquico, confesso o património civilizador da minha Raça e a parte que me cabe, dentro dele para o prolongar e enriquecer ainda mais. Preparemos os corações, saindo pela noite funda ao encontro da madrugada!"

António Sardinha

Na Floresta do princípio dos tempos

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão-de crer em Mim, para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. Dei-lhes a glória que Tu Me deste, para que sejam um como Nós somos Um. Eu neles e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que Tu Me enviaste e os amaste, como Me amaste a Mim. Pai, quero que aqueles que Me deste, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a minha glória, a glória que Tu Me deste; porque Tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, se o mundo não Te conheceu, Eu conheci-Te, e estes conheceram que Tu Me enviaste. Dei-lhes a conhcer o Teu nome e dá-lo-ei a conhecer, para que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu esteja neles também.




João, 17, 20-26

Literacia Musical

" Se perguntarmos a quem usa o termo "literacia musical" o que entende como tal (qual o seu significado), a resposta quase sempre é referida à habilidade para se funcionar fluentemente enquanto músico. Mas, procure-se o significado mais profundo de 'função', 'fluência' ou 'músico', e torna-se claro que essa visão se restringe quase exclusivamente à habilidade para decifrar notação escrita e, por sua vez, transformá-la, com a máxima 'exactidão', em som.
Mas, problemas emergem na base de conceitos de "literacia musical" como este. É que, enquanto muitos músicos espalhados pelo mundo conseguem decifrar fluentemente notação escrita, muitos modos de fazer música existem onde a notação não tem qualquer lugar. (...) Por outro lado, uma exposição precoce à leitura de partituras pode levar os indivíduos a subvalorizar ou não focalizar devidamente características ou aspectos da música relevantes, (...) assim como, enfatizar ou privilegiar a partitura pode dar origem ao atrofiamento de capacidades criativas ou até de memorização musical (...). "

Mills, J. & McPherson, G. (2006), Musical Literacy, in G. McPherson, The Child as musician, Oxford: Oxford University Press, p. 155 e 156.

Como interpretar esta problemática?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O CRAT - o C

O leitor incauto perguntar-se-à sobre o que raio é um CRAT. Na busca desesperada para encontrar um termo que defina um movimento conservador, reaccionário, autoritário ou tradicionalista, resolvi por fim baixar os braços, desistir e entregar a um movimento sério e promissor uma temporária sigla pateta - C(onservador) R(eaccionário) A(utoritário) T(radicionalista).

Um movimento conservador baseia-se em 6 premissas:
1 - todo o edifício de pensamento conservador assenta na crença num Princípio Criador de todo o Universo, um Mestre Eterno com autoridade suprema sobre as leis materiais da Existência;
2 - a moralidade absoluta. Proveniente da experiência religiosa e social da comunidade, é inquestionavelmente a base da lei pública, e daí a necessidade da existência do Estado, que é o promotor principal do Bem Comum;
3 - o princípio fundamental da acção do Governo é balizado pelo princípio da subsidiaridade, presente na Doutrina Social da Igreja Católica, ou seja, a acção do aparelho burocrático supremo só se deve dar quando os organismos mais pequenos e pessoais (Família, Paróquia, Município, Empresa, Sindicato, Associação, etc.) falharem em providenciar à sociedade uma resposta eficaz que apazigúe a exigência de Paz Pública demandada pelo Bem Comum a toda a sociedade;
4 - o Estado deve preservar e respeitar a originalidade regional dos múltiplos centros de poder tradicionais.
Não só se impõe um reforço do princípio da subsidiaridade, como um movimento CRAT propõe toda uma nova perspectiva sobre o problema da soberania e os limites do poder estatal - o poder estatal absoluto criado pela Revolução Francesa e pelo Demo-Liberalismo, reforçados pelos Nacionalismos e pelos Socialismos e agora pelo Mega-Estado Europeu são aqui postos em causa e em cheque. Toda uma nova orgânica presta-se aqui a ser construída;
5 - anti-individualismo.
O limite pessoal em prol do bem da comunidade é mais valioso do que o esforço sobre-humano para vencer a todo o custo a competição que a Educação e a Mentalidade Moderna querem implementar nas mentalidades ocidentais. A Massificação e a Uniformidade são características Pós-Modernistas enquanto que a Heterogeneidade e a Unidade são os fundamentos da riqueza cultural e civilizacional Europeia.
6 - a procura por um equilíbrio sustentável entre a Liberdade pessoal e a liberdade das unidades tradicionais da sociedade. Este equilíbrio deve partir pela atribuição a cada indivíduo do máximo racional de liberdade. Esta Liberdade pauta-se pela felicidade individual e social, e não tem nada a ver com a suposta "liberdade para errar". No Erro não existe Liberdade, pois ele afasta a Dignidade e a Espiritualidade. No entanto, o princípio do máximo de liberdade racional não se prende a uma norma puritana ou a um Estado Totalitário Ultra-Moralista. Tal como afirma São Tomás de Aquino, o ser humano tem como dado inerente à sua existência a Culpa, o Pecado Original, e como tal, apesar de poder ser aperfeiçoado, não terá nunca a possibilidade de se tornar perfeito. Como tal, sendo o pecado parte natural do homem, tem o Estado obrigatoriamente de velar pelo seu bem mas ao mesmo tempo permitir que este possa conviver e aprender com os seus instintos pecadores, uma vez que esta é a sua natureza concedida por Deus.
Um Estado que proíba totalmente o pecado é uma negação do Homem e da Redenção.

Posta esta exposição, pergunta-se o leitor "Não é pois suficiente a denominação de Conservador para um movimento que pretende ser, antes de tudo, conservador?"Seria, não fosse a própria raiz da palavra inútil à vista da actualidade portuguesa. Já não há nada para conservar em Portugal. A Tradição ou morreu ou vai lutando quase desarmada contra um Estado poderosíssimo e uma Nova (a)Moralidade invencível e destrutiva. Os partidos conservadores portugueses são aqueles que, aceitando os preceitos da Revolução e do Materialismo, apenas pedem que se mantenha algum do status quo antigo, que lhes permita alguma da paz social mínima para manter alguma capacidade produtiva e as diferenças sociais que lhes agradam, não por sentido de dever patriótico mas sim por utilitarismo e vaidade pura. Um Movimento CRAT não é só conservador. Nas Palavras de António Sardinha:
«Não somos conservadores - dada a passividade que a palavra ordinariamente traduz. Somos antes renovadores, com a energia e a agressividade de que as renovações se acompanham sempre. O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra. Destina-se a conquistar - e nunca a captar. Não nos importa, pois, que na exposição dos pontos de vista que preconizamos se encontrem aspectos que irritem a comodidade inerte dos que em aspirações moram connosco paredes-meias. É este o caso da Nobreza, reputada como um arcaísmo estéril em que só se comprazem vaidades espectaculosas. A culpa foi do Constitucionalismo que reduziu a Nobreza a um puro incidente decorativo, volvendo-a numa fonte de receita pingue para a Fazenda. Foge, cão, que te fazem barão!- chacoteava-se à volta de 1840. Mas para onde, se me fazem visconde?! E nas cadeiras da governança o cache-nez célebre do duque de Avila e Bolama ia esgotando os recursos do Estado em matéria de heráldica.»
E é precisamente esta peculiaridade que nos leva ao segundo elemento de um movimento CRAT, em análise no próximo texto: o T.

Acordo Ortográfico

Aconselho a visionar o programa de hoje (16 de Setembro de 2011) do Sociedade Civil, sobre o Acordo Ortográfico, da RTP2.

Mente Moderna, Mentira Moderna

The Problem with Liberalism, in Collapse, The Blog

What an intolerable thing it must be to a liberal: to be on the side of history that has experienced unparalleled success; to identify with an intellectual and philosophical tradition that has not only succeeded in its goal of destroying an entire civilization but has succeeded to such an extent that the survivors of this moral and rational apocalypse imagine themselves more civilized than ever, despite veering back toward illiteracy, paganism, and squalor; and yet to measure their successes against an impossibly high standard, a standard so high that every minor breach of their false and evil creed -- even a largely-unread post on some nobody's blog -- produces oceans of inchoate rage. What a miserable endeavor modernity has been: always destroying, always negating, but never producing anything of value and never fulfilling its promises. Somewhere in Hell, the devil is surely dancing at his triumphs.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Trono Vago

Repúdio de Évora-Monte

Em consequência dos acontecimentos que me obrigaram a deixar os meus domínios de Portugal e a abandonar interinamente o exercício da minha autoridade, a honra e a dignidade da minha pessoa, os interesses dos meus fiéis vassalos, e, finalmente, todos os motivos de justiça e decoro me obrigam a protestar, como protesto à face de toda a Europa relativamente a todos os acontecimentos acima mencionados e contra qualquer inovação que o governo de Lisboa tenha introduzido ou haja de introduzir às leis fundamentais da monarquia.
Deve concluir-se do que fica dito que a minha aquiescência a todas as estipulações que me foram impostas pelas forças preponderantes, confiadas aos generais dos governos actualmente existentes em Lisboa e Madrid, de acordo com duas grandes potências, foi da minha parte um mero acto provisório, dirigido a salvar os meus vassalos de Portugal de grandes desgraças que a minha justa resistência não lhes teria poupado, sendo, como fui, surpreendido por um ataque imprevisto e ilegal de uma potência amiga e aliada. Por todos estes motivos, tenho firmemente resolvido, logo que esteja no meu poder (como convém à minha honra e obrigação), fazer conhecer a todas as potências da Europa a injustiça da agressão dirigida contra os meus direitos e pessoa, e protestar e declarar, como protesto e declaro agora, que estou em liberdade, contra a capitulação de 26 de Maio passado que me foi proposta pelo governo de Lisboa; acto que assinei para prevenir maiores desgraças e poupar o sangue dos meus fiéis vassalos. Esta capitulação, portanto, deve ser considerada nula e sem efeito.

Porto de Génova, 20 de Junho de 1834 - D. Miguel de Bragança

Retalhos de um Professor de Piano ( V )

Gosto em ser professor

(...) Fazer crer em alguém, ao longo das aulas, que temos de ter um cuidado extremo para com os sons, de forma a podermos transmitir as nossas emoções e as emoções dos compositores de forma mais fidedigna, mais inteligente possível, usando a intuição, pois claro, o instinto, o irracional, isto tudo é uma tarefa premente, que nos irá facilitar a vida, para que da música aprenda a gostar. (...)

Caso queira ler o artigo completo, poderá encontrá-lo no nº 880 do Jornal "A Voz de Ermesinde", edição de 10-09-2011, já nas bancas.

Recordações da Hungria (VI)

Esquilos, montes de esquilos.
Árvores, muitas árvores. De fruto, de folhagem, de contagem decrescente para o quarto crescente lunar.
Eram momentos de pura leveza, rebelião das águas do rio Danúbio contra as pedras de pouca envergadura que ladeavam aquela parte da Ilha Margaret, mesmo no meio deste inigualável, insofismável, grandioso, fogoso, longo rio, junto à capital de uma parte do, outrora, Império Austro-Húngaro. Budapest era, de um lado e do outro, existência civilizacional à parte.
Ora olhava-se para a esquerda, Buda, o Castelo, símbolo de decadência pela sua escadaria pouco cuidada, portas fechadas e degradas, quase em ruína, essas de entrada daquela "Villa" privada, senhorial. Para a direita, Pest, o centro, a Música, as paixões, as convivências a pulularem por entre edifícios históricos, pessoas em feriados nacionais histriónicas.

Naquele lugar, porém, nada disso vinha ter connosco, mesmo que ao de leve.
Tínhamos o nosso próprio silêncio.
O que fazíamos era muito mais prazeiroso, tentar tirar fotos a esquilos, montes de esquilos.
A minha reluzente companheira nessas andanças, nesses correres e saltares tão pueris, perfilhava-se como uma sedutora de esquilos perfeita.
Lembro-me como se fosse hoje, sentia aquela aragem perfumada de tudo e de nada e afinal era só a face a corar de tanto correr através do bosque.

Até que, enfim, nos sentámos, completamente corroídos por essa benevolência do corpo: o cansaço.
Ao lado dos bancos estendia-se uma das poucas áreas que não tínhamos calcorreado. Escorrego, deslizo, espreguiço-me por entre a verdura ainda fresca desse rigoroso inverno.

Ela continua a falar das aulas que teve com o irmão de Ivo Pogorelich, um tanto ou quanto boas demais para quem também tinha laivos de loucura, poucos é certo - ela sublinhava isto com veemência, chegando quase a começar a falar no seu idioma. Eram coisas que lhe inculcavam amor à Pátria, amor à Música.

Eu ainda me deliciava com aquele cheiro pressentido, reflectido no meu espelho sensorial que, por qualquer razão ainda hoje inexplicável, era de tâmaras.

Que saudades daquelas caminhadas, daqueles passeios ao domingo, daquele tempo passado a reflectir, com aquela prestimosa, sedutora de esquilos muito engraçada.

Em suma, aquilo foi uma adorável peregrinação pelos locais escondidos e reveladores do

šuma.

sábado, 10 de setembro de 2011

Fundamentos da Monarquia Hispânica

texto de Flávio Alencar para a revista Aquinate
A prática política ibérica baseava-se num modelo de Monarquia tradicional ou orgânica, de raiz medieval, em que o rei era, entre os grandes senhores, um primus inter pares. O rei não concentrava as decisões, mas vigorava o princípio da subsidiariedade, segundo o qual as instâncias de poder mais locais devem em geral resolver as questões de que sejam capazes. Conforme a necessidade, apelar-se-ia a esferas mais altas, que têm assim um papel subsidiário, se responsabilizando por empresas e encargos que fogem da capacidade da família e do município, e administrando a justiça. A Monarquia orgânica estruturava-se hierarquicamente, como uma pirâmide em que no cimo há muita autoridade e pouco poder, e na base há muito poder e pouca autoridade. O poder dos senhores locais sustentava a autoridade do rei, que assumia assim a figura de pai, senhor e juiz de todos. Os súditos devem respeitar e obedecer ao rei como pai, e o rei deve ser justo, solícito e misericordioso para com os súditos como para com filhos seus. Neste contexto, se podem entender os mecanismos de lealdade e de concessão de graças e mercês que marcam a relação entre rei e súditos nas sociedades de corte no Antigo Regime.

Em Portugal e Espanha, a Monarquia tradicional se assentava sobre um paradigma corporativo, como tem salientado um número cada vez maior de historiadores, seguindo a senda indicada por António Manuel Hespanha e Angela Barreto Xavier. Esta historiografia aponta para a necessidade de compreender o Antigo Regime Ibérico a partir de seus próprios usos e costumes, instituições e práticas. Aplicar, no estudo das sociedades de Antigo Regime, noções próprias da democracia liberal que sucedeu a Revolução Francesa – no caso do direito, p.ex., a noção de direitos individuais, de fundo racionalista – é condenar-se a não compreender essas sociedades em razão do anacronismo dos conceitos empregados. Aliás, esta acusação de anacronismo é a que, no caso do Brasil, fazem os partidários da idéia de Antigo Regime nos trópicos – estribada no paradigma corporativo – aos que defendem a noção de Antigo Sistema Colonial, prenhe de uma inegável visão economicista da História.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Four Religions


Four religions:

Liberalism: A single human world ordered by pure reason, based on pure (content-free) concepts. Freedom says you ignore the content of human goals so you promote all of them simply as such, and equality says you ignore the content of human qualities so you treat all men as equal in value. Put them together and you get liberalism.
Islam: A single human world ordered by pure will. There’s no place for reason, since God, who acts by arbitrary choice and is not bound by reason, is the immediate cause of everything.
Judaism: Two parallel human worlds, the public world everyone is part of that can be appropriately ordered by pure reason, and a private Jewish world ordered by will in the form of a contract between God and the Jewish people that imposes arbitrary conditions like keeping kosher.
Catholicism: Two human worlds, the order of nature and the order of grace, that are conceptually distinct but cannot be separated without violence because they are part of a single rational divine order: grace completes nature, and is meant for all.
To the extent the foregoing schema approximates reality, it appears that liberalism and Islam are direct mortal foes, and liberalism and Judaism are natural allies, since they need not interfere with each other. Liberalism and Catholicism can work together on some practical issues but in the long run are irreconcilable since the conceptions or reason and reality are different—Catholic reason has natural-law content, liberal reason does not.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Monarquia e Constituição

Kings and Constitutions
Any constitution strong enough to prevent a monarch from doing wrong is also strong enough to prevent a monarch from doing what is right.
(...)
A constitution is a legal document, it is blind, impartial, unfeeling and heartless. At certain times and in certain circumstances those can all be positive things but they can also be negative. A monarch, on the other hand, is fallible like anyone else, but can also have humanity and compassion in a way that no legal document possibly could. No code can ever cover every eventuality and even under the best of circumstances a constitution will always come up lacking and have to be revised, amended or reinterpreted. In some cases, such as we are seeing today all around the world, they can be reinterpreted out of all recognition from what their original intent was. In a republic a constitution is necessary because, like constitutions themselves, a republic lacks humanity. It sees the people as numbers on a page, as economic units or as a herd to be controlled and managed toward a productive end (productive for someone at least). However, a monarch, without a written constitution has the freedom to use his or her own judgment, common sense and to adjust policy with humanity and compassion, seeing beyond the cold hard facts to the greater, evident, truth. A democratic constitution, for example, would say that the majority is right, no matter what the circumstance, and must be satiated. A monarch without a constitution can, contrarily, overrule the majority when what they want is clearly detrimental to themselves, society or the good of the country.
(...)
A monarch has a conscience, a constitution cannot. A monarch can treat people with dignity and as individuals according to their unique circumstances or situation. A constitution sees no individuals, only a nameless, faceless number on a census report. The most powerful or the most powerless can be crushed by the unfeeling legalism of a constitution and no constitution is fool-proof. We are seeing that today, in my opinion, reflected in republics like Greece, Portugal and Italy as well as constitutional monarchies like Spain or Belgium. Their constitutions did not keep them from losing -at least in some measure- sovereignty to the European Union nor did they check the power of the government from enacting socialist policies that have ruined their economies, destroying the productive and rewarding the unproductive to the point that they are now near collapse. The original British constitutional monarchy, which maintained a balance of power between the Crown, the lords and the commons, worked quite well but it has been changed to something, by this point, completely different from that system. Constitutions can be good and in some cases can be necessary but history and the present day situation of the world only reaffirms my belief that they are not absolutely essential and can even be, at times, a detriment.

O Peregrino

"Sou e não sou. Desapareço e apareço. Faleço e ressuscito! Ando de morte em morte, de vida em vida [...] Sou o judeu errante, o peregrino. Sou eu, em mim, dentro de mim, em carne e osso, e uma substância incandescente que me ilumina e consome. Exaltada pelos ventos, irrompe do meu ser, devora-o e é só ela - a estranha flama enlouquecida! Entonteço-me de fumo, não me vejo. Sou uma pessoa que eu nunca vi - aquele negro espectro que se eleva dentre os escombros dum incêndio. Apavora contemplá-lo; mas não lhe posso fugir. Pelo contrário, terrivelmente seduzido, mais me aproximo dele; confundo-me com ele e sou uma criatura absurda que existe e não existe [...]
Sou um absurdo; e este absurdo é a força que me sustenta de pé, entre a realidade inferior e o sonho etéreo."
Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves