Repórter Flash - Mas, ao menos, não vislumbras, ao de leve que seja, a tão célebre e cantada liberdade de expressão? Claro, sempre de mão dada com a ausência da famigerada censura?...C.A Dragão - Bem, liberdade, não direi tanto de expressão, mas de excreção é um facto. Uma avalanche, melhor dizendo. Por outro lado, se liberdade é sinónimo exclusivo de quantidade, então vai para aí uma liberdade de três em pipa. Mas se formos atentar na expressão enquanto valendo alguma coisa, enquanto qualidade alguma, nesse caso, que vantagem há? Se o que eu exprimo não vale nem conta para nada, a minha expressão é, no mínimo, inexpressiva - quer dizer, é uma não-expressão. Uma impressão se tanto. Portanto, quando muito, há liberdade de impressão, excepto nos jornais, rádios e órgãos mediáticos em geral, onde a coisa fia mais fino, e o critério editorial substitui o lápis azul. Entretanto, se a palavra é esvaziada de todo e qualquer valor, de toda e qualquer consequência, se é pura e simplesmente esterilizada, que fruto, interesse ou sentido poderá realizar a emissão da dita? O que acontece é uma inflação desmedida do discurso, donde resulta a bancarrota da opinião. Mais, pois, que o falar-barato, impera o verbo-falido - onde antigamente represava a escassez, devasta agora a saturação. O mesmo espírito que antes se lamentava da dieta forçada, sucumbe doravante ao empanturramento ininterrupto. Todos podem dizer tudo, uma vez que tudo nada vale, nada diz e nada significa. Quanto à famigerada censura, não desapareceu nem, tão pouco, diminuiu: transitou apenas da esfera política para a órbita económica. Sendo menos aparente, tornou-se, não obstante, mais insidiosa e ubíqua. Com sanções bem mais eficazes e vitalícias: teme-se mais hoje o desemprego do que ontem se receava a prisão. E isto não manifesta apenas uma superior pusilanimidade dos actuais. Revela sobretudo do carácter sádico da pena: afinal, o limbo sempre é mais degradante e solitário que o simples calabouço.Repórter Flash - Portanto, se bem entendo, ó Dragão, todas essas hordas tenebrosas de fascistas, nazis e católicos ultramontanos que conspiram na sombra para acabar com esta maravilhosa democracia estão redondamente iludidos...C.A Dragão - Essa é a retórica rançosa dos democratas recauchutados da loja dos trezentos, como um tal Pacheco Pereira e outros transexuais ideológicos da mesma estirpe: os perigos iminentes de algo que não há atacar algo que não existe. Por outras palavras, mera trampolinice do parasita - do intelectual lombriga - instalado no âmago da "soberania popular": entreter o hospedeiro, através da munição dispendiosa de pau e saco, e o serviço de guia por controlo remoto no sempiterno safari da caça aos gambozinos. Ou em síntese: Comam a sopa toda senão vem lá o papão!... Sopa de bacalhau, ainda por cima.
No sapatinho
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No Natal de 2024 só tive direito a isto. Paciência: para o ano será
melhor...
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