quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Crítica de concerto (VII)

Dia 11 / 2 / 011



Concerto de intercâmbio entre alunos de composição da ESMAE e da Universidade da Califórnia de Santa Barbara, nos Estados Unidos da América.

Este foi o segundo concerto da série Intercontinental. Realizou-se no Hard Club, no Porto, pelas 22horas (mas atrasado, como é costume).

Apresentação resultante da cadeira ministrada na ESMAE de Ensemble I&D, com direcção musical de Eugénio Amorim e Direcção Artística de Dimitris Andrikopolous.

Como primeira peça, surgiu "Echoes from the Holocaust" para oboé, viola e piano, de Joel Feigin.

A pianista, tecnicamente irrepreensível, estava completamente sozinha, parecia estar a gravar em estúdio. E a entrada da oboista foi péssima, tal como o entendimento ao longo da peça com o violetista. A partitura era horrível, "sofria de gaguez", atropelos, demasiados silêncios. Abruptos, este "ecos" pareciam fragmentos das esgares e cantares desse tormentoso período da História Europeia. Mas naquela sala e, ainda para mais, com falta de ambição por parte dos instrumentistas, nada feito.


Refiro-me à sala porque era penoso ter de ouvir o zumbido permanente proveniente do ar condicionado, do bar, das luzes. Estas, bem, houve cá cada queixa sobre o facto de nas pontas do palco não haver foco de luz suficiente para se ver as partituras!!!

Cada silêncio era uma oportunidade para desancar naquela maquinaria toda.


Gostei de "Golden Winter State" de Joann Cho. Finalmente ouvia algo sinteticamente apelativo. O Ensemble lá se deu razoavelmente. Pequenos mundos e fundos se vislumbraram.


A prima parte termina com uma excelente peça de Igor Silva "Clepsidra", para Ensemble e Electrónica.

Cascatas, mundos de fantasia, memórias pueris. Boa e enérgica direcção de Eugénio Amorim, embora com momentos de "puro terror": enquanto o Igor lidava com a electrónica, a orquestra atrasava e acelerava compassos inteiros!!! com o Igor a ficar sem chão.

Esta Clepsidra (relógio de água) teve várias faces e foi bastante aplaudida.


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Recomeço com "Canonzetta" de Chiareza Barlo.


Mas qu'ésta merda, pá?


Então apresentam uma peça tonal do mais fraquinho estética e harmonicamente, com um texto no programa a gozar connosco: "Nesta obra a preocupação intensa do compositor com a técnica dodecafónica manifestada nos dois anos anteriores da criação à Canonzetta, NÃO É PRESENTE." e ainda querem que leve isto a sério?
Não estou contra a produção da obra, mas sim a sua apresentação neste enquadramento. Então tocavam peças portuguesas contemporâneas do género bem melhores. Sé para escrever coisas irónicas, com humor subtil e satírico, então não se apresentem "La Palissadas". Para isto vou a um "bidonville" ouvir umas valsas.

A interpretação também foi de rir.

A violoncelista a fazer cá um frete, só queria matar a pianista com o olhar. Esta, coitada ou não, disfarçava o nervosismo e "toca" de correr ou atrasar conforme a disposição, tentando errar o menos possível. O violinista, esse, estava na boa. Têm desculpa?

Têm: a qualidade da peça era medíocre e ainda por cima, só tiveram 2 semanas para treinarem, tal como o restante programa.

Assim, não.


"Moment" de David Gordon.

Hummm, ok, passa à frente.



Estupenda peça de Diogo Carvalho: "Ondas de memória". Ensemble


Dividida em 2 partes, fez-me pensar imenso na Humanidade, seus problemas e reflectir na literatura de Vergílio Ferreira, cuja relação com o texto do programa era imediata: "(...) Às vezes, porém, paras numa, e é como se toda a vida se fixasse aí. E giras em torno, numa obsessão (...), em vez de te fixares realmente, quando menos julgas estás parado noutra folha, noutra janela, noutra paisagem." In Estrela Polar

Por fim "Homenagem a um Fugidio" de Carlos Brito Dias. Mesma formação

É com muita pena que não consigo ter uma opinião mais pensada sobre esta peça, já que me influenciou muito a 2ª parte da peça anterior, de tal forma que este era ideal para espelhar o sofrimento, desânimo e desespero de quem procura e perde um familiar e a do Carlos já não teve tanto impacto. Por isso, não quero ser injusto. Estão de Parabéns.

De realçar que houve instrumentistas mais "felizes" nas peças que receberam, influenciando a forma de os ouvir.


Pagar 2€ não é nada, mas...


Ah, e da próxima vez, não se esqueçam de escrever a data, o local (um logótipo não chega) e hora do concerto. Dá jeito.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves