segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Crítica de concerto (III)

No passado dia 17 de Dezembro, pelas 21:30 horas (mas como é evidente, atrasado, pois nada começa a horas em Portugal, infelizmente) assisti a um concerto de Natal na Sé Catedral do Porto, patrocinado pelo Núcleo do Porto do Centro Nacional de Cultura.

Intérpretes:
Orquestra do Norte dirigida pelo Maestro José Ferreira Lobo, que interpretaram o Concerto grosso Nº8 em Sol menor, Opus 6 "Fatto per la notte di natale" de Arcangelo Corelli e a Oratória de Natal Opus 12 de Camille Saint-Saëns,

Esta última com:
Coro do Ensemble Vocal PRO MUSICA e os seguintes cantores solistas líricos:
Elvira Ferreira - Soprano,
Margarida Reis - Mezzo-Soprano,
Manuela Teves - Mezzo-Soprano,
José Manuel Araújo - Tenor,
Pedro Telles - Barítono.
A juntar o Organista Pedro Nuno Leite.

Gostei bastante de ver a Sé repleta de gente, bem iluminada e com boa reverberação tanto junto aos músicos como à entrada.

O concerto foi gracioso, elegante, por vezes parecia desaparecer de tanta preocupação em tocar ao de leve. Conseguiu, em parte, reviver o espírito barroco do cruzamento de linhas melódicas e harmónicas, do contraponto.

Agora, quando entram os Solistas, aí fiquei estarrecido.
Era a Orquestra a lutar para se fazer ouvir, sem sucesso; era o desencontro entre o Coro e os Solistas, era entre os Solistas uma chiadeira descomunal.

Peço desculpa, caro leitor, mas o que tem ser, tem muita força.

Só quando a cantora Margarida Reis cantava eu ficava a perceber como eram as melodias, é que alguma paz entrava no concerto, é que se percebia a letra. Nos duetos ou tercetos, era cada cada um pra seu lado.
Tenho um azar dos diabos, sempre que oiço o cantor Pedro Telles, nunca o oiço bem, parece cantar com a garganta, a sofrer tumultos e convulsões do Inferno, voz muito presa. Tenho ouvido dizer muito bem deste cantor, por isso só posso dizer que é má sorte a minha.

O cantor José Araújo, mesmo não sendo repertório, na minha simples opinião, para o seu registo/sua voz, esteve muito bem, vê-se que é alguém que percebe do assunto, com boa técnica, boa colocação, pouco exagero no vibrato, boa relação com a orquestra, boa postura de palco, um gentleman.
Manuela Teves - muito apagada, pouca postura em palco, colocação de voz limitada, mas boa relação com os colegas. Mas nota-se que trabalhou o repertório.

O problema maior foi a histérica cantora Elvira Ferreira. Francamente, todos aqueles vibratos de 3ª Maior, qual era a nota mesmo que queria cantar?
E que tal cantar mais baixo? E não andar a acelerar em relação ao andamento do coro e da orquestra? E não tentar abafar os outros cantores? Um pouco mais de simplicidade nos ataques agudos e graves e mais honestidade para com o que o compositor escreveu daria um melhor resultado musical.

O coro esteve bem integrado com a Orquestra, muitas vezes tinha que se haver com os dislates de alguns solistas. Mesmo tendo menos elementos masculinos que femininos, ouviam-se bem todos os registo. Fiquei surpreendido com alguns/as pianistas que cantaram muito bem (normalmente isso não acontece).

Foi um serão Musical bem conseguido, em que terá valido a pena sair de casa numa das noites mais frias deste Inverno, até ao momento.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves