A ideia de que tanto a Arqueologia como a História são duas ciências "irmãs" parece-me tão errada como até perigosa para o espírito académico que as anima.
A própria complementaridade entre Arqueologia e História pode ser posta em causa, uma vez que os pontos que as interligam são tão comuns como as semelhanças entre a História e a Sociologia. Especialmente em Portugal a confusão ente os domínios das duas ciências tem sido obra de alguns irresponsáveis pragmáticos, que vêm a necessidade de "trabalho à vista" como a perfeita justificação para uns subsídios de investigação académica. A perversão destas duas ciências pelo excessivo convívio é notório.
A Arqueologia é a Logia do Antigo: não lhe interessa uma objectiva contextualização dos dados, apenas a sua conservação e estudo.
A História é o registo de uma sucessão continuada de acontecimentos cuja evolução está regida por causas profundas e, por sua vez, submetidas a leis universais.
Como escreveu Eric Hobsbawm: “O que a história pode fazer é descobrir os padrões e mecanismos da mudança histórica em geral e, mais particularmente, das transformações das sociedades humanas durante os poucos últimos séculos de mudança espectacularmente generalizada e acelerada. É isso que, mais do que previsões ou esperanças, se mostra directamente relevante para a sociedade contemporânea e as suas perspectivas de futuro” Ensaios sobre a História, ed. Relógio de Água, Lisboa, 2009
A História é o estudo da mudança. A capacidade de mudar é uma das premissas de uma comunidade viva. Enquanto que uma indústria neolítica ou um palácio minóico é uma oportunidade arqueológica para o desenvolvimento da sua arte, para o historiador possui um significado de morte, necessário e útil como é claro, mas apenas para justificar algumas teorias e para alimentar as necrologias que perfazem alguns capítulos sobre civilizações antigas.
A ausência de mudança, para o Historiador, é o fim de um Estudo, e o início da actividade do Arqueólogo.