"Sou e não sou. Desapareço e apareço. Faleço e ressuscito! Ando de morte em morte, de vida em vida [...] Sou o judeu errante, o peregrino. Sou eu, em mim, dentro de mim, em carne e osso, e uma substância incandescente que me ilumina e consome. Exaltada pelos ventos, irrompe do meu ser, devora-o e é só ela - a estranha flama enlouquecida! Entonteço-me de fumo, não me vejo. Sou uma pessoa que eu nunca vi - aquele negro espectro que se eleva dentre os escombros dum incêndio. Apavora contemplá-lo; mas não lhe posso fugir. Pelo contrário, terrivelmente seduzido, mais me aproximo dele; confundo-me com ele e sou uma criatura absurda que existe e não existe [...]Sou um absurdo; e este absurdo é a força que me sustenta de pé, entre a realidade inferior e o sonho etéreo."
Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo