sábado, 30 de outubro de 2010


Surge-me como fundamental, no seguimento dos temas abordados neste post, considerar algo que postei aqui há algum tempo: o carácter jurídico e social da revolução de 1640- revolução nacionalista ou reacção constitucional?

É necessário à causa monárquica não só o estudo da segunda hipótese, como o retorno a um puro tomismo, divorciado de deambulações como as de Mendo Castro Henriques no seu estudo sobre Suarez, para finalmente separar as águas entre uma manifestação de vida da nossa Nação (Lisboa, 1640) e uma jacobina e popularucha revolta assente na doutrina de desobediência dos artistas do Sinédrio (Porto, 1820).

1640 parece-me, na linha do professor Rui Ramos, como a reacção da classe intelectual e das nossas elites governativas, logo secundadas pelo povo, à sonegação dos antigos Estatutos que regiam estes reinos. O carácter egoístico desta revolução é justificado pela violação dos reis de Castela, até aí os plenamente legítimos soberanos destes povos, do compromisso de Tomar (1581), considerado pelo Professor Douto J. Miranda e pelo Prof. Doutor Diogo F. do Amaral como a criação de uma nova constituição informal do Reino de Portugal, a qual os nossos reis espanhóis juravam cumprir.

No caso de 1820, não há quebra alguma dos compromissos do monarca, excepto o erro político da tutela inglesa sobre o território continental. O facto de as cidades burguesas do Porto e Lisboa serem as primeiras afectadas pela abertura das cidades brasileiras ao comércio só justifica que esta revolução não foi justa, mas apenas burguesa.

O estudo de São Tomás de Aquino afastado do Neo-tomismo que o aponta como um defensor da soberania popular torna-se elementar tanto para uma fundamentação do papel da Monarquia na continuação da visão de António Sardinha (ele próprio um tomista) como para afastar a tendência deste movimento para visões esquerdistas.
Nas palavras de Kuenheltd Leddihn, São Tomás de Aquino "is frequently cited as a defender of popular sovereignty has novertheless insisted that political desorder arises from the fact that somebody seizes power without the praminentia intellectus".

Ordem Natural

O Miguel Madeira escreve aqui uma útil contribuição a esta discussão que tive com Rui Botelho Rodrigues, que falha - por culpa minha - em assentar todas as definições necessárias e as explicações devidas para um diálogo construtivo.
No entanto, o propósito da discussão não está em ligar especificamente a Monarquia à ideia de descentralização, visto que imperam, sobretudo hoje em dia, monárquicos desafectos a qualquer proposta de uma integral descentralização dos órgãos político/administrativos municipais, infra-municipais, regionais e estaduais.

De facto, o multi-Estado Medieval é desencorajador à uniformização social que tem vindo a imperar no Mundo Ocidental desde a Revolução Francesa. O liberalismo oitocentista criou um espírito de colaboração entre o empresário e o poder político que suplantou as antigas liberdades regionais e comunitárias da Europa. Assim, em nome dos benefícios materiais, a revolução isolou o indivíduo da sua comunidade, da sua gens, da sua família, e colocou-o impiedosamente só perante o Estado, em igualdade despida. O fim dos privilégios de casta e comunidade sonegaram mil anos de história. Por muito que alguns fossem justamente considerados injustos, outros mais não eram do que a justa recompensa de um poder político hierarquicamente superior (poder político esse que era soberano político, não soberano social, como o são os parlamentos modernos) por serviços prestados a esse multi-Estado, recompensas essas que eram sedimentadas pelo entendimento entre os órgãos políticos e pela continuidade da Ordem legal.

O que o Miguel diz sobre o absolutismo régio é verdade. O germen do estado uniforme começa com a negação do carácter do rei - quando este deixa de ser o rex, a regra, e passa a ser o Estado.
No entanto, as revoltas contra o poder político dos reis iluminados mais não são que reacções vivas e quase sempre com êxito contra o que é, ainda, uma pálida tentativa de centralização e imposição de impostos directos mais volumosos.
Tentativa essa que foi, mais tarde, remida pelas últimas braçadas da Antiga Ordem. Luís XVI não viveu o tempo suficiente para ver a revolta das províncias da Vendeia e de Lyon, e de muitas outras, que viram reconhecidas por este rei os seus privilégios regionais e a sua autonomia administrativa e política em vários assuntos.
Também os Carlistas e os Miguelistas apresentam essa unidade de interesses - a liberdade comunal, o carácter personalístico da cultura cristã e a força da comunidade contra o Estado Uniformizador, o Administrador Absoluto.

O caso da Suíça é revelador desta tendência também. A confederação helvética também passou por uma Guerra do Sonderbund para que as liberdades locais fossem destruídas para que apenas regessem os cidadãos os direitos reconhecidos pelo Estado Democrático.
De facto, não basta um Rei para manter a descentralização, mas é um bom atenuante, visto que de federada a Suíça actual tem muito pouco.
A Polónia antiga pode ser considerada uma monarquia, mas poucas monarquias nasceram de um espírito tão republicano, vulgo aristocrático, como a monarquia polaca. Esse próprio regime sofreu as consequências da sua originalidade, que todos conhecemos: foi excessivamente descentralizador e anárquico, como o são todas as coisas em que se envolve a aristocracia sem moderação do poder régio - como é o caso das Cidades-Estado italianas, nas quais uma aristocracia burguesa muito semelhante fez e desfez, durante séculos, quase a seu bel-prazer, as leis e as próprias convenções sociais dessas nações.

Assim, vemos que a centralização é fenómeno democrático, e que tanto a democracia ilimitada criada pela Revolução Francesa - e continuada por todos os regimes "liberal-sectaristas" do ocidente - como o patrocínio Estadual da burguesia e da progressão técnica são inimigas da Liberdade, Igualitaristas nas sua génese e preconizam a criação de um Estado Providência que infantiliza o Homem e é a final machadada no poder local e na necessidade egoísta do Homem cooperar e integrar os valores que constituem a comunidade.

A Monarquia não pode ser instituída para a criação de uma Ordem Integralista. Virá no natural seguimento dessa tendência, visto que a autoridade real é o melhor garante da preservação da liberdade dos mais fracos contra o progressismo daqueles que vivem considerar o Bem como uma comodidade relativa sujeita às modas da sociedade burguesa.
O ideal de Monarquia tradicional pende, exactamente, para essa concepção de Bem e Mal, e que esse mesmo Bem não prevalecerá se não for protegido por um Governo comprometido com as leis tradicionais.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Organização socialista

Rui,

Agradeço a menção, mas a teoria e os exemplos são retirados do livro Equality or Liberty, de Leddihn, e eu limito-me a resumir e a traduzir algumas ideias em capítulos esparsos.

Segue-se a minha contra-análise:
Tendo em conta factores históricos, como e a partir de quando podemos nós considerar o Estado como uma organização socialista, de acordo com o pensamento do RBR?
- O Rui diria, provavelmente, desde sempre. Ora, tendo em conta a necessidade centralizadora do socialismo, bem como a exigência de uma ordem normativa que suplante todas as restantes num determinado território, até acabar por se tornar única, como podemos considerar a monarquia tradicionalista como uma forma centralizadora de poder?
A época histórica na qual se baseia a teoria política de Leddihn bem como dos Integralistas é a época medieval, onde podemos encontrar, mesmo num estado precocemente organizado como o nosso, vários ordenamentos jurídicos a funcionar dentro do mesmo território.
Sendo que a multiplicidade de órgãos corporativos e municipais é o objectivo último da monarquia tradicional , mesmo no contexto de um Estado Moderno que siga este modelo, como haverá neste caso algum espaço para a acção centralizadora e uniformizadora do Estado Socialista?

Ainda não consegui perceber se o Anarquismo-libertário tem uma concepção demasiado positiva ou demasiado negativa do Homem.
Compreendo sim que o Anarco-capitalismo, enquanto que reprova facilmente a justificação para a existência de Governo (ou outra instituição dotada de poderes de ius imperium) de todas as doutrinas sobre a origem deste, falha redondamente quanto ataca a doutrina tomista e, por tal, a católica: devido ao nosso conhecimento d'A Queda do Homem, e da única coisa que os anarquistas não conseguem justificar, após desmontarem o edifício argumentativo das teorias iluministas suas irmãs: o Livre-Arbítrio.

Sem a Norma Moral, resta-lhe o determinismo, e o porvir de tudo o que até agora tentou destruir.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Contos de fadas

Poucas civilizações investiram tantos esforços e meios num frenesim auto-destrutivo como a nossa. A institucionalização dos aborrecidos do universo, dos mais chatos da história, nas faculdades de psicologia, sociologia, antropologia e outras que mais, proporcionou ao Homem carradas de chatice teórica empenhada a realizar, em enjoativo tempo-útil, o fim diabólico de nos tornar qualquer coisa que não Homens. A capacidade de sonhar, o dom mais generoso que nos foi entregue pela Sua ilimitada generosidade, está hoje reduzida, controlada e regulada (the nerve on this people!) pelo maior inimigo da humanidade: o Homem que não Acredita em Contos de Fadas.
A timidez da criança, ou a sua selvajaria, são inteiramente racionais; ela está alarmada ante este mundo, visto ser o mundo um lugar sumamente alarmante. Desagrada-lhe estar sozinha, porque estar só é uma ideia aterradora. Os bárbaros temem o desconhecido pela mesma razão que os agnósticos o adoram - porque é um facto. Os contos de fadas não são, por isso, responsáveis pela produção nas crianças de qualquer forma de medo; os contos de fadas não dão às crianças a ideia do mal nem do feio: essas ideias já estão na criança, uma vez que também já estão no mundo. Os contos de fadas não dão às crianças a ideia de fantasma. O que os contos de fadas dão à criança é a sua primeira ideia clara da possível vitória sobre o fantasma. O bebé conhece intimamente o dragão, desde que tem imaginação. O que os contos de fadas lhe proporcionam é um São Jorge capaz de matar esse dragão. O que os contos fazem é exactamente isto: acostumam a criança, por uma série de claras representações pictóricas, à ideia de que esses terrores ilimitados têm limites; de que esses inimigos infinitos do homem têm inimigos nos cavaleiros de Deus; de que existe algo no universo mais místico do que as trevas e mais forte do que o medo avassalador. Quando eu era criança, observei fixamente a escuridão, até que a enorme massa negra se converteu num gigante negro mais alto que o firmamento. Se existisse uma estrela no céu, só serviria para o transformar em ciclope. Os contos de fadas restauraram, contudo, a minha sanidade mental; é que no dia seguinte, li um relato autêntico de como um gigante negro só com um olho, exactamente das mesmas dimensões, havia sido derrotado por um rapazinho pequeno como eu (com uma inexperiência símile e de um estrato social ainda mais baixo), somente usando uma espada, algumas más adivinhas e um coração valente. O mar, à noite, parecia-me tão temeroso como qualquer dragão. Mas logo conhecia imensos "filhos mais novos" e "pequenos alfaiates" para os quais um par de dragões era algo tão simples como o mar.
Leia o mais horrível dos contos de Grimm quanto a incidentes e imagética, o excelente conto "O rapaz sem medo", e verá o que quero dizer. Nesse conto há alguns choques impressionantes. Recordo-me especialmente das pernas de um homem que caíram por uma chaminé abaixo e começaram a andar pela sala, até que se reuniram à cabeça e ao corpo separados delas, que caíram, posteriormente, pela mesma chaminé. Isso é muito bom. Porém, o busílis da história e centro dos sentimentos do leitor não é que estas coisas sejam aterradoras, mas o facto muito mais impressionante de o herói não sentir medo disso. A mais terrífica de todas aquelas maravilhas aterradoras era a sua própria ausência de medo. Dava palmadinhas nas costas aos fantasmas e convidava os demónios a beber vinho com ele. Muitas vezes, na minha juventude, quando uma morbilidade moderna me agitava, rezava por uma cópia do seu espírito. Se ainda não leu o final desse conto, vá e leia-o: é a coisa mais sábia do mundo. O herói aprende finalmente a estremecer, ao tomar uma esposa que lhe atira para cima um balde de água fria. Nessa única frase há mais conteúdo acerca do significado do matrimónio do que em todos os livros sobre sexo que cobrem a Europa e a América.
G. K. Chesterton, Tremendas Trivialidades

Terrorismo Industrial vs Terrorismo Artesanal

My Boy Jack, by Rudyard Kipling


“Have you news of my boy Jack?”
Not this tide.
“When d’you think that he’ll come back?”
Not with this wind blowing, and this tide.

“Has any one else had word of him?”
Not this tide.
For what is sunk will hardly swim,
Not with this wind blowing, and this tide.

“Oh, dear, what comfort can I find?”
None this tide,
Nor any tide,
Except he did not shame his kind —
Not even with that wind blowing, and that tide.

Then hold your head up all the more,
This tide,
And every tide;
Because he was the son you bore,
And gave to that wind blowing and that tide!

Resenha sobre Músicas da minha predilecção

Entre tous les guerriers, Litz est seul sans reproches,
Car malgré son grand sabre,
on sait que se héros
N'a vaincu que des double-croches
Et tué que des Piano

No Artigo anterior referi-me a duas músicas interpretadas por algumas das mais interessantes e porventura controversas mentes profissionais da dita "Música Erudita".

Com Luciano Pavarotti, ninguém ficava indiferente pela positiva, se até de futebol ele gostava, não se interessando nada dessas incongruências de "pseudo-intelectuais" que pensam que isso do desporto é para brutos. Ele era adepto fervoroso da Juventus e adorava jogar com amigos.
Isto demonstra bem, sem subterfúgios, que isso de não se praticar certos desportos por causa do nosso principal instrumento de trabalho, sejam, por exemplo as mãos ou as cordas vocais, é um pouco de receio a mais. Desde que praticado com segurança, não há problema. Dirá o leitor " Mas e as mãos do guarda-redes, os braços e pulsos de um tenista ou a garganta em erupção constante? Não será arrsicar demasiado?" Sempre que conduzimos estamos a incorrer numa probabilidade de acidente, pois manejamos uma máquina, mas que não é alimentada por nós. Como somos nós que manejamos a nossa máquina, temos mais auto-controlo. Claro que não podemos entrar "à patrão" a fazer malabarismos como os de Nani, senão dão no resultado que conhecemos (os tais que Sir Alex Fergusson abomina).

Sobre outro Sir, mas de linhagem Germãnica, Herbert von Karajan foi e será sempre um dos mais aclamados e impressivos maestros de sempre, por ter criado, ou melhor, sedimentado as suas próprias regras interpretativas: Dirigir uma orquestra sem partitura, fosse ao vivo ou em gravação; não dirigir certas peças; rigidez de princípios quanto à formação das suas orquestras (por exemplo, não entravam mulheres, algo também natural na altura).
Também na sua vida pessoal (pouco exposta, raras vezes visto em família em revistas dedicadas à música erudita) criou um áurea de perfeição, contando que uma das suas duas mulheres era a típica alemã loira, alta, esbelta, de figurino altivo, olhos azuis, com vários filhos a que só faltava vestir os suspensórios para parecerem as crianças retratadas no filme " Música no Coração".

O Concerto de Ano Novo, já uma celebração bastante antiga, serve muitas vezes de homenagem aos grandes maestros, como se lhe dessem uma orquestra para brindar o público com alegria e não tanto a pensar se estão a tocar tudo perfeitinho. É possível, comparando com outras gravações, que foi um concerto bem especial e emotivo, já nos seus "últimos acordes" de vida, em que mesmo em coisas um pouco gastas como as Valsas de Strauss, sempre tocadas neste concerto, tudo tinha de seguir o clic-clac de um relógio Suiço.
Nota: Litz é uma referência irónica a Franz LISZT, Compositor, pianista, escritor e amante de tudo quanto era belo e um mulherengo húngaro de primeira água. Falarei dele mais tarde.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pequeno retábulo da minha pessoa (crónica I )

"...Dreams in their development have breath,
And tears, and tortures, and the touch of joy;
They have a weight upon our waking thoughts,
. . . . . . . . . . . . . . . . .
And look like heralds of Eternity."

Poema " A Dream" - Byron

My Dear, I was getting asleep when it started to rain.

At the beginning softly, like the Prelude Opus 28 Nº 6 by Chopin; but after, whistling, the skies were in re vo lu ti on.
deus (fosse ele qual fosse), vendo o Homem aproximar-se através da Música da sua perfeição espiritual, almadiçoa-O, tal como às arvores lá fora, às terras, revolvendo-as, com suas rajadas de vento, lembrando-nos que já era tempo de mudarmos de estação do Ano: era a praga outonal a chegar.

Neste momento, minha vontade era una: soçobrar nos teus lábios, afogar-me nos teus braços, envolver-me no teu colo aconchegante e parar no tempo contigo, corpo a corpo, alma com alma,
beijando-te perdidamente...

Aviso ao Leitor

O meu amigo Filipe Andrade passará a fornecer a este blogue uns conhecimentos (infinitamente mais ricos que os meus) sobre música e sobre o que lhe der na real gana.
Desde já, agradeço-lhe outra vez a sua boa vontade.

Retalhos de um Professor de Piano

Elle avait réussi, de tout façon, la conquête du belle, de la pure inocence.
Maintenant, il faudrait conquérir la jeunesse.

Estava eu a tocar algumas reduções para piano de peças de um catálogo de obras orquestrais para escolha dos meus alunos, quando um começa a gritar "Camarão, Camarão" (a partir do minuto 2.51); noutra peça "É ZON, 50 por centooooooo", cantando em italiano; outra ainda lembrou-se da publicidade do óleo FULA (de mau gosto, com horríveis expressões faciais, só faz com que comprem azeite, que é melhor e não vai ficar tão mais caro).

Aparte político: os cognominados "sábios" parecem mais crianças que os meus alunos, andam sempre pretensamente "à turra e à massa", com o fala pra mão que eu não estou a ouviiiiiir , nã nã nã nãããã nã , ou "quem diz é que é", ou o clássico, "a culpa é dele, não é minha".

Reparei assim na sala de aula que a publicidade tem um poder tão vasto e tão forte, que os meus alunos acabaram por escolher peças que conheciam mas mais difíceis, em vez daquelas que eu pensava serem mais adequadas para o nível interpretativo e técnico deles.
Pelo menos vão memorizar mais cedo e mais rapidamente.

E esta hein?

sábado, 23 de outubro de 2010

Uma forma de Governo - Erik von Kuehnelt-Leddihn, do livro "Liberty or Equality"

Qualquer tipo de forma de governo adaptada para a preservação da Liberdade nos tempos modernos e por forma a evitar os erros calamitosos que a propagação do republicanismo democrata pelo Mundo têm provocado a esta causa, deve basear-se em 4 premissas:

1- a maior quantidade possível de liberdade pessoal (de um ponto de vista razoável e racional) deve ser preservada e protegida, visto que a liberdade é parte e parcela do Bem Comum;

2- o sistema partidário deve ser abolido devido à sua tendência e deriva totalitarista;

3- a luta ideológico-filosófica, que não pode ser parte constituinte da orgânica da máquina governamental, devido às suas incompatibilidades, tem de ser relegada para o plano privado;

4- a vontade da maioria não tem o direito de prevalecer sobre o Razoável e o Útil; a perspectiva utilitária e os valores racionais devem ser subordinados à Ética e à Moral;

Com base nas três primeiras premissas, E.-Leddihn propõe que se estabeleça uma "igualdade" constitucional entre um Corpo Representativo Corporativo e Popular e a burocracia Executiva e Administrativa.
Os membros da Câmara (ou Dieta, ou Corte) corporativa são eleitos livremente. A Administração (e por conseguinte o Executivo) consiste em funcionários provenientes de todas as camadas da população, escolhidos com base num processo competitivo de exames e dois ou três anos de estágio onde serão avaliados de acordo com a sua habilidade e conhecimentos.

Os Partidos, obviamente, poderão constituir uma base ideológica que terá oportunidade de propagandizar as suas ideias e influenciar a política na Câmara Corporativa.

O último órgão, que tem um representante na Câmara, é o Supremo Tribunal (ou Tribunal Constitucional) constituído por membros designados pelas universidades (presume-se que pelos departamentos de Direito) e por representantes das religiões (ou Religião), cuja função é examinar a concordância das Leis com a Constituição e a Lei Moral e Ética.
Os dois departamentos do Supremo Tribunal tem um direito absoluto de veto sobre as propostas de Lei da Câmara e dos projectos-Lei do Executivo, sendo que tem direito, pelo seu representante parlamentar, a apresentar moções e propostas.

O Chefe de Estado será, preferencialmente, um Monarca, visto este reforçar a ideia de continuidade nos trabalhos do Governo e também se poder constituir como membro "desinteressado" capaz de votar contra o Executivo ou a Câmara, caso estes dois órgãos entrem em clivagem.

É evidente que todo este sistema, na opinião de Kuehnelt-Leddihn, tem de se basear em numa Constituição que defina e limita as prerrogativas e poderes do Estado. As liberdades humanas devem ser salvaguardadas em documento escrito, com diligência.
Segundo o autor, após expressas as dificuldades de implantar em países de cultura católica o modelo parlamentar protestante, deve-se aplicar o modelo federativo ao invés do democrático.
Assim, prefere-se o modelo Corporativo porque, quanto mais pequena a unidade, mais fácil e aconselhável é a aplicação da Democracia, evitando-se o anonimato de massas e a irresponsabilidade dos eleitores.

A exigência de qualidade nos órgãos Executivos, escolhidos por avaliação das suas capacidades em vez de eleitos, prende-se no princípio Liberal, e não democrático, da preservação das Liberdades e do Estado de Direito. Sabe-se que as massas, por norma, são inimigas da Liberdade. Um Governo elitista, um Executivo arrogante devido à sua escolha por prestígio em vez da eleição, deverão ser defeitos facilmente evitados na governação do país se a Constituição lhes limitar os poderes de forma a os terem em menor parte que os actuais regimes parlamentares.

Para Erik von Kuehnelt-Leddihn, o que um Liberal (o autor escreve libertarian) mais deseja é um governo mínimo e estável, justo e eficiente. As actuais democracias providenciam governos oversized instáveis, justos e ineficientes, enquanto que as ditaduras totalitárias do século XX sempre foram modelos de governo máximo, estável, mas injusto e só ligeiramente eficientes.
O nível exigido a um estadista é, hoje, superior, muito superior, ao que alguma vez foi necessário, por exemplo, para a condução e acordo de convenções importantíssimas para a história, como a de Viena em 1815.
No entanto, diplomatas do nível de Metternich, Talleyrand e vom Stein são cada vez mais escassos.

A escolha entre o amadorismo democrata e o profissionalismo "federal" é, por fim, exemplificada por Leddihn num último exemplo:
Imagine o leitor que está num barco, navegando os Mares do Sul, a milhas da costa, e repentinamente sofre um forte ataque de apendicite, necessitando urgentemente de uma cirurgia. A bordo está um doutor com o pior dos possíveis aspectos, bêbado de fama, de mãos trementes e óculos embaciados.
Com ele viaja um jovem brilhante, de qualidades deliciosas, filósofo, bom conversador, pintor e pensador, que nos merece a total aprovação e admiração.

A quem confiaríamos o bisturi?

A resposta a este enigma, além de trazer na resposta, dependente de cada um, a solução entre democracia e o mérito, traz também a resolução da dúvida entre a república e a Monarquia, e a razão pela qual o mais medíocre dos Monarcas, treinado para o seu cargo, terá uma incrível vantagem sobre qualquer admirável amador popular da república.

bom dia, novo dia

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Não-Rei

Rei nada tem além dos domínios da fraude
que o Povo comete em prol da superação
ergue-se a confusão para saciar a laude
pasma-se o colóquio no ponteiro-escovilhão


Materializaram o Rei num fragmento de deidade.
E dois reis se nos apareceram
para tomar o que de ambos seria de um só:
a Verdade.














Este povo tem a faculdade natural de se sentir na véspera de algo - do Massacre do dia de São Bartolomeu, da Revolução, do comunismo, ou do Dia do Juízo Final. É este sentido permanente de crise que faz a França eternamente jovem. Está perpétuamente derrubando e erguendo, como derrubou a prisão e ergueu a coluna, na Praça da Bastilha. A França sempre esteve prestes a dissolver-se. Ela encontrou o único meio para a imortalidade. Ela morre diariamente.
G.K. Chesterton, Tremendas Trivialidades

Pânico

Este post do Samuel e a consequente gigantesca repercussão são o retrato fiel da incompatibilidade do espírito português com a democracia de massas.

Num país anglo-saxónico, a multidão extasiada pelo chamamento às armas do Samuel não redundaria por mais do que um "Yes We Can!" ou um "Ron Paul for 2012!".

Isso deve-se tanto ao carácter do britânico - o fanático do compromisso moderado, capaz de chegar a um acordo satisfatório entre ambas as partes com o Demónio e incapaz de não levar Deus a tribunal por um mínimo incumprimento burocrático da cláusula estipulada - como à ignorância do americano - para quem a decisão política, além de uma perspectiva utilitarista de todos os prismas ou outra falsamente puritana, não revela grandes oportunidades de escolha.

O Português, pelo contrário, já ultrapassou essa fase - aliás, mal chegou a entrar nela - e já se tornou o Átomo. Cada português é um partido político.

Os comentários dao Samuel revelam já uma longa lista de culpados pela situação:

os que não se manifestaram

a Igreja

o Estado Novo

o Norte

o Sul

o País

o Rei

o Buíça

o futebol

as telenovela

os socialistas

os que se manifestaram

os republicanos

o Rei

os que estão em casa

a Máfia

a Mafía

quem ganha dinheiro à custa do erário público

quem atravessa a ponte da Arrábida sem pagar

etc.

Entre os gritos desbragados desta louca Babilónia, há uns profetas que vão apelando a que cada Homem se torne um líder (será uma nação de Reis, cada um na sua Coutada Real, tendo por vassalos os cãezinhos de porcelana), quem veja no Rei a cura de todos os males (logo o rei constitucional, que já não é um rei que cura mas antes um magistrado hereditário sem poderes concretos) e até um pobre emigrante que, louvando a atitude do Samuel em se revoltar publicamente, é acusado - em nome da comunidade emigrante, se é que isso existe - de não se organizar.

É óbvio que nesta barafunda, nesta Babel em depressão, a opinião organizada - a opinião estúpida, irracional, anti-intelectual e sobre-simplificadora, OS PARTIDOS - é surda em terra de cegos, é Rainha entre baratas tontas.

Se os nossos génios literários se foram queixando, até aos nossos dias, desta nossa democracia, eu que não sou nem meio génio atrevo-me, para mal de meus pecados, a conceder-lhes a resposta que tanto queriam: toda esta cambada de forcados sem touro, de empresários sem funcionários, de tijolos sem argamassa, são o produto final da Democracia Liberal.

Tal como berrava a Comuna de Paris a plenos pulmões - que cada Homem fosse o personal king - finalmente chegámos ao paraíso da soberania atomizada.

Em Portugal, todos são reis e ninguém serve. Por recompensa deste nosso estado de pânico, somos todos escravos uns dos outros.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Consensos

Mas Bruxelas exige agora, como contrapartida, um consenso orçamental. O governo, sempre hábil, viu logo a oportunidade de transformar o que deveria ter sido o seu próprio óbito, num meio de desacreditar a liderança do PSD, forçando-a a aceitar, sem discussão, a agressão fiscal de que discorda e que prometera rejeitar. É isso que está em causa. Vai Bruxelas - e, devido à alienação dos mercados, é de Bruxelas que devemos falar - punir o país se o PSD resistir? A oligarquia do regime, num curioso intervalo da habitual descontracção nacional, resolveu assumir que sim. A tensão deixou o PS e o PSD nervosos com os respectivos líderes. Não haver orçamento tem custos, mas haver, como simples imposição do governo, também. Para começar, o custo do saque fiscal que vai, mais uma vez, compensar a incapacidade governamental de conter as despesas. Depois, o custo político. Porque caso o PSD deixe passar a proposta nos termos que o governo exige (repito: nos termos que o governo exige), dificilmente voltará a ser, sob esta ou qualquer outra direcção, uma alternativa credível - sobretudo se ficar a impressão de que o drama desta semana foi afinal uma comédia. O regime arrisca-se, para segurar as mesadas do BCE, a perder a capacidade de gerar alternância. Acreditem: essas coisas também se pagam.»

Rui Ramos, in Expresso, excerto retirado do blogue Portugal dos Pequeninos

Los Moderados

Muera quien quiere
Moderación
Y viva siempre
Y viva siempre
La exaltación

(canção espanhola de 1821)

A defesa intransigente de uma ideia não é um radicalismo de esquerda.

sábado, 16 de outubro de 2010

The Principles of The Portland Declaration
compiled by Erik von Kuehnelt-Leddihn


13. Good government rests on a variety of premises. Needless to say, the formula of Campbell-Bannerman -- "Self-government is better than good government" -- is senseless. Is medical self-treatment better than the services of a good doctor? The formula "the first right of a nation is to be governed well" comes much nearer to the truth. What we need is minimal government of the highest quality instead of what we now have in the Western world, maximal government of the lowest order.
This, however, means that the administration must consist of people of the highest possible quality. Administrative careers must be open to everybody who, as in the ancient Mandarin system, passes an entrance examination giving evidence, primarily, of wide knowledge and culture. During a probationary period the new administrator must prove that his theoretical knowledge can also be used practically, and that in applying the laws he will not permit (as a petty person would) the letter of the law to kill the spirit. Only when he can show that he understands his task as a public servant, that he has the common good as much in mind as the needs and problems of individual persons, should he be incorporated permanently into the hierarchy of the administration. China flourished for thousands of years (Taiwan still does) under the socially non-discriminatory, non-hereditary, but truly elitist mandarinate. Prior to 1918 the European nations benefited from a similar system, which in many countries excluded public servants from all political activities (including voting). He who served the Common Good had no business to participate in party strife.
14. There is no escape from "bureaucracy" or "technocracy." In a scientific and technological age one cannot dispense with a skilled administration, which ought to have prestige and a level of remuneration minimizing the temptation of bribery. A body consisting of experts should have a positive share in the government. The precept of Plato still stands: Unless the kings are philosophers and the philosophers become kings, there is no hope for a well-governed nation.
A mixed government consisting of a "head," a group of men of knowledge and experience, and the representatives of the people, is the standard, traditional political arrangement in the West. We would add a supreme court judging debatable issues not only from a purely constitutional point of view but also from a moral one.
The representatives of the people are not supposed to form a policy-making body. This is the task of the administrative government. Parliaments or legislatures should be merely legislative assemblies producing laws which, however, need a higher confirmation. The parliaments, moreover, ought not to be based on party lines (though factions will inevitably be formed), but should honestly strive to represent the country as a whole, not only by regions but also by layers, interest groups, occupations and professions, so that the government can know what the various segments of the population desire (or reject). Majorities and minorities can both be right or wrong. Parents would be stupid to lord it over their adolescent offspring and never listen to them; they would be equally stupid to defer to the wishes of three or four children because, in the family, they form a majority. A sound and frank dialogue between ruler and ruled is, similarly, of the utmost necessity.
Whether the head of state is identical with the head of the government, whether he is hereditary or selected, are matters of tradition and historical development. So are his (or her) prerogatives. He or she should, however, be properly trained and stand above all factions. The supreme court should be strictly nonpolitical and perhaps be elected by scholarly bodies (law schools, etc.).
The amateurism which has prevailed in the past can no longer be borne. We have to find new formulas combining first-rate expertise with personal freedom. There must be areas free from government intervention, personal "kingdoms" designed and protected for the development and fulfillment of the personality; the State must have boundaries which it will not be permitted to transgress.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Vita Nuova

Dante Alighieri

XXI

Ne li occhi porta la mia donna Amore,
Per che si fa gentil ciò ch'ella mira;
Ov'ella passa, ogn'om ver lei si gira,
E cui saluta fa tremar lo core.
Si che, bassando il viso, tutto amore,
E d'ogni suo difetto allor sospira:
Fugge dinanzi a lei superbia ed ira.
Aiutatermi, donne, farle onore.

Ogne dolcezza, ogne pensero umile
Nasce nel core a chi parlar la sente,
Ond'è laudato chi prima la vide.
Quel ch'ella par quando un poco sorride,
Non si po dicer nè temer a mente,
Si è novo miracolo e gentile


Tradução de José V. Pina Martins:

Nos olhos traz a minha dama Amor,
Assim o que ela olha se enobrece;
Quando ela passa, todo o olhar a segue
E a quem saúda o coração estremece.
Tal que, baixando o rosto, desfalece,
De todo o seu defeito então suspira;
Perante ela se vão soberba e ira.
Senhoras, ajudai-me a enaltecê-la.

Toda a doçura, humílimo pensar
No peito nasce a quem a ouvir falar;
Louvado seja aquele que a reconhece!
O que ao sorrir um pouco ela parece
Não se pode dizer nem recordar,
Pois é milagre novo e para honrar.

Pai dos Reis


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Why Conservatives Should Read Marx

The bourgeoisie cannot exist without constantly revolutionizing the instruments of production, and thereby the relations of production, and with them the whole relations of society. … Constant revolutionizing of production, uninterrupted disturbance of all social conditions, everlasting uncertainty and agitation distinguish the bourgeois epoch from all earlier ones. All fixed, fast-frozen relations, with their train of ancient and venerable prejudices and opinions, are swept away, all new-formed ones become antiquated before they can ossify. All that is solid melts into air, all that is holy is profaned …

Marx

domingo, 10 de outubro de 2010

Pacto de Vassalagem

Sobre aquilo que Rui A. escreveu neste sítio, devidamente citado pelo João PN.

Ao contrário de muitos monárquicos (inclusivamente o próprio Rei) que procuraram ver, no Juramento de Fidelidade do passado dia 5 de Outubro, a proclamação de uma forma de governo em que o Chefe de Estado é um funcionário público hereditário, isento de poderes e responsabilidades legais, eu fui renovar um pacto perante o símbolo da minha Nação e a sua História.
Outra coisa não lhe chamaria eu que um pacto de vassalagem.

Rui A. vê isto com maus olhos porque tal afecta, na sua visão, a dignidade da liberdade dos monárquicos. Não procura, do alto da sua cátedra, ver o porquê de tantos lá presentes considerarem que esse juramento foi a mais alta forma de elevar essa mesma liberdade.
É apenas mais um dos pontos em que a Monarquia Integral vai ao encontro do Catolicismo. Servir é uma forma digna de ser livre. O pacto de lealdade perante um Rei é o livre uso das suas capacidades para serem postas ao dispor do valor mais alto para um verdadeiro monárquico - a comunidade.
Esse individualismo que cega os liberais apenas lhes garante o direito a uma submissão vergonhosa à máquina de partidos, onde o silêncio e a venda prostituída da alma se encontram nas ruelas dos centros de poder, em que já tantos bons homens e mulheres se perderam, por forma a servilmente entrarem no Sistema.

O Aristocrata pertence a uma classe, a uma raça, de servidores. Os seus privilégios, as suas garantias, vinham apenas da certeza de que cada homem-bom procurasse, acima de tudo, o bem do seu Rei e das instituições do seu Reino, das leis que o regiam e, acima de tudo, da Santa Igreja.
Não usa esta mesma a sua própria aristocracia, escolhida entre o seu seio, para a reger? Não foi Jesus Cristo, o Ungido, nascido no seio da nobre Casa de David, escolhida por Deus para reger os destinos de Israel? É esta a fonte do dever do aristocrata. Servir sem ser submisso. Obedecer sem ser servil. Obedecer cegamente sem nunca perder o coração. É esta a beleza do nosso ideal. E relativizar este ideal à mera pureza de sangue, como se já tentou, é o maior crime contra esta instituição. Diferentemente dos traidores nobres e brazonados da Causa Legitimista, o chefe do estado-maior do nosso último rei legítimo, Dom Miguel I, e seu fiel amigo, era um plebeu, que nunca faltou à lealdade perante o seu legítimo soberano. O Nobre, acima de tudo, não serve 2 senhores, muito menos essa hidra de mil cabeças que é a República Democrática Portuguesa. Entre os nobilitados não se encontram apenas gerações de duzentos anos, mas também homens que se revelaram por serviços à sua pátria, pela sua lealdade e pela bondade com que praticaram suas acções. Ludwig von Mises pertence a uma família de judeus nobres, que receberam essa graça pela mão do imperador da Áustria. Os Pessanhas serviram os primeiros reis, e eram plebeus de origem italiana. Necker, ministro de Luis XVI, era um cidadão genovês de origem escocesa. A destruição do ideal aristocrata deu-se a partir do momento em que a Aristocracia passou a ser sinónimo de progresso material.
Nada obriga o aristocrata a ser rico, nem a riqueza é um critério sagrado para a reverência social (de acordo com o Catolicismo). Antes, o descendente de um homem valoroso recebia, dependendo dos actos deste e do julgamento da Monarquia, a recompensa devida, a mais bondosa herança - a sua posição social, o sagrado símbolo da Família. Hoje, a única coisa que se herda dos pais é o vil metal, e uma palmada nas costas, ou pior, uma medalha. Pobres dos que não se entregam à redutora procura do dinheiro, pois ganham o Céu, mas deixam os filhos na miséria, e com a pergunta na boca - não teria valido mais a pena colocar de lado os meus princípios, e deixar aos meus filhos aquilo que os outros deixam aos seus, para seu conforto e felicidade?

Monarquia e Religião
Acima de tudo, a organização política da santa Sé é monárquica. A soberania do Papa não é transmitida pelos cardeais, nem pela massa dos crentes. A legitimidade do seu Poder vem de Deus, e das sagradas tradições que, ao longo do tempo e pela Sua Graça, nos chegaram, transmitidas pelos antigos. A legitimidade de um monarca vem não da massa dos constituintes que compõem o Reino, nem dos nobres que o elegem, mas das tradições e da religião.

O soberano pela Graça de Deus não é uma mera designação política. O Livro já nos diz que todos os soberanos o são pela Graça de Deus. A questão prende-se nas exigências de tal designação. Vários reis desrespeitaram o dever que lhes foi entregue por Deus para regerem os seus Povos com bondade. Mas a quase totalidade pagou pelos crimes feitos no Seu nome. Porque papas, monarcas ou aristocratas que cometeram erros prejudicaram, gravemente, a Ordem Antiga.
No entanto, o republicano, o democrata, o socialista, o totalitário, todos eles, fundados no poder que lhes foi dado pela Soberania Popular, pela força da Maioria, chafurdam na mesma mesquinhez que os elegeu. O Poder deles não é o do Pastor, mas o da Espada.

E isto porque a Monarquia Cristã vive o mesmo drama que o Catolicismo, que é ao mesmo tempo a sua principal força. Vivemos na sede do Absoluto. O Católico não pode ser meio católico, a sua vida caminha para a perfeição no seio de Cristo e da comunidade dos homens. Apesar do pecado original, da Queda, continuamos a rezar para que o Seu Reino venha a nós. Quando nos desviamos deste Caminho, caímos outra vez.
O Esquerdismo, a força da massa e a conturbação da revolução permanente, do jugo da Maioria e dos parlamentarismos, vive da Queda e da relativização dos nossos valores.

Para eles, o individuo é o fim da sociedade. Para nós, o homem é anti-social, e fará o Mal se não for conduzido. E para tal, será conduzido pelos que assim o devem fazer, porque é assim, e nunca pelo plebiscito da multidão.

E é por isto que sou monárquico, e católico, e dia 5 de Outubro prestei um juramento de vassalagem. Porque tive de remir o juramento a uma bandeira cujos valores vergam de 4 em 4 anos. Porque o legítimo governo é contínuo, como a História de um Povo.

O Homem Nobre é o Homem Bom, que ama os que sofrem e não participa dos festejos dos vencedores. A história da Igreja é uma história de derrotas - os Miguelistas, os Carlistas, o Sonderbund, os Habsburgos, a destruição do Catolicismo no Norte da Europa, etc.
No entanto, derrotados em vida, foram os vencedores, na mesma maneira d'Aquele que venceu na Morte. A ressurreição da Igreja depende dos seus fiéis, dos que a servem e lhe são vassalos.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves