Sobre aquilo que Rui A. escreveu neste sítio, devidamente citado pelo João PN.Ao contrário de muitos monárquicos (inclusivamente o próprio Rei) que procuraram ver, no Juramento de Fidelidade do passado dia 5 de Outubro, a proclamação de uma forma de governo em que o Chefe de Estado é um funcionário público hereditário, isento de poderes e responsabilidades legais, eu fui renovar um pacto perante o símbolo da minha Nação e a sua História.
Outra coisa não lhe chamaria eu que um pacto de vassalagem.
Rui A. vê isto com maus olhos porque tal afecta, na sua visão, a dignidade da liberdade dos monárquicos. Não procura, do alto da sua cátedra, ver o porquê de tantos lá presentes considerarem que esse juramento foi a mais alta forma de elevar essa mesma liberdade.
É apenas mais um dos pontos em que a Monarquia Integral vai ao encontro do Catolicismo. Servir é uma forma digna de ser livre. O pacto de lealdade perante um Rei é o livre uso das suas capacidades para serem postas ao dispor do valor mais alto para um verdadeiro monárquico - a comunidade.
Esse individualismo que cega os liberais apenas lhes garante o direito a uma submissão vergonhosa à máquina de partidos, onde o silêncio e a venda prostituída da alma se encontram nas ruelas dos centros de poder, em que já tantos bons homens e mulheres se perderam, por forma a servilmente entrarem no Sistema.
O Aristocrata pertence a uma classe, a uma raça, de servidores. Os seus privilégios, as suas garantias, vinham apenas da certeza de que cada
homem-bom procurasse, acima de tudo, o bem do seu Rei e das instituições do seu Reino, das leis que o regiam e, acima de tudo, da Santa Igreja.
Não usa esta mesma a sua própria aristocracia, escolhida entre o seu seio, para a reger? Não foi Jesus Cristo, o Ungido, nascido no seio da nobre Casa de David, escolhida por Deus para reger os destinos de Israel? É esta a fonte do dever do aristocrata.
Servir sem ser submisso. Obedecer sem ser servil. Obedecer cegamente sem nunca perder o coração. É esta a beleza do nosso ideal. E relativizar este ideal à mera pureza de sangue, como se já tentou, é o maior crime contra esta instituição. Diferentemente dos traidores nobres e brazonados da Causa Legitimista, o chefe do estado-maior do nosso último rei legítimo, Dom Miguel I, e seu fiel amigo, era um plebeu, que nunca faltou à lealdade perante o seu legítimo soberano. O Nobre, acima de tudo, não serve 2 senhores, muito menos essa hidra de mil cabeças que é a República Democrática Portuguesa. Entre os nobilitados não se encontram apenas gerações de duzentos anos, mas também homens que se revelaram por serviços à sua pátria, pela sua lealdade e pela bondade com que praticaram suas acções. Ludwig von Mises pertence a uma família de judeus nobres, que receberam essa graça pela mão do imperador da Áustria. Os Pessanhas serviram os primeiros reis, e eram plebeus de origem italiana. Necker, ministro de Luis XVI, era um cidadão genovês de origem escocesa. A destruição do ideal aristocrata deu-se a partir do momento em que a Aristocracia passou a ser sinónimo de progresso material.
Nada obriga o aristocrata a ser rico, nem a riqueza é um critério sagrado para a reverência social (de acordo com o Catolicismo). Antes, o descendente de um homem valoroso recebia, dependendo dos actos deste e do julgamento da Monarquia, a recompensa devida, a mais bondosa herança - a sua posição social, o sagrado símbolo da Família. Hoje, a única coisa que se herda dos pais é o vil metal, e uma palmada nas costas, ou pior, uma medalha. Pobres dos que não se entregam à redutora procura do dinheiro, pois ganham o Céu, mas deixam os filhos na miséria, e com a pergunta na boca - não teria valido mais a pena colocar de lado os meus princípios, e deixar aos meus filhos aquilo que os outros deixam aos seus, para seu conforto e felicidade?
Monarquia e ReligiãoAcima de tudo, a organização política da santa Sé é monárquica. A soberania do Papa não é transmitida pelos cardeais, nem pela massa dos crentes. A legitimidade do seu Poder vem de Deus, e das sagradas tradições que, ao longo do tempo e pela Sua Graça, nos chegaram, transmitidas pelos antigos. A legitimidade de um monarca vem não da massa dos constituintes que compõem o Reino, nem dos nobres que o elegem, mas das tradições e da religião.
O soberano pela Graça de Deus não é uma mera designação política. O Livro já nos diz que todos os soberanos o são pela Graça de Deus. A questão prende-se nas exigências de tal designação. Vários reis desrespeitaram o dever que lhes foi entregue por Deus para regerem os seus Povos com bondade. Mas a quase totalidade pagou pelos crimes feitos no Seu nome. Porque papas, monarcas ou aristocratas que cometeram erros prejudicaram, gravemente, a Ordem Antiga.
No entanto, o republicano, o democrata, o socialista, o totalitário, todos eles, fundados no poder que lhes foi dado pela Soberania Popular, pela força da Maioria, chafurdam na mesma mesquinhez que os elegeu. O Poder deles não é o do Pastor, mas o da Espada.
E isto porque a Monarquia Cristã vive o mesmo drama que o Catolicismo, que é ao mesmo tempo a sua principal força. Vivemos na sede do Absoluto. O Católico não pode ser meio católico, a sua vida caminha para a perfeição no seio de Cristo e da comunidade dos homens. Apesar do pecado original, da Queda, continuamos a rezar para que o Seu Reino venha a nós. Quando nos desviamos deste Caminho, caímos outra vez.
O Esquerdismo, a força da massa e a conturbação da revolução permanente, do jugo da Maioria e dos parlamentarismos, vive da Queda e da relativização dos nossos valores.
Para eles, o individuo é o fim da sociedade. Para nós, o homem é anti-social, e fará o Mal se não for conduzido. E para tal, será conduzido pelos que assim o devem fazer, porque é assim, e nunca pelo plebiscito da multidão.
E é por isto que sou monárquico, e católico, e dia 5 de Outubro prestei um juramento de vassalagem. Porque tive de remir o juramento a uma bandeira cujos valores vergam de 4 em 4 anos. Porque o legítimo governo é contínuo, como a História de um Povo.
O Homem Nobre é o Homem Bom, que ama os que sofrem e não participa dos festejos dos vencedores. A história da Igreja é uma história de derrotas - os Miguelistas, os Carlistas, o Sonderbund, os Habsburgos, a destruição do Catolicismo no Norte da Europa, etc.
No entanto, derrotados em vida, foram os vencedores, na mesma maneira d'Aquele que venceu na Morte. A ressurreição da Igreja depende dos seus fiéis, dos que a servem e lhe são vassalos.