Dos tempos dos debates entre Monarquia e República, era comum o lado republicano, depois das piadas batidas do sangue azul, da hemofilia e dos brasões, afirmar com os olhos em lágrimas e mãos tremelicantes que num regime republicano e democrático qualquer um, frisando o "qualquer um", independentemente de origem, raça ou sexo (e credo, desde que não seja "muito católico") podia ser o Chefe de Estado.
Não é possível lembrar-me de quantas vezes ouvi esta patranhada lambida. Mas lembro-me daqueles que conseguiram defendê-la sem vergonha na cara e com alguma desenvoltura.
Estranhamente, na hora de apoiar o verdadeiro "qualquer um", o corriqueiro mas singular Tino de Rans, o mais popularucho dos candidatos, a personificação do "vox populi", o moderno Joanne do Auto do Ferry do Inferno - todos estes cruzados anti-elitistas desatam as cintas e aperaltam os lábios em adoração "fellática" de Sampaio da Nóvoa, um candidato que é professor universitário, que reúne o apoio da maioria da Maçonaria, da maioria da Academia e da maioria da classe política (basta ver o número de ex-Presidentes da República e de figuras de proa do Partido Socialista que o apoiam directamente). Ou seja, um candidato que é a imagem dura e bruta da Elite que nos governa, que nos influencia culturalmente, que dita o politicamente correcto.
Perante um Sancho Pança, cru e honesto, preferem um príncipe, ainda que um príncipe da República.
Pois é - os brasões ainda lá estão, as endogamias também, só que em República, em vez de estarem à vista de todos, mascaram-se por detrás das instituições democráticas.