O Pasolini que Brunello Natale De Cusatis nos apresentou não foi um Pasolini "aos bocadinhos". Não foi um Pasolini para inspirar uma certa seita ideológica, para acalmar os espíritos hesitantes de algumas almas asmáticas. Foi um Pasolini repleto dos seus anjos e dos seus demónios, um marco autêntico da cultura europeia do século XX. Um homem avassalado pelos seus ideais de pureza e devassidão, pelo pecado, pela luxúria, pelo sofrimento dos seus apetites, um homem que se viu afastado pelos amigos e pelos camaradas devido às tendências das suas paixões. Um Pasolini marxista, mas independente, apaixonado pela América jovem e irreverente, um Pasolini que desprezava a Europa homologada, homogeneizada, onde o igualitarismo reduziu pela rama mais baixa o nível das mentalidades e das políticas. Um Pasolini em conflito com o sexo feminino e com a maternidade, mas apaixonado pela figura de Maria Callas e pela palavra de Oriana Fallaci. Um Pasolini contrário à cultura do "Ter, Possuir, Destruir", que via no aborto um homicídio legalizado fruto dessa cultura de consumismo e desumanização.
Sim, desumanização. Pasolini foi uma dessas grandes mentes que viu no ar a aproximação desse Mundo apocalíptico, cuja Europa de Bruxelas é a imagem simbólica e real, onde não existem Seres Humanos na Humanidade.
Mais uma vez, o Café Odisseia assume a sua posição na Vanguarda, sem fronteiras, sem respeitinhos mundanos, pura Acção para pura Palavra. Encheu-se uma sala para uma conferência numa faculdade portuguesa - cinquenta pessoas. Feito raro para um grupo que não goza do apoio de docentes nem de grandes máquinas institucionais de divulgação.
Tudo isto porque o Café Odisseia é um ideal indomável, inspirado pela bravura e pela sinceridade mais pura.
Obrigado a todos os que marcaram presença.