No último texto divaguei um pouco sobre a temática dos senhores e senhoras que pensam que Portugal é um floco de neve, que não descansam enquanto não provam que este país foi posto neste lugar de propósito pelos deuses para ser abençoado por algum tipo de mistério iniciático redentor. Com isto tudo, não quero dizer que não acredite no plano singular que Portugal ocupa no plano religioso e espiritual. A minha aversão aos indefiníveis, aos pós de pirilimpimpim que tornam todas as coisas boas em névoa indistinta, é para mim a prova de que respeito aquilo que pretendo chamar, talvez erroneamente, manifestação metafísica do meu lar, da minha pátria, das minhas tradições, do legado dos meus antepassados.
Esse legado é material e imaterial, santo e pecador, bom e mau. À volta dele construímos um discurso, uma narrativa, uma História, que legitima as escolhas e caminhos que os antigos tomaram. Esse discurso, contudo, não nos pode afastar da realidade - uma vez que ele mesmo é parte da nossa herança. É uma ferramenta que devemos usar - não uma desculpa para enfiarmos a cabeça na areia, uma cegueira simpática.
Um dos lemas deste blogue, a fazer uma recolha dos vários, seria "Portugal não é na Lua". Este lema não pretende abrir portas ao oportunismo, mas antes um lembrete daquilo que é, para mim, a verdadeira linha de princípios para um pensamento nacional, político, social e espiritual. Queiramos chamar-lhe uma doutrina nacionalista, de direita ou conservadora.
A Sageza e a Inteligência existem para ser postas em prática e partilhadas pelas gentes da Causa. Não para se guardarem ciosa e ciumentamente em caves, garagens e em prateleiras.
Amor é Sacrifício, Sacrifício Eterno e incondicional. A Fortaleza passa por não ceder ao capricho pessoal, à ambição mesquinha, enquanto nos abrimos às inseguranças e medos dos nossos pares e amigos, apenas para os suplantar, transformando-nos num baluarte de firmeza, mas também de ternura.
E este Amor não é nada sem nos inteirarmos das nossas fraquezas, dos nossos limites e dos nossos rivais. Que aquilo que perdemos, que abdicamos, por preguiça, por fraqueza ou porque estamos demasiado ocupados a discutir entre nós e a perseverar na nossa vaidade, vai-nos fazer muita falta, ou pior, vai fazer muita falta àquilo que sobrar dos nossos sucessores.
Que nos sirva de exemplo a Espanha que derrete na Catalunha, porque não faltavam entre os espanhóis aqueles que julgavam que a sua pátria era eterna, que o seu espírito não morreria, que tudo ia acabar bem. Quem não tende os campos vê crescer silvas, depois mato, até se perder a terra que os avós lavraram.
Castigo bem merecido ao falso Aliado que nos virou as costas tantas vezes no último século, conspirando com outros nossos pretensos amigos a nossa anexação. Também a Espanha foi em tempos protectora da Europa e da Cristandade, se calhar mais até do que nós.
Ainda assim, deixou-se abater, como nós, pela Lenda Negra que os países inimigos lhe imputaram, encheu-se de ódio de si mesma e devorou-se. Também em Espanha há aqueles que julgam viver num floco de neve, numa Espanha que plantou universidades no Novo Mundo por filantropia e sentido de civilização. A quem se deve fidelidade porque sim.
Assim, dividida entre os inimigos da terra, que são ao mesmo tempo seus filhos, e os filhos da terra que vivem no mundo da Lua, a Espanha caminha para o seu fim. Fim esse que poderá provar-se a nossa grande oportunidade - tal como a independência da Escócia prova o fim de outro falso amigo e aliado.
Oportunidade para reclamar, com inteligência e com firmeza, para a Nação, a base suficiente da independência efectiva, num cenário de desintegração de velhas fronteiras e, quiçá, da própria União Europeia. Firmeza para os maiores sacrifícios, inteligência para entendermos que, à mínima hesitação ou ao mínimo passo em falso, aquilo que amamos desaparece.