sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Filosofia Portuguesa?

Não sou suficientemente versado em Filosofia para discutir a fundo a temática da Filosofia Portuguesa, a escola de pensamento de Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, etc. O tempo disponível e as bases que possuo apenas me permitiram fazer algumas abordagens, entre as quais uma leitura à obra de Pedro Sinde "Sete Sábios Portugueses" e, recentemente, algumas leituras no site Homo Viator, que parece especializado neste tipo de pensamento.
De todos os autores da Filosofia Portuguesa, o único que aprecio é Pinharanda Gomes, talvez por se me afigurar como o mais objectivo de todos, talvez pela tendência para a análise histórica.
Das críticas que me parecem importantes tecer a esta escola, saliento as seguintes:

1 - Define como português um tipo de pensamento que é, muitas vezes, a intelectualização de alguns conceitos, como a Saudade, traduzindo-se em exercícios complexos cujo resultado é mais a criação de uma abstracção de Portugal que a descoberta do tipo português.

2 - É admitido por alguns dos seus autores que estas abstracções à volta da Saudade são apenas ferramentas para criar um pensamento português, à imagem do que se passou em França e Alemanha. A que nos opomos, explicitamente nos pontos seguintes.

3 - O pensamento alemão nasceu do habitus da comunidade científica alemã. Não foi uma criação coada e polvilhada em laboratório, como me parece ser a suposta genealogia do pensamento da filosofia portuguesa.

4 - A ser assim, a dita escola da filosofia portuguesa parece-me ser apenas o melhor reflexo da decadência do nosso povo, nomeadamente a obsessão pela auto-definição. Isto admitindo teses decadentistas, que não são de todo o meu forte.

5 - Esta auto-definição é ecuménica, muitas vezes de forma bastante inofensiva e inútil (como é visível nas conversas vadias de Agostinho da Silva) mas ao mesmo tempo selectiva. Define-se o fim da Idade Média e dos Descobrimentos como o início da decadência de Portugal. Está por escrever literatura no sentido de encontrar uma relação entre a finis patria e o declínio da construção naval a partir do Século de Quinhentos. A Inquisição torna-se sinal da influência de ideais externos e da perversão da cultura nacional, mas define-se o carácter nacional de acordo com uma suposta dicotomia céltico-semita, como a encontramos n'A Arte de Ser Português. Para alguém isto fará sentido.

6 - É uma escola profundamente iniciática, de carácter gnóstico, fixada num milenarismo, o Quinto Império. É, em tudo, afastada da tradição católica e da religião portuguesa. Sustenta-se muitas vezes de paganismos e rituais profanos da nossa tradição popular para justificar os seus pontos. Mais uma vez através de intelectualizações e de conclusões insustentadas. Além de que se fundamenta na leitura jesuítica (que parece ser o caso de Dalila Pereira da Costa) de um autor de claras influências satânicas como é Teixeira de Pascoaes. Por muito cristianizada que se faça a leitura deste último, pergunto-me se não estaremos a descascar demasiado o poeta do Marânus ao procurarmos atenuar o profundo lado diabólico da sua obra.

Concluindo: a filosofia portuguesa parece-me muito pouco portuguesa, mas muito importada em definir um portugal. O milenarismo tosco que move alguns dos sequazes menores possivelmente permitirá que haja um portugal para cada alminha.
Tanto serve para inspirar movimentos new age, mais preocupados em desconstruir Portugal do que noutra coisa, como para preencher a necessidade de "pensamento original" de alguns "fascistóides", ansiosos por deitar ao lixo algumas facetas menos kitsch da cultura portuguesa e ficar apenas com as coisas "giras".Tanto o lixo new-age como o nacionalismo de pacotilha partilham deste defeito, o de criar uma ilusão de que Portugal é um floco de neve especial. Típica não-actividade que assassina a Acção, diga-se.

Porventura, demasiadas conclusões para quem sabe tão pouco. Não é, contudo, por cepticismo teimoso que mantenho ao arrepio os sebastianismos e os "quintimpérios". Haverá, com certeza, muita desinformação, mas não falta de esforço para compreender melhor estes fenómenos. É a minha cabecinha, possivelmente, que não tem grande sensibilidade espiritual.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves