Da leitura de alguns blogues e textos antigos, tropecei alegremente num artigo da Legio Victrix sobre Alain Soral.
Presumivelmente o grande teórico da Terceira Via política dos nossos tempos, Alain Soral quebrou tabus que se tinham cristalizado à volta do pensamento nacionalista e advoga hoje em dia uma doutrina que defenda a direita dos valores e a esquerda do trabalho. Recupera assim uma tradição idiossincrática que foi pujante nos anos 20 século XX e que levou, entre outros exemplos, um sindicalista revolucionário como Sorel a militar numa organização nacionalista e católica como a Action Française.
Em Portugal vemos esse fenómeno na criação da revista Homens Livres, que juntava Seareiros e Integralistas.
Um dos textos reconciliadores de Soral (que fundou o movimento Egalité et Réconciliation) foi o discurso escrito para Le Pen aquando da celebração da vitória de Valmy.
Última vitória festejada em tempos de um monarca Bourbon, foi também o feito militar que legitimou as pretensões dos republicanos que derrubaram pouco depois a monarquia. É assim um símbolo muito importante para todos os quadrantes ideológicos franceses e europeus, descendentes directos do conflito civil, social e espiritual que nasceu da Revolução Francesa. Divide e une nas vitórias e derrotas que se lhe seguiram.
Divide e une também quando pensamos no sangue derramado por patriotas em nome de causas estranhas, mas cuja simpatia não podemos deixar de sentir.
Devo muita da minha sensibilidade para a questão política do nacionalismo aos escritos do Corcunda e ainda concordo, depois de tantos anos, na importância do acervo histórico e religioso para definir esse Bem Comum que é o fim último da comunidade dos homens, consubstanciada na Nação.
O tema da reconciliação é fulcral para a Direita, a meu ver, porque passados duzentos anos desde que as ideias da Revolução nos atingiram, os seus efeitos e as suas consequências impregnaram-se também no nosso código moral.
Tal como qualquer outro povo europeu, os Portugueses são inevitavelmente filhos da Religião de Cristo, mas também da Revolução Francesa. Podemos desprezar as ideias carbonárias dos revolucionários do 5 de Outubro, mas a verdade é que várias gerações de portugueses, muitos deles católicos praticantes e patriotas, lutaram e morreram para defender uma bandeira verde e vermelha. Se a intenção original estava errada, o sacrifício plantado à volta daquele trapo, ao longo das décadas, transformou-o num estandarte tão honrado como qualquer outro.
E não é verdade que vemos, em várias localidades portuguesas, marchar nas procissões religiosas bandeiras de confrarias e associações profissionais laicas que contêm claras simbologias maçónicas, carbonárias, etc.? Criadas por revolucionários nos seus dias, foram-se cristianizando e normalizando com o passar do tempo. Inevitavelmente nacionalizadas, tal como acontece com os corpos de escuteiros e rotários e outros grupos que, há 70 anos atrás, ainda comungavam do seu espírito fundador que seria, para nós, anti-católico e anti-nacional.
E se uma Direita que vise o Bem-Comum e a Vida Boa tem, por direito do acervo histórico da nação, acesso a toda esta riqueza abandonada pela Esquerda, que nos pertence porque o que é nacional é nosso, mesmo na área mais "obscura" das direitas encontramos um património que merece ser pensado.
O grande flagelo do nacionalismo em Portugal é a corruptela do neo-paganismo rácico, esta vontade de ser compatriota de Deus ou primo de alguma divindade que justifique as vaidades fisiológicas. A Antropologia já nos presenteou com provas mais que suficientes para acabarmos com estas tentativas de criar bonsais humanos, para quem o grande fundamento da nação portuguesa é pertencer a uma sub-espécie do grupo caucasóide.
Mas não é verdade que, entre os bens que herdamos, o nosso património genético merece o mesmo carinho e atenção que o restante? As características físicas que nos tornam únicos e reconhecíveis pelos nossos iguais, que permitem que as relações sociais decorram com um à-vontade próprio de quem se identifica nas características exteriores do outro, circunstância tão importante ao diálogo?
Se a esquerda do trabalho nos leva a opor à imigração porque esta não é mais do que o exército de escravos do capitalismo, a direita dos valores traz à baila a necessidade de defendermos não só as prerrogativas sociais e económicas mas também o nosso património espiritual, religioso, histórico e genético. Se isto nos livra da assistência aos refugiados? Não me parece. A nossa cultura, nos fundamento dos seus valores e das suas práticas ancestrais, obriga-nos a estender a mão ao desprotegido.
O que um pensamento de Direita pode e deve ditar é que o estender a mão é uma actividade digna e dignificante, que propõe ajudar a curto prazo e resolver a longo. Não é, como vemos hoje em dia, uma medida de propaganda mediática. Mas haverá força para recriar e revitalizar um pensamento de Direita?
Absolutamente, sim.