Os Alunos do Liberalismo insurgem-se contra aquilo que lhes parece ser um atentado à sua forma pragmática de vida. Quando a Universidade Católica visa estabelecer um comprometimento entre estudantes e professores para a criação de hábitos de indumentária que dignifiquem a dita instituição, insurgem-se os novos Marqueses de Sade. É ver-nos libertados dos nossos preconceitos:
Engana-se quem acha que a forma de vestir é um assunto marginal ao bom funcionamento da UCP, sendo esta uma universidade e uma instituição eclesiástica. É do senso comum que as melhores universidades mundiais aplicam rigorosos códigos de vestuário aos seus alunos e funcionários contratados. Veja-se o caso anglo-saxónico de Oxford, Cambridge, Harvard ou MIT. Estas faculdades de topo obrigam, claramente, as pessoas que as frequentam a vestirem-se do modo mais impecável possível. Não se vêem, por lá, alunos com calças de fato de treino, chinelos, calções ou t-shirts. Aliás, o que é isso de estar confortável quando o mais importante é estudar?
É óbvio que, para o jacobinismo liberal/conservador/democrata-"cristão", a única função de uma UCP é providenciar educação a meninos que queiram andar vestidos de chinelos nas aulas. Que nos interessa a eles, direcção de uma Universidade Católica, que um jurista seja bom pai, bom cidadão, se souber na ponta da língua o Código Civil? Ou que um ex-aluno viva conforme padrões de dignidade, desde que ganhe montes de dinheiro? Toda a gente sabe, ensinaram-nos os Alunos do Indiferentismo, que "dignidade" é um conceito abstracto, enquanto que o dinheiro, especialmente para realização pessoal, é um bem concreto - e que mais há na vida além daquilo que reluz, pergunta o leitor liberal? Ainda bem que, perante a ignorância dos educadores e dos pedagogos experientes da UCP, temos o apoio intelectual dos alunos, ajudando-nos a viver a construção de uma sociedade mais livre.
E, claro, a revolucionar conceitos, largando as grilhetas da etimologia ou até do mero senso comum.
Desde logo, arbitrariedade nos critérios de ''bem vestir'', possibilidade de abuso de poder de quem determina o que é ''vestir bem'', censura à liberdade de expressão no que vestir e, mais grave, o incentivo à delação e à denúncia. No fundo, a UCP deve querer criar uma polícia de bons costumes. Tenho medo é de saber quem vão ser os agentes da autoridade.
Queriam, com toda a certeza, os alunos do Idiotismo, que a direcção especifica-se, exaustivamente, a profunda ontologia de conceitos como "vestir bem", para que os nossos proponentes do livre-mercado e do amor-livre se sentissem menos confusos e menos afectados por tirânicas incógnitas. Deverá também, no mesmo documento onde explicita o que é "vestir bem", a instituição católica se dignificar a definir outros conceitos nebulosos, como a "dignidade", a "comunidade académica" e por último, para que as mulas do senhor Hobbes não se sintam oprimidas, que finalmente expliquem a estes estudantes da Católica o que quer dizer, em pouco mais de 600 páginas, "instituição da Igreja".
O que é bom em discutir com liberais é a oportunidade que temos, de vez em quando, em lhes pregar um tronco destes na testa. Dois dias depois, no entanto, acaba por cair outra vez.
Os alunos do Liberalismo, arvorados em defensores da Liberdade, mais não fazem que defender a substituição de uma Ética por outra. A que combatem, a que nasce dos ensinamentos de Cristo, é o novo crime a perseguir, a nova forma de vida a destruir. Tudo no nome de uma Liberdade que está, obviamente, intrínseca e unicamente ligada à forma de vida e linha de pensamento que possuem. Tudo o que se situa além disso é um repugnante manifesto de um passado vergonhoso.
Manifesta-se também o presente paladino da Liberdade contra a perspectiva de uma censura, aparentemente existente no inofensivo ponto três do comunicado da UCP.
Contra esta censura apela-se, obviamente, à censura da dita prática promulgada pela instituição responsável pelo ensino naquele estabelecimento. Mas não lhe chamemos censura; para tal, teríamos de ensinar aos Alunos do Liberalismo o significado de Censura, e esses eles já sabem - é tudo o que lhes proíba de fazer o que quiserem. E morram os dicionários.
Já para não falar na imensa justiça com que se comparou a directiva da UCP com uma instituição histórica que exercia funções judiciárias. Estes meninos bebem.
Um dia destes teremos a liberalidade portuguesa a cortejar o seu esplendor na Sluts Walk Lisboa. Ou será que o CDS/PP ainda não gosta dessas coisas?