8 de Julho, Concerto de Música de Câmara
Renaud Capuçon - violinista
Frank Braley - pianista
Ludwig van Beethoven
Primeira Parte: Sonata n.8 Opus 30 nº3 -------------- Sonata nº5 Opus 24
Segunda Parte: Sonata nº7 Opus 30 nº2
Extra: segundo andamento de outra sonata de Beethoven (o duo gravou há pouco a integral)
As minhas impressões foram de positiva surpresa. Surpresa, por exemplo, na perspectiva de evidenciar os motivos rítmicos, pelo pianista, de forma "amaneirada", como que mostrando tiques que teriam sido próprios da época (com toda a subjectividade daí adjacente, quer na análise auditiva, quer na análise a priori do contexto). Dava muito carácter às frases com diferentes ataques para diferentes acentuações e staccatos curtíssimos, mas que cortavam em excesso a noção de frase.
Outro exemplo será o excessivo vibrato do violinista, bom para finais de frase mas a despropósito nos seus inícios. Isto dava demasiado ênfase a cada nota, sendo que revelava ao mesmo tempo conforto técnico e de afinação.
Conforto era o que demonstrava também nos seus movimentos, mas todos com sentido e conexão com o significado da música, enquanto que o outro era pindérico, ao ajeitar as páginas, o mexer delicadamente e "em câmara lenta" o cabelo com gel, só gel, o olhar derretido para o parceiro. É isto que se costuma chamar de "intérprete expressivo" sem se saber o real valor desse epíteto.
Aborrecimento, onde?
2ª parte começa por ser o início do aborrecimento, porque aquilo que antes se tinha revelado frescura pela sua novidade, resvalou para o chato, para o "piroso" como alguém já o disse. Passa-se a notar a falta de uma estrutura mais abrangente, completa e perceber para onde ia música, mesmo que, de tão anestesiados que estávamos, já não pedíamos isso a 100%. O extra não ajudou à festa, com aquele "delicodoce". O público adorou, principalmente os (e as) violinistas.
Virador de páginas com pouca noção da roupa para levar e mais não digo.
Programa de concerto normal, ou seja, a dizer o mesmo, aquilo que vamos ouvir mas não o que podemos perceber das obras e ouvir algo como novo, coisa aliás tremendamente difícil num tempo de grande plêiade de gravações, maior conhecimento do público e a tradição de partir desse pressuposto para não dizer nada, pois dizer que uma música é "muito expressiva" não quer dizer quase nada. O público já parece estar acostumado a não se conseguir surpreender com as novidades tonais, rítmicas, per si.