quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Recordações da Hungria (V)

Da minha varanda contemplo árvores de grande porte sucumbirem ao vento, agreste e mal-disposto, que se aplacara ao Norte da nossa bússula interior e que, num grande opróbrio, as tinha vindo a obrigar, durante largos e intermináveis minutos, a enconstarem-se às vizinhas e aos vizinhos arbustos, muito incomodados com sua presença intimidatória, pois acaso já teremos mencionado que eram árvores de grande porte?
Ao longe e trazido pelo ar, esse acumulador de sons que os transporta, identifico notas de música provindas de um piano, um piano um tanto ou quanto desafinado ou desregulado. Seria Schumann, seria Chopin, Vianna da Motta ou Luís de Freitas Branco?
Não, a melodia não o revelava assim tão romanticamente, para o seu estilo. Tudo era envolvido numa forma sempre robusta, viva, audaz. Modulações contrastantes, ritmos abrasadores, comunhão de ideais de liberdade e sua irmã predilecta, a fraternidade. Fossem essas ou outras promessas, aquela música era de uma linearidade sem par, antecedida em fervor religioso por Bach, envolvida num dramatismo mais irónico, com alguma veleidade sensorial por Gluck.

Era Beethoven, o decano.

A mãe dessa pessoa, dessa humanidade em pessoa que estaria ao piano numa entrega ao espírito de Deus na procura de alcançar a sua perfeição, deveria ser uma mãe, dizia eu, compreendiva, pois se nenhum grito de angústia a assaltava.

Era Amor, o ufano.

Da minha varanda aclaro as memórias entreabertas por J. Almeida: é devido ao seu apontamento sobre os preços dos bilhetes para ver a tetralogia de Richard Wagner "O Anel de Nibelungo" na Casa da Música, no Porto.

«Era final de ano lectivo, exames à porta, como se costuma dizer. Mas as únicas portas que eu queria abrir eram as do MuPa (Palace of Arts de Budapest, Hungria) essa sala de concertos enorme mas incrivelmente pequena para tanto assombro ao assistir, pela primeira vez ao vivo, a toda a Tetralogia do Anel de Nibelungo de Richard Wagner.
Foi emocionante, um período da minha vida que não esquecerei. Só que é verdade aquilo que Debussy diz (embora não seja seu abnegado defensor, o Debussy em relação aos "wagnerianos"): obras criadas para um certo espaço correm o risco, muitas vezes, de verem o seu valor ser falseado sendo representadas noutras esferas, sociais, geográficas e musicais. Principalmente com esta obra e com Parsifal.
Uma pessoa raramente, por conseguinte, fica satisfeita com os cenários, com o momento em que vamos ver tal obra, de acordo com seu espírito interior e exterior. Mas quando tudo isto está de bem com connosco, com nosso gosto e nós de bem com a vida, então é momento raro aquele que vivemos.
Eu vivi, "literalmente", no MuPa durante 4 dias: eu já nem almoçava em casa, era à beira-rio, a 2 passos do "local".
Era época de exames, como já referi. Pois, está bem, era o tanas o estudo. Ele já o tinha sido feito anteriormente, de modos que eu vivia descansado, como depois de pode constatar na carta de curso. A vista no MuPa para o exterior era deliciosa. A comida do bar divina. Diabólicos, só os seus preços! Memorizei tudo o que havia para memorizar dos livros, cd's e restante panóplia de sensações e visões das lojas e do que as pessoas levavam, conquanto os intervalos eram de quase uma hora, por vezes. Ora essa, então e não conhecias ninguém? Eu explico:
Juntou-se pessoal, cada um ia estando na fila de forma dividida de tempo para comprar o bilhetes. Infelizmente, só um sobreviveu: eu. Os outros não aguentaram tanto tempo, ou queriam estudar, ou "não gostaram". Ao 3º dia eu já ia para lá só como que numa caminhada para Santiago de Compostela ou Fátima. Só espiritualmente, porque fisicamente era uma catrefada de gente nos transportes. Romaria!!!
Conheci, fiquei conhecido de amigos, amigas. Ainda hoje falo com gente que conheci nesses 4 dias.
Ainda hoje me lembro das férias que fizemos, juntos, depois disso.
Bom, atrás mencionei o acto, em comunhão, da compra dos bilhetes.
Bilhetes para estudantes, fossem de que curso universitário ou secundário fosse, vendidos horas antes de cada dia de espectáculo. Longas filas. Porque razão?
Porque os preços eram de, atenção caro leitor,
1,20 €.

E esta hein? diria Fernando Pessa, com seus olhos esbugalhados de espanto.

E quer a Casa da Música vender a 35€ por pessoa, preço NORMAL, por espectáculo?
Ainda por cima numa versão reduzida e com menos instrumentos? Só para que possa ser itinerante? Claro, assim fica mais barato para quem a põe em cena.
Se a ideia de dar a conhecer esta obra é meritória, a forma escolhida não é a melhor.
Ainda por cima a publicidade não apela a nada, que raio de parte eles puseram para ouvirmos?
A explicação dos artistas também não me transmitiu rigorosamente nada. E um vídeo sem legendas em português? E se eu for uma pessoa que não saiba nenhum daqueles idiomas mas que goste de ouvir boa música???
Ainda por cima, o cenário não é nada de extravagante, a cantora que aparece a cantar no segundo vídeo faz vibratos de 3ª, o que, trocado por miúdos, canta entre (ou varia a afinação) 1 a 3 notas de cada vez. Isso não dá. Nota-se logo. O preço exagerado por isto????
Até me podem apresentar outras salas de espectáculo por essa Europa fora (sempre é uma forma de se mostrarem "cidadãos do mundo", que têm informação do "estrangeiro") que em poucas salas de espectáculo podemos encontrar preços bons como estes. Mas se até a sala não é boa o suficiente acusticamente?
Lembram-se de falar na Romaria?
Essa romaria era nos transportes públicos mas de gente de todas das faixas etárias e estratos sociais, como agora se denominam "os indivíduos" em classes.
E se eu vos disser que essa treta de termos que comprar um passe e ele só estar válido até ao final do mês, mesmo que a gente compre em meados do mesmo?
Lá não funciona assim: compramos dia 10, ele dá até dia 9 do mês seguinte, e depois queremos ficar alguns dias sem passe porque sabemos que não o utilizamos - vamos de férias, por exemplo (Budapest ficava quase deserta de moradores nas férias, fossem elas quais fossem, então feriados é que era, mas isso são outras "estórias" - desculpa Manel, mas tinha que o escrever - é a vida) - então compramos dias depois e vigora até um dia antes, do mês seguinte. Tão simples, tão convidativo para se usarem mais os transportes públicos. Mas em Portugal é um m.... Não pensam nas pessoas. Budapest faz parte de um país mais pobre, sim, mais pobre, que Portugal. Aqui pensamos como novos ricos, é tudo à grande.

E por isso voltamos à questão dos bilhetes. É a mesma coisa para se ver uma ópera.

...e por aí adiante...

domingo, 28 de agosto de 2011

Uma obscura trama



Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho

Hoje a cidade acordou toda em contramão
Homens com raiva, buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta a casa, na rua recolhi um cão
Que de hora em hora me arranca um pedaço

Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício

Hoje afinal conheci o amor
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor
Mas se ela chora, desejo me inflama

Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Capitalismo, Liberalismo, Catolicismo

Junto con los demás nuevos teólogos políticos, Stephen Long rechaza toda acomodación al liberalismo y al capitalismo. Se esfuerza principalmente en desmontar las tesis de Michael Novak. Este católico liberal acepta el liberalismo con sus leyes específicas, pero reconoce la necesidad de normas morales que tiene este sistema económico para poder prosperar. Como el capitalismo no produce valores por sí mismo, hay que encontrar en otro lugar la fuente de los valores necesarios para su funcionamiento. Las religiones son necesarias para esto, en particular el catolicismo. Ahora bien, el catolicismo, deplora Novak, ha sido demasiado a menudo hostil al liberalismo, por no comprender suficientemente los mecanismos de la economía moderna. Es importante, por tanto, reformarlo, renovarlo, abrirlo a esta realidad.

Novak se adhiere sin pestañear al principio básico del liberalismo económico: la “mano invisible” de Adam Smith mediante la cual la búsqueda individual de beneficios produce la riqueza óptima. Desde su punto de vista, ese ejercicio mecánico de una libertad negativa es independiente de la moral: sería incluso peligroso contrariar el juego de los egoísmos. Al mismo tiempo, Novak, en tanto que cristiano, defiende la libertad positiva de la persona que busca lo bello, lo verdadero e incluso el bien común. Long denuncia esta incoherencia.

La concepción de la libertad negativa propia de los liberales (libertad de no ser obstaculizado para actuar) conduce a defender los mercados y las empresas aun cuando tengan efectos moralmente nocivos. Ahora bien, para un cristiano, deberían estar subordinados a fines morales. Novak sólo retiene de la Doctrina Social de la Iglesia lo que pueda compensar las desastrosas consecuencias de un sistema cuyos principios son radicalmente ajenos a ella. La llamada a la religión y a la ética sigue siendo puramente extrínseca en un sistema cuyo resorte es la utilidad. Mientras que un gran pensador como Joseph Schumpeter habría comprendido la potencia moralmente corruptora y corrosiva del capitalismo (que engendra a su vez la reacción socialista), Novak se manifiesta incapaz de reconocer la lógica utilitarista, individualista y, por tanto, inmoral del sistema.


do El Matiner

O Nosso Fado é Vencer


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Breivik como espelho da mediocridade

Carlos Velasco analisa aqui, e acerca disto, e eu só lhe posso dar toda a razão, a mediocridade académica que mais não é que o forninho intelectual de novos e diferenciados Breiviks:
No vídeo acima, ele faz de conta que está preocupado com o facto das crianças hoje aprenderem a ser terroristas na escola, e logo depois, prosseguindo este fingimento nada subtil, ensina toda a gente como matar com técnicas das quais nunca ouvi falar, e eu sou daqueles que têm os ouvidos e olhos atentos. A ideia de matar e, em especial, a "maneira de matar", dão um gozo enorme ao doente em questão, que o demonstra, sem o saber, com o brilho no seu olhar hipnotizado e na sua descrição, já na parte final do vídeo, da maneira como agonizaria uma vítima de uma das técnicas assassinas que ele divulga. Após este espectáculo ridículo, como forma de se gabar da sua "inteligência" e de um suposto domínio da arte da língua dupla, ele volta a provocar com uma mensagem alertando que nada daquilo deve ser tentado, depois de tentar a todos com o seu "poder de sedução". Quem, a não ser um psicopata, age assim?
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Que fique claro que deixo aqui o alerta: temos diante dos nossos olhos um idiota de maus instintos que se tornou um psicopata perigoso graças à educação contemporânea. Não duvido que dentro de algum tempo veremos o seu nome estampado nos jornais e revistas de todo o mundo, que provavelmente usarão a tragédia como desculpa para mais uma campanha de desarmamento, que, para variar, atingirá apenas quem deseja se defender deste tipo de doentes, que costumam atacar apenas quando têm a certeza de que não haverá resposta. Quanto a eles, conseguem sempre arranjar armas ou uma maneira engenhosa de matar. O pretexto? Já trataram de lhes ensinar...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Majesty

(na foto: estátua do Rei Mindaugas da Lituânia, em Vilnius)


"You know that the rulers of the Gentiles lord it over them, and the great ones make their authority over them felt. But it shall not be so among you. Rather, whoever wishes to be great among you shall be your servant; whoever wishes to be first among you shall be your slave. Just so, the Son of Man did not come to be served but to serve and give his life as a ransom for many." (Matthew 20:25-28)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Homenagem a Pe. Dr. Joaquim Gonçalves dos Santos

Janeiro, 12
"O que eu quero principalmente é que vivam felizes."

Não lhes disse talvez estas palavras, mas foi isto o que eu quis dizer. No sumário, pus assim: «Conversa amena com os rapazes». E pedi, mais que tudo, uma coisa que eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo e lealdade de cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou o companheiro: lealdade activa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os nossos pontos fracos ou a rir só quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro.
«Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.»
Não acabei sem lhes fazer notar que «a aula é nossa». Que a todos cabe o direito de falar, desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela.


Janeiro, 14


Como vou insistir muito na leitura, achei bom começar por uma lição teórica (conversada) sobre as conveniências de ler bem. No meu sumário (digo meu, porque cada um de nós - preveni ontem os rapazes - escreverá o seu sumário, dando assim uma notícia da sua capacidade de síntese e da atenção com que seguiu a aula) - isto é incrível, ainda mais se acontecesse nos tempos de agora - escrevi:

1 - a) A leitura e a conversa.

Como aquela se deve aproximar desta e como essa aproximação nunca passa de aproximação, do mesmo modo que aquela flor que eu pintei a óleo numa tela (...) não pode nunca confundir-se, embora perfeitíssima, com a flor modelo. Dentro da notação da diferença entre uma e outra, fi-los verificar como se não confunde uma conversa (...) improvisada, com uma entrevista (...) nitidamente lida.


b) A cor da palavras.


Há palavras alegres e há palavras tristes. E essa tristeza ou essa alegria umas vezes está nelas, outras no modo de as dizer. Assim, certa palavra pode ter muitas e até contraditórias significações, consoante o modo como é pronunciada.

(...) pronunciei «malandro» querendo exprimir (...) ódio e querendo exprimir carinho. E ainda: «Estou muito desgostado» que pode querer ou não querer dizer isto mesmo.


c) Conveniências de ler bem


Para que nos oiçam; para que nos compreendam; para que se convençam. Quem é que vai perder tempo a ouvir, na rádio, alguém que diz coisas estupendas numa leitura péssima? Mas todos ouvem com gosto o Artur Agostinho...


Quem é que compreende o que digo, se o que digo é incompreensível por incolor ou baço, apesar de significar claridade? A quem comunicarei o meu entusiasmo, se não falar entusiasmado, a minha tristeza, se parecer que estou a alegre, a minha necessidade de chegar depressa, se der a mostrar que tenho muito tempo?

Fevereiro, 18

(...)

a definição de professor como eu o vejo: «Ser professor é dar-se».


ENSINAR É AMAR.



Num tempo em que tanto se fala de mudanças na educação para "meninos" e "jovens", deixou de haver uma preocupação com aquilo que realmente importa, a meu ver: o sentimento, no final de uma aula, de que o professor se sinta realizado, com estas palavras do Poeta: Que bela lição que eu dei!

_____________


É no seu "Diário" - o 2º volume da colectânea das obras completas publicada sob a alçada das Edições Ática-Lisboa, 5ªedição - que podemos encontrar as palavras atrás transcritas do registo quotidiano das experiências enquanto estagiário do Ensino Técnico (1945) de Sebastião da Gama, Professor de Português e Poeta.

Posteriormente às palavras de Hernâni Cidade, tão bem encadeadas e bem demonstrativas da figura de extrema delicadeza e com grande apego às coisas simples e belas da vida que o foi em sua tão tenra e curta vida Sebastião da Gama, podemos encontrar um começo com estas palavras de uma exactidão e, no entanto, de tamanha leveza de espírito e gratidão pela Vida plena de espiritualidade, não daquela bacoca, mas da que se pratica todos os dias só com um olhar, uma palavra de agrado para com o outro, para com a Natureza.


São elas:


- «Tens muito que fazer?


- Não. Tenho muito que amar.»

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

The Contemporary Generation - III

"We come to the River" received its world première at the Royal Opera House, Covent Garden, on 12 July 1976. Hans Wener Henze produced the opera himself, assisted by David Pountney, and Henze's youngest brother Jürgen, designed the scenary and costumes.
In the programme booklet, Bond ( Edward Bond, the left-wing British playwright) and Henze jointly published a statement concerning the political nature of art:


Men without politics would be animals and art without politics would be trivial...

Art isn't involved in itself. If there are H-bombs and concentration camps art either acknowledges this (and makes these things its subject, literally or analytically) or it deliberately turns its back on them and so falsifies reality. It can't turn aside and pursue its own path, it has no path. Art is realism or it is trivial, and there's nothing much in between.

We could rewrite the parable of the man who fell among thieves: an artist came down the road, saw the wounded men in the gutter, crossed over to pass by on the other side and fell in a ditch and broke his neck.


Será que sim?

ou

Será que não?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Contrato Social


Relembrando isto:

Sobre a Teorização Contratualista das Origens do Estado

"Uma sociedade não se constitui pelo acordo das vontades. Pelo contrário, todo o acordo das vontades pressupõe a existência de uma sociedade, de gentes que convivem, e o acordo não pode consistir senão em determinar uma ou outra forma dessa convivência, dessa sociedade preexistente. A ideia da sociedade como reunião contratual, portanto jurídica, é o mais insensato ensaio que se fez, para deitar o carro adiante dos bois. Porque o direito, a realidade direito (não as ideias do filósofo, jurista ou demagogo acerca dele), é, se me permitem a expressão barroca,secreção espontânea da sociedade, e não pode ser outra coisa"
A Rebelião das Massas - Prefácio aos Franceses, Ortega y Gasset

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

The Contemporary Generation - II

He was not born for the classics, nor does he fit the role of the "old master".
To me, he will always remain the fresh gay musician that he is.



Otto Klemperer on Hindemith,


Minor Recollections, 1964

The Contemporary Generation

It is not surprising that things have developed as they have. The discovery, in the last century (XIX), of the extreme limits of power and subtlety in the effect of the musical tone extended the boundaries of the tonal domain at the disposal of the composer into hitherto undreamed-of distances. New combinatios of tones came to be recognized, and new ways of bending a melodic line were discovered. It seemed as if the sun had risen upon a new, glowing, iridescent land, into which our musician-discovers rushed headlong.
Blinded by the immense store of materials never used before, deafened by the fantastic novelty of sound, everyone seized without reflection on whatever he felt he could use.


At this point instruction failed.



Either it fell into the same frenzy as practice, and devoted itself to flimsy speculation, instead of adapting its systems of teaching to the new material, or it lapsed into inactivity, and what had never been a very strong urge towards novelty turned into a barren clinging to the past. Confidence in enherited methods vanished; they seemed barely adequate now to guide the beginner's fisrt steps.


Whoever wished to make any progress gave himself unreservedly to the New, neither helped nor hindered by theoretical instruction, which had simply become inadequate to the occasion.


Part of the introductory chapter to the first volume of his book Unterweisung im Tonsatz ( 'The Craft of Musical Composition' ).


Isto foi sendo escrito até 1937.


Mas esta situação iria ser repetida depois de 1945.


Ou seja, antes e depois da 2ª Guerra Mundial há grandes controvérsias e mudanças na visão que se tinha da composição musical.


O mais irónico disto é que, neste texto, Paul Hindemith, compositor alemão, deu expressão, só pela consideração musical, a uma argumentada rejeição de muita da música por parte do regime degenerado dos Nazis. Mesmo que Hindemith, pessoa sem qualquer atitude ou demonstração, mesmo que em privado, de qualquer inclinação ou pensamento político ou até mesmo religioso, tenha mesmo assim sofrido, tanto à sua música como ao seu livro, críticas e discursos de uma violência aterradora e sem qualquer justificação por parte, principalmente, de Goebbels, o que levou à necessidade de uma defesa irredutível, em artigo de jornal Deutsche allgemeine Zeitung ( o último jornal liberal diário na altura ), do maestro alemão Wilhelm Furtwängler.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Consolatio Philosophiae

Desejas tu o poder?
Sê senhor dos teus impulsos
Não te abandones ao prazer:
Recusa um guia tão vergonhoso!
Ainda que a terra distante
Da Índia sob as tuas leis trema
E que, no fim do mundo, te obedeça Tule,
Expulsa os teus negros cuidados
Deixa de te comprazer
Senão, o poder não será teu.

Boécio, Consol., III, 10

terça-feira, 2 de agosto de 2011

People in concerts/O típico espectador de concertos de piano

Há aqueles que estão lá só para ver quem está e quem não apareceu, que vestidos levou, que perfume vai usando. Notam-se logo as não comparências de "gente importante". Há gente que se só vê lá. Temos os que ouvem uma interpretação muito boa mas só sabem dizer "Ah, aqueles estudos de Chopin foram muito bem tocados, mas o Pollini toca melhor" ou "a Martha Argerich toca mais rápido", entre outros dislates.

Aqueles que falam de tudo e mais alguma coisa menos do concerto em si. Aqueles que fazem questão de nos fazer saber que já têm bilhetes para o próximo concerto do festival ou ciclo e que, se quiséssemos, tínhamos a tido a possibilidade que essa pessoa arranjasse um convite. Estes também fazem propaganda dos concertos que viram e daqueles que vão dar, dos cursos de aperfeiçoamento/masterclasses que fizeram e vão realizar, das peças que andam a estudar, dos concursos em que vão participar, das escolas e professores com que vão estudar, sem nada lhes ser perguntado. É um desenrolar quase mecânico por cada concerto que passa.

A comparação com outros concertos que nós tenhamos visto é salutar, demonstra conhecimento de recitais ao vivo, alguns deles sublimes, os quais normalmente deixam-nos sem palavras. Só o exagero de tudo ter que dizer a toda a gente é que chateia.

Há aqueles que estão a conversar tranquilamente e aqueles que pensam estar no meio de um arraial. Os que ficam no seu lugar no intervalo, porque não lhes apetece andar a cumprimentar meio mundo - finos, porque assim quem quiser vai ter com essa pessoa. E aqueles que, não vendo uma pessoa há muito tempo, só se lembram de dizer "estás com melhor cara, até o teu acne melhorou", ou "ah, agora usas maquilhagem", ou até andas a namorar, não andas?", entre conversas sobre o tempo.

Há casais importantes. Há casais fictícios ainda mais importantes. E ainda há coscuvilhice para casais que o poderiam ser. Há dissertações sobre a idade de certos músicos.

"Personagens"

Aquela que vai logo para o facebook escrever maravilhas do concerto, que aquele pianista é o maior, ou pior, que aquela cravista é a melhor e que muda de opinião ao concerto seguinte.

Aqueles que vêm sempre com CD da Fnac e que no fim passam por lá de novo.

Aqueles que ficam meia hora quer para levantar bilhetes quer para pôr o casaco de peles no bengaleiro.


A sensação de se assistir, de respirar uma interpretação, seja de que agrupamento ou instrumentista solista, ao vivo, é sempre única e irrepetível, se bem que, por vezes, inócua, outras porém, inolvidáveis.

É uma atmosfera de espera pelo novo, pela inspiração, pela surpresa, pela revolução.

Esse será, obrigatoriamente, um dos fascínios do concerto ao vivo - a não recriação total de uma gravação.

Combinam-se cafés, negócios e negociatas, jantares, namoros, gravações, recitais. Trocam-se contactos, criamos factos, ouvimos relatos.

Só que há sempre gente que não desliga os telemóveis; logo na parte mais íntima, quase silenciosa PIMBA, lá começa uma valsa de Chopin toda estridente. Há fotógrafos que usam máquinas com tamanho flash que a gente fica a parecer uns fantasmas de tão brancos que ficamos, quase hipnotizados. Há quem se lembre de se levantar a meio e passar à frente do público e das câmaras mesmo à descarada.

Pior, há gente que se veste mal, outra muito mal. Vá lá, outra que se veste muito bem. A mesma coisa na escolha dos perfumes, dos sapatos, dos adereços, da maquilhagem, do corte de cabelo. Há pessoal que leva pochete - há uma pessoa que, de tanto andar sempre com a mesma, já se tornou um clássico - e outros que andam com a casa às costas.

Vê-se mulheres bonitas, outras demais feias, horrorosas. Mas, ufa, há mulheres muito bonitas, mulheres de pianistas que são mesmo uma "brasa". Há mulheres na assistência lindíssimas, outras caquécticas. Há fascínio entre os ouvintes se uma certa e determinada pianista levar um certo e determinado vestido vermelho fatal.

Há públicos agradáveis, outros profundamente desagradáveis, mal-educados, distraídos. Há silêncios constrangedores, mas outros deliciosos.


Dedicado a todos que assistem a concertos e que vão mantendo este evento cultural com público.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves