segunda-feira, 5 de maio de 2025

Sobre faltar às aulas

Quando as pessoas falam em instrução pública, falam sem saber que se trata de uma das maiores enormidades da história da humanidade. A partir do momento em que se estabeleceu, a Escola mudou para sempre mentalidades e paisagens, submetendo-a à vontade do Estado.

Os jacobinos franceses usaram a Escola Pública para matar a velha França medieval em toda a sua diversidade cultural e linguística, para propagar o seu francês parisiense e os seus ideais revolucionários. Em poucas décadas, o dito francês "cosmopolita", falado em 1789 por pouco menos de 20% da população do Reino da França, passou a língua materna da generalidade dos franceses a viver na República Francesa, no ano de 1850.

Ao contrário do se prega, os governos que passaram pela primeira Revolução Industrial, especialmente o inglês, já em 1832 preocupavam-se com a educação dos petizes que laboravam nas fábricas. A ideia era retirar aos pais a educação das crianças, para criar trabalhadores mais bem formados, quadros mais especializados e capazes. Gente que não mandriasse, que mantivesse os pés bem assentes na terra, que o que importava era trabalhar e bem servir o patrão, para subir na vida e na carreira.

O velho Mao Zedong ensinou o povo chinês a ler para que este pudesse ler o seu Livro Vermelho. A instrução escolar não foi criada para dar ferramentas intelectuais, como a velha escolástica medieval ou a cultura intelectual greco-romana - foi criada para incentivar os indivíduos à obediência, para criar bases pedagógicas para a submissão.

Já a empregada de Agostinho da Silva, segundo nos dizia o filósofo de Barca D'Alva nascido no Porto, dizia que não queria aprender a ler para não ter de "saber das mentiras que eles contam nos jornais".

Quando a Esquerda se queixa do suposto obscurantismo da política educativa de Salazar (o que é falso, os números indicam a maior descida na taxa de analfabetismo da nossa história) está a dar tiros nos próprios pés.

Foi a Educação de Abril que terminou o serviço de controlo estatal das mentes e dos corações a partir da pedagogia pública. Os últimos resquícios de pensamento local, de sabedoria tradicional, foram destruídos em menos de 40 anos de educação "democrática". O português comum não assume uma mentalidade local (além do conceito de rivalidade clubística ou bairrista), substituindo-a por conceitos abstractos de igualdade, profissionalismo e cidadania (que não lhe servem para nada a não ser para conversa fiada, ou pior, para o enganar) e por conceitos bastante concretos de consumismo puro e duro, em que os seus únicos objectivos são os de amealhar, satisfazer-se e não fazer ondas. Vivemos na era da paz social, na era sem tumultos nem motins, não porque as democracias satisfazem os cidadãos de maneira exponencial, mas porque todos fomos ensinados pela Educação Pública a ser bons meninos e meninas e a não levantar ondas.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves