domingo, 18 de maio de 2025

Carta escrita no avião

 Carta aos meus filhos Lourenço e Tomás 


Meus queridos meninos,


Escrevo-vos esta pequena carta a pensar no que preciso vos dizer caso não possa cá estar para falar convosco. Lourenço, meu pequeno tourinho, tão pequenino e já tão cheio de carácter, penso todos os dias no teu sorriso rasgado e na tua disposição alegre. Tens um efeito especial nas pessoas, iluminando qualquer sala com a tua alegria contagiante, a tua presença bondosa, o teu carinho de menino espevitado. Hoje acordei a pensar, quase em lágrimas, na alegria que tenho em saber que daqui a umas horas te vou abraçar. 

Meu Tomás, meu menino. Como estou ansioso por te conhecer. Como te amam os teus papás, que te fizeram no amor de Cristo e te querem tanto, tanto, tanto. Ainda não sei como és, meu narizinho pontiagudo, mas já sou teu pai, sempre fui teu pai, serei sempre teu pai. És, como o teu irmão, o fruto doce de um grande amor, aquele que nutro pela tua mãe, que é a melhor coisa que Deus me pôs nesta vida. 

Ficam a saber os dois que qualquer que seja o destino que calhe ao vosso pai, ele é o homem mais sortudo desta terra, porque vos tive e, especialmente, porque vos tive da vossa mãe. Todos os dias agradeço à Providência ter-se enganado tanto a ponto de pensar que um desgraçado como eu mereça alguém como a vossa mãe.


Meus queridos meninos, quero muito que aprendam algumas coisas que eu aprendi nesta vida e que vos quero transmitir, mas que posso, por algum desígnio desconhecido, não ter como vos ensinar.


Primeiro, que devem amar a Deus acima de todas as coisas, porque amar a Deus torna-nos capazes de amar os outros com todo o nosso coração. Quando Deus não está primeiro, não se ama. Amar a Deus torna-nos capazes de entender as falhas dos homens, as suas traições, as suas mediocridades, a sua mortalidade, o inevitável fracasso de todas as coisas humanas. Tudo nesta vida que não dependa do amor de Deus vai acabar por morrer e importa tanto, no esquema superior das coisas, como o pó da rua.


Segundo, que devem amar a vossa Madre Igreja Católica, Apostólica e Romana.

Esse é o designio que os vossos antepassados vos legaram e que herdastes pelas juras e prometimentos dos cavaleiros, doutores, lavradores, pais e mães e avós de quem descendem. É fácil amar as coisas que nos estão por baixo, como os cãezinhos, os gatinhos, os amigos, o clube de futebol, o partido, etc. Difícil é amar aquilo que nos é superior, como a Deus e à Sua Igreja, que é representada tantas vezes por homens desagradáveis ou injustos. O Amor, contudo, tudo tolera e tudo vence.


Terceiro, saibam que o vosso pai foi monárquico e leal à Fidelíssima Casa de Bragança, mas que compreendo muito bem que a vossa sensibilidade ou o vosso sentido de oportunidade vos leve a seguir um caminho diferente. Acima de tudo, o inegociável é a nossa lealdade a Portugal. Seja um rei, um presidente, um komintern ou um sinédrio, nunca desonrem este vosso velho nome com outras alianças que não as que tenham o máximo interesse da Pátria como fundamento. Lembrem-se que o pior inimigo é sempre o traidor.


Quarto, lembrem-se desta prática máxima de “quando em dúvida, a Caridade. No fundamental, a Fé.”

Ou seja, mantenham um núcleo pequeno de principios inegociáveis que vos definam como homens e como cristãos. Em tudo o mais, pratiquem caridade e o amor ao Próximo como Cristo nos mandou no Sermão da Montanha. Que os vossos valores sejam como o ovo estrelado - no centro uma gema bem amarela, quase laranja, os vossos valores bem definidos e bem sustentados, partir dos quais não arredam o pé, de onde se quebra antes de torcer. Tudo o resto é a clara, ou seja, aquilo que podem negociar, os compromissos que podem fazer, o mundo onde hão-de gravitar a maior parte das vossas decisões.


Quinto, que sejam amigos um do outro. Se o amor de Mãe e de Pai são prendas divinas, o amor de um irmão é a ferramenta essencial para uma vida feliz. Não há ninguém em quem eu mais confie que nos meus irmãos. Sejam amigos um do outro e vão ver que nunca estarão sós perante o mundo.


E acima de tudo, obedeçam à vossa mãe e dêem-lhe sempre muitos beijinhos, todos os que o papá não conseguiu dar.

Ter uma mãe é a maior bênção deste mundo e a vossa é superior a todas.

Ânimo e coragem, e agora vou fechar o texto que o avião vai descolar e vou estar em breve nos vossos braços. 



Do vosso pai,


Manuel


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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves