quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Pouco Observador

Se aquilo que, durante muito tempo, pode ter-se assemelhado a uma inclinação política e moral para direcções que a clarividência repudia, no momento presente não será absurdo ver em Morrissey apenas alguém que diz o que necessário for para viver à altura da sua reputação de corajoso bardo anti-consensos. Amar os animais e atribuir aos chineses a categoria de sub-espécie, piscar o olho a Marine Le Pen e ao UKIP, associar levianamente terrorismo e imigração, perverter a razão no que ao conflito israelo-palestiniano diz respeito e encontrar justificação e alibi para comportamentos javardos constituem capítulos de relevo de um compêndio já considerável. 

A crítica aqui citada pode ser lida na íntegra no Observador e vem da pena de Pedro Gonçalves.
Não nos interessa aqui as ideias de Pedro Gonçalves, nem a sua sentença sobre o recente documentário da vida de Morrissey.

O Observador surgiu como um jornal de Direita, um modelo jovem e moderno para expor as ideias de um quadrante ideológico que conhece, em Portugal, poucos ou nenhuns meios mediáticos para se exprimir.
Contudo, a crónica de Pedro Gonçalves exprime na perfeição a verdadeira face do Observador - a face da direita que a esquerda nos permite.
E a esquerda, claramente, só permite uma direita que não aceite Le Pen, que embarque no discurso da ideologia de género, na cultura de policiamento dos comportamentos, no discurso politicamente correcto.
Nada de javardices. Só uma direita direitinha.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

The World State

Oh, how I love Humanity,
With love so pure and pringlish,
And how I hate the horrid French,
Who never will be English!

The International Idea,
The largest and the clearest,
Is welding all the nations now,
Except the one that’s nearest.

This compromise has long been known,
This scheme of partial pardons,
In ethical societies
And small suburban gardens —

The villas and the chapels where
I learned with little labour
The way to love my fellow-man
And hate my next-door neighbour.

G. K. Chesterton

domingo, 19 de novembro de 2017

Uma casa arrumada

Se os liberais transportavam um nacionalismo revolucionário, os miguelistas edificaram um "nacionalismo contra-revolucionário", identificando a forte identidade cultural: uma unidade étnica, linguística, religiosa, demarcavam Portugal no contexto Europeu. Ideário determinante, mais do que rei absoluto, D. Miguel aparece como libertador de Portugal. Analisa a este propósito Fernando Campos: "o nosso nacionalismo não precisa de socorrer-se dos mestres franceses da Contra-Revolução, porquanto, graças a Deus, os tem de casa, muito seus, os quais nada devem aos estranhos(...)" (4)

quarta-feira, 26 de abril de 2017

A necessidade de ser monárquico e o Ideal da cavalaria

Entre as recordações mais vivas que tenho da infância, a velha sala do meu tio José na casa de Tendais é uma das mais recorrentes. O fascínio não era dedicado à mesa em si, mas aos adornos que encimavam a mesma – duas pequenas esculturas de ferro figurando cavaleiros medievais, em posição de ataque, como se se confrontassem numa justa. A alma da casa e do seu velho dono pareciam revolver no mesmo espírito desta cena – as imagens, tal como o meu tio, enchiam a casa de uma dureza, de um rigor frio e velho, uma espécie de inverno branco que, em conjunto com a luz que entrava pelos cortinados da janela, enche as recordações daqueles dias com uma cor que cega.
Os corredores gelados da casa de Tendais, especialmente para a mente de uma criança, criaram em mim uma impressão muito forte, que acompanhou na pele os ensinamentos que os homens da minha família, o meu pai, tios e avôs, partilharam comigo. 
Lições de dever, de coragem, de generosidade, de caridade.
Levei comigo essas palavras e agucei as minhas conclusões ao longo dos anos. Questionei durante muito tempo os valores familiares. Um deles, o mais pitoresco, a tradição monárquica, foi talvez o que mais abalos sofreu. Enfrentei a dúvida que tantos jovens monárquicos enfrentam: porque razão nos devemos bater por uma ideia que mais não é do que uma afirmação estética, uma diferenciação social que, para os que não sofrem do pedantismo snob da suposta velha aristocracia, é mais prejudicial do que proveitoso?
A verdade é que a Monarquia não é palco para as vaidades da consanguinidade de sangue azul. A Monarquia não é também, ao contrário de tantos cientista políticos, um “atenuador” das lutas partidárias das democracias modernas. Isto não são monarquias, são velhas situações.
A Monarquia é a conclusão do Pensamento, é a Árvore, e a flor desta Árvore é o ideal da Cavalaria.
Numa coisa os democratas da monarquia têm razão: a Monarquia controla a paixão pelo poder dos poderosos. Mas fá-lo porque substitui essa paixão pelo amor ao serviço da Pátria, pelo amor aos feitos corajosos, pelo amor aos mais fracos e desprotegidos.
Numa coisa os snobs hemofílicos da monarquia têm razão: a Monarquia enobrece. Mas a Monarquia não enobrece os inúteis e os pedantes, os covardes e irresponsáveis, os que assumem as benesses da sua casta como direitos adquiridos. A monarquia enobrece os que vivem à lei da nobreza. Que nobreza?
O ideal de nobreza merece ser aperfeiçoado. A nobreza não depende de um canudo universitário ou de um salário milionário – encontra-se em todas as camadas sociais, pertence a todos os grupos profissionais e a todas as actividades que garantem o bem comum na sociedade portuguesa. Encontra-se no estudante que luta por uma bolsa ou por conseguir o dinheiro das propinas, no empregado fabril ameaçado pelo fecho da sua fábrica, no desempregado que todos os dias navega anúncios atrás de anúncios de emprego na Internet.
Quando tantos e tantos destes homens e mulheres, na sua luta diária, encontram tempo e disponiblidade para dar de si aos outros, é que nos apercebemos que o ideal de cavalaria, aquela dura rigidez do dever, naquela alma de ferro que se demonstra nos mais calorosos actos de amor, de facto existe, mais forte do que nunca, somente à espera de alguém ou algo que lhe dê significado. Esse alguém é, sem dúvida, a monarquia e esse algo é a necessidade de ser monárquico.

sábado, 15 de abril de 2017

Até breve, amigo!

A generosidade é uma característica própria dos homens corajosos. Contando com a generosidade com que o meu amigo Alberto Corrêa de Barros distribuía tanto sorrisos como sopapos, na sua vertente física e intelectual, posso dizer seguramente que tive a honra de estar presente perante um gigante. Vamos todos sentir a sua falta, Alberto, da sua enorme cultura e dos desafios que nos lançava a sua intrépida atitude e exemplo.

Alberto Pais de Figueiredo Corrêa de Barros.

Presente!

terça-feira, 4 de abril de 2017

Dicionário de Expressões Populares Portuguesas: Escarrapichar-se

Escarrapichar-se - Articular as palavras com ênfase ou excessiva meticulosidade; falar afectadamente (Torquel) (CF)

SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993, pág. 272

Já apareceu a bandeira russa na Torre Eiffel?

Ou na Porta de Brandeburgo?
Que dizem os líderes europeus sobre o sucedido?
Onde estão as ondas de solidariedade "internáuticas"?
Os hashtags?
Quem fez as montagens comoventes para as vítimas de São Petersburgo?
Alguém conhece um pianista de ocasião que saiba tocar um Imagine, ou mesmo uma polkazinha?

quarta-feira, 22 de março de 2017

sábado, 18 de março de 2017

Eleições à holandesa

Mário Casa Nova Martins acertou em cheio, na sua análise sobre os resultados eleitorais na Holanda

O VVD passa de 43 para 33 deputados, ganhou!
O PvDA passa de 38 deputados para 9, ganhou!
O ‘maldito’ PVV passa de 15 para 20 deputados, perdeu!
E assim por diante, pode ler-se na imprensa de referência portuguesa e estrangeira.

sexta-feira, 10 de março de 2017

A espada de duas mãos - o montante ibérico

montante do século XVI, 157 cm. Museu Militar de Lisboa

Os campos de batalha do Renascimento testemunharam o aparecimento de um novo tipo de espada que ia marcar a forma como a guerra se fazia, assim como a própria identidade marcial, em muitos povos da Europa.

detalhe do Martírio de Santa Clara, de Lorenzo Lotto (1524), analisado aqui. Repare-se nos dois soldados equipados com "spadone" ou "spada a due mani"

A famosa espada de duas mãos dos lansquenetes alemães, corpo militar criado pelo Imperador Maximiliano, impressiona os exércitos suíços, franceses e italianos. Também está registado o uso de espadas de duas mãos pelos cavaleiros hospitalários na defesa de Rodes (1522) contra as tropas do sultão Solimão, O Magnífico, especialmente o caso do famoso Cavaleiro Prégeant de Bidoux, que defendeu sozinho um troço da muralha derrubada pelas balas dos canhões otomanos, usando da sua mestria com a comprida spadone, a espada de duas mãos italiana, para massacrar dezenas de janízaros assediantes. O êxito deste acto de bravura poderá estar também ligado ao facto de, como mencionou Luigi di Caro, autor de uma “Storia dei gran Maestri e cavalieri di Malta: volume II” (1853), o nosso Prégeant


pelo que podemos concluir que, de facto, quando se faz o trabalho com gosto, tudo sai melhor.

A espada de duas mãos conheceu também muito sucesso por estas bandas, sendo que cá, ao que se pensa, teria um tamanho algo mais pequeno, tendo-se mantido como arma de duelo até muito mais tarde do que no resto da Europa. De facto, se o zwihänder alemão e o spadone italiano deixam de ser utilizados como armas de treino nas cortes respectivas desde o século XVII, manuais de esgrima portugueses e espanhóis do século XVIII ainda contemplam o uso do montante, como era o nome que os ibéricos davam a esta arma.

detalhe do frontispício da "Verdadeira Informaçam das Terras do Preste Joam das Índias, segundo vio e escreueu ho padre Francisco Alvarez capellã el Rey nosso senhor". Lisboa, Casa de Luis Rodriguez, 1540. Veja-se o modo como o montante era transportado quando o seu utilizador tinha de se movimentar. Ao contrário de certas representações actuais, o montante raramente era inserido numa bainha e o seu transporte embainhado às costas não era recomendado de todo.

A influência do montante faz-se sentir mesmo em termos linguísticos, uma vez que em Espanha é comum a expressão poner el montante, ou seja, ajudar a resolver um conflito, deitar água na fervedura, acalmar os ânimos. Isto porque os antigos mestres de esgrima usavam montantes como forma de interromper a performance dos seus alunos em caso de erro ou excesso de zelo.

O montante ibérico podia variar entre os 170 cm e os 150 cm, entre os 2,5 kg e os 2,25 kg. Não estaria muito longe da grande maioria dos seus parentes europeus, pelo que a ideia de uma espada pesada e pouco manobrável é um exagero recente. Era necessário, sem dúvida, muita coordenação e perícia para usar estas espadas, mas o uso das mesmas passava mais pela destreza que pela força.

detalhe das Tapeçarias de D. João de Castro, comemorando a vitória no Segundo Cerco de Diu. Veja-se o capitão do grupo de piqueiros marchando à frente, com um montante.

Se as zweihänder dos doppelsoldner, as tropas especializadas dos lansquenetes no uso de espadas de duas mãos, usavam estas enormes lâminas para cortarem os piques dos adversários nos típicos cenários de guerra do século XVI e XVII, em Portugal e Espanha o seu uso era votado a diferentes circunstâncias.
O manual do general português Diogo Gomes de Figueiredo promove o uso destas armas quando cercado por um número superior de inimigos, sem ter o obstáculo de poder magoar aliados durante o manejar da arma, ou no caso da protecção de uma dama, ou mesmo no possível cenário de ter de defender o corredor de uma galera. Ou seja, o montante tanto pode controlar um número elevado de inimigos ao redor do seu utilizador ou ser usado para bloquear uma passagem estreita.

A poderosa imagem destas armas cedo se tornou um claro sinal de autoridade, sendo usado pelas chefias e simbolizando mestria de armas.
Em Espanha e Portugal, o montante assumiu o carácter da espada enquanto sinal de justiça e comando,

detalhe do quadro "La recuperación de la Bahia de Todos os Santos", de Maíno (1634). Podemos ver o Conde-Duque de Olivares a coroar com os louros da vitória o soberano Filipe IV de Espanha, o seu montante assinalando a sua função de ministro, comandante dos exércitos e mentor do rei 

Assim como de Justiça e Sabedoria, tornando-se na espada iconográfica de São Paulo, uma vez que foi às mãos de uma espada que este santo foi decapitado.

 pintura de São Paulo, na Igreja de São Gonçalo de Amarante

 estátua de São Paulo com montante, Catedral de Salamanca

San Pablo, El Greco, 1610

San Pedro y San Pablo, El Greco, 1590

quinta-feira, 9 de março de 2017

Idade Dourada

—Sancho amigo, has de saber que yo nací por querer del cielo en esta nuestra edad de hierro para resucitar en ella la de oro, o la dorada, como suele llamarse. Yo soy aquel para quien están guardados los peligros, las grandes hazañas, los valerosos hechos. Yo soy, digo otra vez, quien ha de resucitar los de la Tabla Redonda, los Doce de Francia y los Nueve de la Fama, y el que ha de poner en olvido los Platires, los Tablantes, Olivantes y Tirantes, los Febos y Belianises, con toda la caterva de los famosos caballeros andantes del pasado tiempo, haciendo en este en que me hallo tales grandezas, estrañezas y fechos de armas, que escurezcan las más claras que ellos ficieron. Bien notas, escudero fiel y legal, las tinieblas desta noche, su estraño silencio, el sordo y confuso estruendo destos árboles, el temeroso ruido de aquella agua en cuya busca venimos, que parece que se despeña y derrumba desde los altos montes de la Luna, y aquel incesable golpear que nos hiere y lastima los oídos, las cuales cosas todas juntas y cada una por sí son bastantes a infundir miedo, temor y espanto en el pecho del mesmo Marte, cuanto más en aquel que no está acostumbrado a semejantes acontecimientos y aventuras. Pues todo esto que yo te pinto son incentivos y despertadores de mi ánimo, que ya hace que el corazón me reviente en el pecho con el deseo que tiene de acometer esta aventura, por más dificultosa que se muestra. Así que aprieta un poco las cinchas a Rocinante, y quédate a Dios, y espérame aquí hasta tres días no más, en los cuales si no volviere puedes tú volverte a nuestra aldea, y desde allí, por hacerme merced y buena obra, irás al Toboso, donde dirás a la incomparable señora mía Dulcinea que su cautivo caballero murió por acometer cosas que le hiciesen digno de poder llamarse suyo.

Miguel de Cervantes
El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha. Parte Primera, Capítulo XX. Madrid: Ed. Libro Hobby, 2005, pág. 142.

Nacionalismo e Universalismo

Ensinar que o Nacionalismo é a guerra em potência senão em acto, baseia-se, igualmente, no desconhecimento e na incompreensão. Já Sardinha exclamava ser impossível reconstruir «o tipo histórico duma nacionalidade desligando-o por completo do ambiente em que houvesse de respirar e de se prolongar».
Quer dizer: a existência duma Pátria não se pode conceber sem a existência doutras, que são de facto o estrangeiro, mas em relação a nós, desempenhando uma função na própria consciência do nosso país.
Por isso o nacionalismo cuja ideia-força fosse a destruição dos outros povos seria antes um imperialismo internacionalista.
Repelindo o Individualismo na sua tradução interna, isto é, como Demo-Liberalismo, repelindo-o nas suas modalidades externas como cosmopolitismo que pretende abater as fronteiras para «libertar o homem», opondo-se ao mito duma Humanidade inexistente em relação a qual se pretenda organizar geometricamente o Mundo, afirmando o respeito pelas outras pátrias, afirmando a dignidade das totalidades humanas reais, afirmando a superação do indivíduo pela pessoa, o Nacionalismo surge como expressão verdadeira actual e concreta do Universalismo."

António José de Brito
in Mensagem, Nacionalismo e Universalismo, nº4, 3 de Abril de 1947. Texto integral em Dissidente.info.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Mobilização Geral


Interrompendo o silêncio - o feito da Nova Portugalidade

Contado já uns bons meses sem actividade neste blogue, não posso deixar de quebrar esta pausa para dar todo o meu apoio à Nova Portugalidade após o bloqueio que a associação de estudantes da FCSH colocou, com sucesso, à conferência que estes nossos bons amigos iam realizar, convidando Jaime Nogueira Pinto para discursar sobre o tema “Populismo ou democracia – Brexit, Trump e Le Pen em debate”.
Distancio-me das restantes manifestações de solidariedade no choradinho da censura. Tudo isto só demonstra que censura, essa, a há sempre, só modificando, de regime para regime, de circunstância para circunstância, o âmbito, metodologia e alcance da mesma.
A Nova Portugalidade fez algo que a direitinha nunca conseguiu fazer - atacou o centro nevrálgico da ditadura cultural da esquerda. Até lá, a esquerda nunca precisou de accionar os seus mecanismos de defesa.
Contudo, enfraquecida ou assustada pelos recentes eventos internacionais, a esquerda académica, ou parte dela, mostrou as suas verdadeiras cores.

It's on.

PS: O Jornal i não resistiu a fazer um retrato caricatural de um dos promotores da Nova Portugalidade, o Rafael Pinto Borges. Quase todas as noções entretidas aqui sobre o Rafael são cruéis enganos, infantis na sua simplicidade saloia. Querem conhecer mais sobre o Rafael e a Nova Portugalidade? Leiam a entrevista na  Sapo24.

A minha Lista de blogues

Seguidores

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves