segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um Imenso Portvgal

Império Lusitano soube usar liberdade das elites locais e religião missionária para manter-se por cinco séculos, artigo de Carlos Haag


Essa foi uma das principais razões do sucesso dos portugueses em face dos rivais espanhóis. “A monarquia espanhola era uma variedade de reinos, enquanto Portugal era um reino unificado. Foram feitos grandes esforços para aumentar o poder do Estado a expensas da nobreza e das comunas. Esses recursos ajudaram na expansão marítima que, por sua vez, deixou o reino menos dependente de nobres e plebeus graças aos recursos obtidos.
Em troca, esses recursos permitiram ao Estado cooptar a nobreza, o que propiciou ao rei português uma consolidação espantosa do seu poder”, explica a historiadora Ana Paula Megiani, da USP, organizadora de O império por escrito (Alameda), outra pesquisadora do projeto.“Com essa centralidade, a monarquia portuguesa tinha uma capacidade de mando no império maior do que a espanhola, com o poder local funcionando como formas de exercício daquele poder, expressões de centralidade, e não de desmembramento do império”, avalia Ana. 
Ainda assim Portugal vivia uma contradição que os espanhóis não tinham: era um império sem imperador.“Nesse contexto, a face religiosa do império é a que melhor expressa a sua universalidade.
A Igreja ofereceu um substrato adequado à efetivação prática de um grupo de dogmas e princípios, tendo nas missões religiosas o seu principal instrumento operacional para cimentar as partes da totalidade”, afirma o historiador Adone Agnolin, da USP, do núcleo Religião e Evangelização da pesquisa. “A perspectiva religiosa traz a base de uma universalitas (princípio construtor de impérios herdado dos romanos), repassada, do ponto de vista político, à manutenção dos impérios, mas que, no fundo, se apoia sobre a ideia de um ‘império simbólico, unindo política e religião”, fala Agnolin.
Segundo o historiador, por meio de seus missionários, o Império Português reverte o processo de formação histórica ao encontrar seu pressuposto universal na dimensão do religioso. “O religioso é seu instrumento privilegiado para a realização do projeto e, a partir dele, Portugal se propõe como novo e inédito modelo imperial”, diz.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Dom Miguel Primeiro de Portugal e o Reforjar da Espada

(transcrição em VII partes do artigo publicado n'O Diabo, 27 de Agosto de 2013)

O nome do arcanjo Miguel, padroeiro da Legitimidade, foi despreocupadamente dado ao sétimo filho do príncipe-regente D. João e de sua mulher, a princesa Carlota Joaquina. No entanto, com o passar dos anos, o destino deste jovem infante tornou-se inegavelmente ligado ao conteúdo profético desse mesmo nome. O Calvário da Legitimidade será personificado por este rei português de forma exemplar, equiparando-o aos outros Monarcas Malditos da História Europeia, como Carlos Stuart para os Jacobitas Escoceses, Dom Carlos de Borbón para os Carlistas Espanhóis e o Conde de Chambord para os Legitimistas Franceses.

“Fazei por aplacar um Deus irado
Lembrai-lhe o cumprimento da Promessa.
Que em Ourique vos fez crucificado.”

Soneto evocativo de D. Afonso Henriques aquando da visita de D. Miguel ao túmulo do primeiro rei.



Rei Tradicionalista ou Cruel Usurpador, Dom Miguel posiciona-se na História de Portugal como um dos reis mais controversos, sem dúvida aquele que mais ódios e paixões despertou na nossa complicada Era Contemporânea. Símbolo do Portugal Profundo e Católico que o Liberalismo temeu e hostilizou, a sua figura carismática fez sombra à popularidade dos Reis Constitucionais, privando-os da simpatia do povo na mesma medida em que a tinham gozado dos seus antecessores. Conta-se que aquando da visita de Dom Pedro V ao Santuário de Nossa Senhora da Rocha, imagem que era alvo particular da devoção miguelista, este havia-se cruzado com uma velhinha que lhe dissera que, embora nutrissem todos os locais de muito carinho por esse rei querido, de quem eles sentiam falta era daquele que lhes fora tirado, aquele que se fora embora. A ameaça do ressurgimento miguelista durou muito depois do exílio de Dom Miguel do território nacional, mantendo-se os seus partidários (o Partido Legitimista) em actividade política activa até meados de metade do século XX.

By the bonnie bonnie banks o' Loch Lomond

Impregnada do carinho próprio da cultura escocesa, "Loch Lomond" é uma antiga música ligada ao amor de uma mulher (Moira) pelo seu falecido esposo (Donald), morto em batalha pela Causa do Príncipe Carlos Stuart.
No refrão ouvimos o lamento de Moira, que chora o seu marido, que caminha pela Estrada de Cima (High Road, o Céu, onde descansam as almas dos bons e os puros), enquanto ela permanece na Estrada de Baixo, entre os mortais. Confronta-nos assim Moira com a crueldade do seu destino: ela percorrerá o seu caminho entre os vivos, longe do seu terno esposo.

Talvez se voltem a encontrar, um dia, nas margens de Loch Lomond.






O wither away my bonnie May (which direction) 
Sae late an' sae far in the gloamin' (so far in the dusk) 
The mist gather grey o'er moorland and brae (hill) 
O wither sae far are ye roamin'?

Chorus:

O ye'll tak the high road an' I'll tak the low 
I'll be in Scotland afore ye 
For me and my true love will never meet again 
By the bonnie bonnie banks o' Loch Lomond

O well may I weep for yestreen in my sleep (well) (yesterday) 
We stood bride and bridegroom together 
But his arms and his breath were as cold as the death 
And his heart's blood ran red in the heather
I trusted my ain love last night in the broom (own) (bush) 
My Donald wha' loves me sae dearly 
For the morrow he will march for Edinburgh toon (town) 
Tae fecht for his King and Prince Charlie (to fight)


(chorus)

As dauntless in battle as tender in love 
He'd yield ne'er a foor toe the foeman (enemy) 
But never again frae the field o' the slain (from) 
Tae his Moira will he come by Loch Lomond
The thistle may bloom, the King hae his ain (have his own) 
And fond lovers may meet in the gloamin' 
And me and my true love will yet meet again 
Far above the bonnie banks of Loch Lomond

(chorus)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Our Unknown GrandFathers

Portuguese and Basques do not show the Mediterranean A33-B14-DR1 haplotype, suggesting a lower admixture with Mediterraneans; Spaniards and Algerians do have this haplotype in a relatively high frequency, indicating a more extensive Mediterranean genetic influence. The paleo-North African haplotype A30-B18-DR3 present in Basques, Algerians, and Spaniards is not found in Portuguese either. The Portuguese have a characteristic unique among world populations: a high frequency of HLA-A25-B18-DR15 and A26-B38-DR13, which may reflect a still detectable founder effect coming from ancient Portuguese, i.e., oestrimnios and conios

Relatedness among Basques, Portuguese, Spaniards, and Algerians studied by HLA allelic frequencies and haplotypes.

um Nelson Mandela europeu


Das coisas mais inteligentes que li sobre o Mandela é este trecho de Arthur Kemp, citado por Flávio Gonçalves no Semanário "O Diabo", 21 de Dezembro de 2013:

 "o ANC recorreu à violência e, sim, também ao terrorismo mas só após cinco décadas de tentativas pacíficas para acabar com o governo branco (...) chegou a altura de ser completamente honesto acerca disto: fosse eu um preto na África do Sul de pré-1994, teria apoiado o ANC bem como o combate armado. Tal como o teriam feito todos os meus amigos "de direita" na África do Sul - se fossem pretos. 
Sei que o ANC cometeu muitas atrocidades no decorrer da sua 'luta armada'. Mas sei também, por experiência no decorrer dos meus quatro anos de serviço (...) que o Estado era também ele dado à violência. Era um ciclo de violência, com um ultraje a alimentar o próximo numa espiral crescente. 
Mas à parte disto: o verdadeiro significado de Mandela foi ser um homem que se dedicou por completo à libertação do seu povo a qualquer custo, que se manteve fiel à sua crença e nunca vacilou. Embora pessoalmente possamos não gostar da sua ideologia nem do que foi feito em seu nome (...), o desejo dos africanos quererem governar-se nas suas próprias nações, livres do jugo branco, como personificado na vida de Mandela, na realidade justifica a exigência dos europeus se governarem a si mesmos nas suas nações. 
Pensem nisso. Em vez de condenarem os africanos por quererem governar-se, os activistas pró-europeus deviam aceitar quão errada foi a colonização do Terceiro Mundo por parte dos europeus e, como tal, ser igualmente errada a colonização das terras europeias por parte do Terceiro Mundo. 
Em vez de condenarem os africanos por terem feito aquilo que qualquer povo sadio faria, os 'direitistas' deviam abandonar a sua bafienta, cansada e velha retórica e, em vez desta, procurar um 'Nelson Mandela europeu' que os desvie da via da extinção em que se encontram."

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sombras Sagradas


El reaccionario no es el soñador nostálgico de pasados abolidos, sino el cazador de sombras sagradas sobre las colinas eternas.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Estado Confessional e a Monarquia Constitucional



Quando a propaganda Republicana afirma que a Monarquia Constitucional falhou em separar a Igreja e o Estado, fala com rara, quase inédita, razão. Infelizmente para eles, essa razão não caminha no sentido que pretendem.
A encíclica "Rerum Novarum", que dá corpo à Doutrina Social da Igreja, foi entregue pelo Papa Leão XIII à comunidade católica em 1891. O governo português, que de toda a herança dos tempos do Absolutismo manteve, oportunamente, o beneplácito régio (antigo costume jurídico que fazia depender de autorização régia a publicação e circulação de documentos pontifícios em Portugal), optou por reter o beneplácito necessário à publicação do documento até depois de 1892. O conteúdo de interesse social desse documento revolucionário, especialmente na sua atenção ao direito de associação dos trabalhadores, opunha-se à doutrina liberal e aos interesses económicos dos poderes que sustentavam o regime constitucional.
Da mesma maneira, em 1884, é lançada a "Humanum Genus" pelo mesmo Papa, contra as sociedades secretas, resolvendo o governo da Monarquia "Fidelíssima" não permitir a sua circulação de todo, admoestando aqueles que a divulgassem, como aconteceu com D. Tomaz Gomes de Almeida, bispo da Guarda. Era este o Estado Confessional deposto em 1910.
Não admira pois que a maioria do País Católico não tivesse levantado uma palha em prol da defunta e decadente Monarquia do trapo azul e branco. A República seria um Inimigo, mas um inimigo visível e de intenções claras e sobejamente conhecidas. Não valia a pena, de todo, para a hierarquia da Igreja Católica gastar energias a trocar este novo obstáculo pelo cancro parasitário da Monarquia Constitucional.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Homem Evoliano


Excerto de um texto de Pietro Ferrari

Evola amava a cavalaria medieval, observando-lhe uma origem iniciática que remontava à Tradição Primordial pagã e ignorando assim o mérito da Igreja em ter temperado a conduta do Império Romano e os costumes ferozes dos bárbaros, incutindo-lhes o seu sentimento de devoção e de honra e limitando os dias de batalha com a "paz de Deus".
Evola contrapõeassim o herói ao santo (a sua falta de fé não lhe permitiu ver que o santo é já um herói!), o vencedor ao mártir (ainda que o mártir seja um vencedor por não ter renunciado à fé!), a honra à humildade, aderindo assim à leitura lendário do Graal transportado para a Ilha Branca pelos Hiperbóreos.
A Tradição Evoliana é evanescente e inacessível senão a um nível iniciático, ao contrário da Tradição Vivificadora, aquela entre pai e filho e que tem como horizonte um sentido de comunidade. O Homem Evoliano localiza-se ferozmente "de pé sobre as ruínas", mas sobre uma espécie de limbo, de interregno entre dois Mundos opostos e incomunicantes: o Mundo Moderno e o Mundo Tradicional, tornados radical e irredutivelmente em dois arquétipos abstractos.

Pro aris et focis


(...) o patriotismo é um sublime egoísmo colectivo que supõe o sacrifício dos interesses individuais e, em certas ocasiões, da própria vida. E como o vai exigir aquele que tem que professar como dogma o sacrifício de tudo ao presente? Soldado, morre pela Pátria!... em vão se dirá. Soldado, morre pela Pátria! Se a Pátria é uma unidade religiosa e moral que junta em íntima irmandade as almas, e ata com divino laço a crença e a tradição comum das gerações, e cobre com amor de mãe sob as pregas do seu manto um povo que tece, como uma grinalda, a sua história para a coroar, então uma voz Augusta e Solene como o clamor de uma Raça sairá dos templos e dos lugares e dos sepúlcros dos antepassados gritando com o tom imperioso do dever e a doçura de um sentimento maternal: Vem morrer pela Pátria!... Deus assim O quer! pro aris et focis. E o soldado, encostando-se aos seus, murmurando uma oração e lançando um último olhar à Cruz do santuário, marchará resolvido e inflamado para o combate, e, ao ver brilhar perante os seus olhos e ondear ao vento o emblema da Pátria, poderá dizer com mais brio que os gladiadores de Roma: Os que vão morrer saúdam-te!
Juan Vázquez de Mella -Estudio sobre la patria- (Obras Completas t.3 "Ideario")

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Caso a viagem tenha final



A Grécia foi a arca, Portugal a barca. O pensamento e o movimento. O movimento é o pensamento.
Portugal é o nome de Portugal e não de outra coisa fora dele. O nome está revelado, o que nos parece é que a plenitude significativa está em trânsito. Ainda não sabemos qual a profundidade deste símbolo, Portugal. Pode não ter, sequer, qualquer profundidade, para além do que nos é dado daber.
Contudo, as potências actuais do espírito português estão intactas: o lirismo, o sentido do metafísico (a ideia de que há mais mundo, e mais universo, e mais futuro...) a consciência do enigma, a tensão da saudade, alma da nossa natureza, e também uma literatura singular, e ainda, no princípio e no fim, a vocação de um pensamento filosófico que não se esgota no sistema, antes se recria mediante a arte poética.
Sendo Portugal o nome de Portugal, este nome en-se apresenta-se-nos também como um mesmo para o outro, quer dizer: o nome de Portugal não se esvai em si mesmo, e não vale para si mesmo, antes vale para o outro. Português já foi adjectivo para sinonimizar cristão, e Portugal já foi nome para a Igreja, sobretudo a Oriente, em que os povos evangelizados não distinguiam entre Portugal e Igreja, mas tudo isso era recebido através de um mesmo e único nome: Portugal. A revelação, aletêia, raro se resume a um acto instantâneoe decisivo. Em geral, a revelação é como uma viagem: vamos andando e vendo, vendo e andando, por forma que a revelação só se conclui no final. Caso a viagem tenha final.
Ora, a viagem simboliza, e de que modo, o sentido português de pensar todas as coisas. Dizia o poeta: «não evoluo: viajo». Abismal diferença filosófica entre evoluir e viajar! como se evolução fosse, alfim, mutuação na fixidez e, pois, um fixismo, e viagem fosse, alfim, transformação no movimento e, pois, um dinamismo! Por isso dizemos que tudo se acha por revelar. O que nos foi dado saber acerca de Portugal ainda é, apenas, um acerca, um ad cerca, uma aproximação, mas longe ainda de nos ser possível olhar para o dentro de dentro, para o santo dos santos. Aqui, e mais uma vez, nos parece uma similitude parcial com o povo de Israel. Também ele, cativo, progride, mas sem que lhe seja dado chegar ao interior. O Messias continua tão distante como no princípio do tempo. E todavia, para Israel, «o Senhor virá».N'Os Lusíadas, o Velho do Restelo é uma alegoria da Europa. Diz a Europa a Portugal: não saias de casa, não partas em viagem. Fica. E Portugal partiu. Mancebo da Europa, cavaleiro do Graal, aventureiro do sonho, viajeiro do infinito, sem saber para onde ia, nem se regressava, nenhuma dessas coisas fazia parte do jogo. Importante é viajar, descobrir, trazer as trevas à luz. O símbolo português é a âncora. Deveria ser o único símbolo aposto à esfera armilar na bandeira portuguesa. Toda a viagem lusíada acha símbolo na âncora, que não serve apenas para fixar o navio, mas serve para exprimir esperança.

Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 137.

A Gesta Portuguesa

Cortina realizada por Carlos Botelho para o bailado D. Sebastião, do Grupo coreográfico Verde Gaio

«O espírito e a tensão da controvérsia doutrinal da medievalidade, em que frequentemente se envolveram os teólogos cristãos, hebreus e islamitas, ressurge de uma forma vigorosa e nova no poema camoniano, com uma diferença; que, nas controvérsias medievais, o confronto era apenas doutrinal e que, no poema, a controvérsia se une à cruzada, porque a ideia de missionação se aliara ao acidente (mal necessário) da guerra santa. As guerras santas de portugueses e árabes exprimem o dado imediato do real, as condições temporais da obra divina, se feita por humanas mãos; as gestas conversórias exprimem o fundo que permanece, a mensagem de Igreja. Ali, os católicos são portugueses; que não deixam de ser portugueses por serem católicos, nem podem deixar de ser católicos quando actuem como portugueses. Deus trabalha com os homens que há e, no caso, havia portugueses. A gesta portuguesa apenas manifesta a aventura católica. O sujeito do poema é esta aventura; a gesta portuguesa vem junto ao sujeito, mediante o verbo: modifica o modo, mas não altera o sujeito.»

Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 186.

Comam Fruta!


Ilustração de Roque Gameiro
Postal do Grémio do Comércio de Exportação de Frutas, c. 1936.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Psicologia Portuguesa

Batalha de Guararapes, quadro de Victor Meirelles

«O europeu era tenaz, inteligente, empreendedor: mas a sua iniciativa como a sua audacia participaram da circunstancia emotiva, essencial à atividade, à indole portuguesa. Este foi sempre um povo que pensou, agiu, realizou por explosão (observou Keyserling) - como indicam o seu idioma, os seus ciclos económicos, as curvas da sua, e da nossa história. Dirigiu-o, invariavelmente, algum misticismo flagelante: patriótico, religioso, maritimo-colonial.
Num dos seus apologos, disse D. Francisco Manoel: "Desde a perda del-rei D. Sebastião até a cidade da Baía, cabeça do Brasil, não fizeram os fidalgos portugueses senão passear nos coches... E ainda a nova não foi certa, quando já a maior e melhor nobreza se lançava como a nado em cata de vingança de seu inimigo."
Semelhantemente, não se agitou senão de golpe, em crises, nevrosado por choques rudes- para correr os castelhanos, varrer os mouros, expulsar os judeus, defender o concelho, povoar as terras achadas, marinheiro e guerreiro ao acaso, traficante e agricultor, alternadamente, capitão no Oriente, mercador no Brasil, plantador ou negreiro alhures - capaz de um mimetismo completo, que lhe criou o êxito brasileiro.»

Pedro Calmon, Historia Social do Brasil

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O choque da Modernidade: considerações sobre a História do Estado em Portugal



A questão da modernização do Antigo Regime não se fica, de todo, pela questão do Iluminismo ou, no caso português, com a influência de Pombal.
Terá havido de facto um Novo Antigo Regime, por oposição ao Velho Antigo Regime? É óbvio que se deram ocasiões de reforma e mudança nos regimes “absolutistas europeus”: apesar das acusações de “monarquias decrépitas”, “totalitarismos”, e outras prendas que os contemporâneos atribuem à principal instituição, a escola de governo absolutista criou nomes tão importantes para a história da Europa como Mazarino, Richelieu, Cromwell, Metternich, Chateaubriand e Talleyrand, e para os portugueses, nunca é demais lembrar nomes sonantes como Rodrigo Sousa Coutinho ou o duque Palmela. Assim, a capacidade governativa manifestava-se, de facto, pela capacidade de poder alterar a realidade institucional à sua volta. No entanto, penso que as principais alterações não se deram devido a um espírito inovador do Marquês mas devido à necessidade de reformar as antigas instituições portuguesas, de forma a preparar o país para uma nova era de desenvolvimento e a manter a sua importância na conjuntura europeia.
Considerar o Marquês de Pombal como um visionário iluminado é um erro próprio da historiografia tradicional. No Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão lemos o começo de uma abordagem muito mais realista, que depois se repercutiria nas posteriores obras de História de Portugal. Da correspondência de Pombal dos seus tempos de Inglaterra, ou mesmo da Áustria, não é notável qualquer tipo de adolação do estrangeiro – aliás, a insípida carreira diplomática de Pombal pode estar ligada ao seu notório desgosto pela viagem e pela estadia em países estrangeiros, dos quais tinha um deficiente conhecimento da língua.
A reforma educativa de Pombal não pode ser levianamente considerada, de todo, como laicizante, uma vez que Pombal não teve problemas em colmatar as falhas do ensino público estatizado por si imaginado com a contribuição dos principais rivais dos recém-expulsos Jesuítas, os Oratorianos, que ficaram com o monopólio da educação nos territórios ultramarinos (LOPES, 2006)
As próprias reformas económicas do Marquês são maleáveis, em vez de ideológicas. Pombal não pregou um evangelho sistemático, como Mouzinho da Silveira e a sua “uniformização legislativa” (VALENTE, 2006), mas antes criou condições para a prossecução de um governo centralizado e moderno dentro dos moldes do Antigo Regime. Assim, das suas companhias de comércio, Pombal não teve grandes achaques em anular a grande maioria, ou negociar os termos originais dos monopólios estatais, tal como se deu com a Companhia dos Altos Vinhos (CARDOSO, 2003).
A sua política livre-cambista teve bem mais efeitos, especialmente no desenvolvimento do Oriente, do que a sua política mercantilista. Na época de D. Maria I procedeu-se à discussão com os poderes regionais ultramarinos e reformou-se esse livre-cambismo (LOPES, 2006) – mas tudo na base da filosofia política do Antigo Regime, uma filosofia reformista e não-revolucionária, que está bem plasmada na frase de José Acúrsio das Neves: “As leis não têm força contra os hábitos da nação; (…) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios” (NEVES, 2008)
A organização territorial do país não mudou drasticamente. Nem nada que se pareça. D. Maria I procurou reformar os forais e as sisas, de forma a agilizar o mercado interno(HESPANHA, 1994): mas essa reforma ainda estava a ser pensada, lenta e detalhadamente, em 1820. Os juízes-de-fora, braço da justiça estatal, só existiam em 20% do total dos concelhos portugueses, dos quais 1/3 podia impedir a entrada de corregedores enviados pela Coroa (HESPANHA, 1994). Os magistrados eram eleitos localmente e as primeiras instâncias estavam localizadas nas sedes dos ditos concelhos – que diferença com aquela época em que as comarcas judiciais eram distribuídas de acordo com um plano geográfico desenhado a partir de Lisboa, e o poder local dominado por um Governador Civil, ou Prefeito, designado de entre os pretendentes a pachás de Mouzinho da Silveira! (VALENTE, 2006).
Os mesmos tribunais concelhios tinham poder para anular as disposições reais.
Para percebermos todos estes dados, temos de compreender a total diferenciação entre o conceito de Estado para o Antigo Regime e para o Estado Liberal. Para o Estado Tradicional, “A ideia-base, é a de um Estado compreendido não como mero organismo, mas principalmente como organismo espiritualizado, capaz de elevar gradualmente desde uma vida naturalística quase pré-pessoal até uma vida sobrenatural e suprapessoal através de um sistema de participações e subordinações”(EVOLA, 1934), ou, se me permitem resumir, um Poder real limitado pelos diferentes estratos estatutários, cuja Constituição Política é o Produto Indisponível da Tradição, em que o Governo tem por principal dever manter esses equilíbrios estabelecidos. Que distância para com o Estado Moderno, neutral em vez de ortodoxo, universal em vez de particularista (como diria Alvaro D'Ors, inspirado em Carl Schmidt), pouco atreito à metafísica, assumindo-se como uma máquina burocrática desprovida de alma (contrariando a noção tomístico-aristotélica da natureza divina de todas as coisas, inclusivamente da Pólis), medida em termos de bem-estar material que tem como missão e legitimação a eficiência económica. Ora, ao longo do séc. XVIII, nunca desaparece a concepção sagrada do papel do Rei enquanto guardião da tradição religiosa e social do reino.
A existência de instituições independentes ou semi-independentes (a Igreja, as Ordenanças, as Concelhias, a Universidade de Coimbra) constituía um sério contrabalanço ao poder estatal.
Foi este delicado equilíbrio, formado por pluralismos administrativos, em que o rei não detinha o monopólio do poder punitivo, que se manteve inalterado até ao advento do Liberalismo.

Bibliografia:
CARDOSO, António Barros, Baco & Hermes – O Porto e o Comércio interno e externo dos Vinhos do Douro (1700-1756), Porto, GEHVID, 2003
EVOLA, Julius, Acerca da queda da ideia de Estado, in revista Lo Stato, Fev. 1934 – traduzido para a revista Boletim Evoliano, nº9, 2010
HESPANHA, António Manuel, As vésperas do Leviathan: Instituições e poder político -. Portugal, séc. XVII. Coimbra: Almedina, 1994
LOPES, Maria de Jesus dos Mártires, Nova História da Expansão Portuguesa: O Império Oriental 1660-1820, dir. Joel Serrão, A. H. de Oliveira Marques PUBLICAÇÃO: Lisboa : Estampa, 2006
NEVES, José Acúrsio das. Variedades sobre objectos relativos às artes, comércio e manufacturas consideradas segundo os princípios da economia política, Ed. Afrontamento, 2008
VALENTE, Vasco Pulido. Os devoristas: a revolução liberal (1834-1836) / Vasco Pulido Valente. Edição: 2ª ed. Publicação, Lisboa, Estampa.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Disbanded, by John Pettie

Tradición europea


"El ideal caballeresco sintetiza en si mismo las tres tradiciones qué conforma Europa: la pagana o gentil (a través de Hector de Troya, Alejandor Magno, Julio Cesar etc), la bíblica (a través de Josue, David y Judas Macabeo) y por último la cristiana (con Arturo y sus caballeros, Carlo Magno, Godofredo de Jerusalen etc).

La reforma protestante y más tarde el iluminismo, especialmente en su vertiente revolucionaria echarán por tierra esta tradición creando en sustitución una nueva religión cívica qué se alza sobre las ruinas del antiguo régimen: el liberalismo con sus dos vertientes paralelas, la capitalista y la socialista”

Semanario O Diabo

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Bizzarie di varie figure, ou "O prelúdio do Cubismo"

A Direita Mole

A Direita mole é aquela que sucumbiu à Revolução e aceita todos os seus “dogmas”. Da defesa do Trono e do Altar, da Ordem e da Tradição, a Direita mole passa à defesa da República. É a Direita que alinha com a vigarice democrática. É a Direita embevecida com a falsa trilogia liberdade-igualdade-fraternidade. É a Direita encantada com a ditadura da aritmética a substituir a noção da Verdade e do Erro. É a Direita que colabora directa ou indirectamente com a destruição da Lei Natural. É a Direita para quem os chavões demo-liberais valem mais do que a integridade do corpo nacional. A Direita mole é aquela que deixou para trás o princípio da unidade e passou a crer firmemente na fragmentação nacional operada pelo sistema de partidos – e no clima de permanente guerra civil daí resultante.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Uma Casa Portugueza

Glória eterna à Ilustra Casa de Ramires!

Quando se reúne a augusta família nos seus tranquilos serões de Verão, aproveitando os seus piqueniques regados a verde e a compota, relembram de cor as história honradas dos antigos: o "Descabeçado", vagueando fantasmagóricamente pela Torre de Ramires com a cabeça nas mãos, os cinco valentes tombados no Salado defendendo a Fé e a Pátria, Mem Ramires conquistando Santarém aos Mouros, Sta. Aldonça Ramires transportada aos ombros de quatro reis para o seu túmulo de granito, aquele Desembargador Ramires que, constam as lendas, comera dois leitões numa ceia de Natal.
Bravos Ramires, orgulho da Raça Portuguesa! Sempre Valentes, Sempre Santos, Sempre Corajosos! E que maravilhoso, voraz e cristão apetite!


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Limites às mundividências

Naturally the true and beautiful (they are not necessarily identical) can appear in different "outward" forms. The cathedral of Trondhjem in Norway and the Cathedral of Mexico City are very different in form and expression. They were built in different ages. They have to be loved and respected across national boundaries. There are, on the other hand, limits to our worldwide acceptance of other values. A highly conservative Portuguese administrator in central Angola might advocate the building of a courthouse in an African style but he will not "respect" the age-old tradition of sacrificing small children. 

Erik Leddihn, Leftism: from De Sade and Marx to Hitler and Marcuse

Viva La Revolución on a Butcher's Hook


There was not too much unity among the Nationalists, except that they were determined to have Spain's fate settled by Spaniards and that Spanish traditions and a Spanish way of life should be maintained. Unlike the Republicans, they not only wanted bullfights to continue, but they insisted that a man should be able to go to church without being clubbed to death or a woman join a religious order without being undressed publicly, raped, slaughtered, and exhibited on a butcher's hook. 

Erik Leddihn, Leftism: from De Sade and Marx to Hitler and Marcuse

O Temperamento Político das Nações Católicas


In the case of war, the soldiers of Catholic nations must be thoroughly convinced of the sensibleness of the cause. If these convictions are lacking among Catholic soldiers—who often do not feel bound by the Protestant concept of "duty" (Pflicht), mutinies or mass desertions may easily result. Hence the greater reliability of Protestant groups and organizations bound by oaths, promises, etc. These will act efficiently and according to plan even if their belief and conviction in the cause has vanished a long time ago. "Mechanical action" is fairly alien to the Catholic, who is primarily motivated by his (frequently very subjective) conscience. It seems that only a filial affection can supplant conscience and conviction— a mere appeal to "duty" (or "law") will not do the trick. All of which reminds us of Paul Valéry's outcry about the Germans: "Savoir et devoir, vous êtes suspects". On the other hand, the Portuguese in the Spanish Foreign Legion (the Tercio) were among the best soldiers; during the recent civil war they had accepted the explanation that this struggle was a crusade. But in 1918 they simply had run away before the Germans, since they had not the slightest desire to make Sleswig-Holstein or the Carpatho-Ukraine safe for democracy. The Italian soldier has almost the selfsame reactions. It was said that South Italian soldiers during World War I often applauded with shouts of Bravo, capitano! their officers who, trying to lead them into action, went "over the top". These sons of workers and peasants had not the slightest interest in dying for the cause of a North Italian irredenta, a cause dear to the hearts of their officers with a very different political outlook. Yet to generalize about Italian "cowardice" is nonsense and merely betrays a lack of imagination. The Spanish pride, on the other hand, produces quite different effects. Compare the Spanish proverb: "To the king must be sacrificed one's estate and one's life, but honour is the patrimony of the soul—and the soul belongs to God only."

Erik von Kuenheldt-Leddihn, Liberty or Equality

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Shire


O conceito de sociedade como um todo orgânico, sem lutas de classes, com uma estrutura comunitária, tem caracterizado o pensamento social católico desde o Império Romano. Em muitos sentidos, o Shire exprime perfeitamente os ideiais económicos e políticos da Igreja, conforme expressos por Leão XIII em Rerum novarum e por Pio IX em Quadragesimo anno. A autoridade tradicional (o Thain) limitada excepto em tempo de crise; a representação popular (o Presidente de Michel Delving), igualmente limitada, a subordinação e, acima de tudo, a mínima organização e conflito. É o tipo de sociedade visionada pelos Distributistas Belloc e Chesterton na Grã-Bretanha, por Salazar em Portugal, pelos autores da Constituição Irlandesa, por Dolfuss na Áustria e por Smetona na Lituânia. Por muito ou por muito pouco que estes habitantes do mundo real se tenham aproximado do seu objectivo, a verdade é que o que pretendiam era algo muito semelhante ao Shire.

Charles A. Coulombe, The Lord of The Rings: A Catholic View

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dominique Venner n'est plus

Dominique Venner não era um bom católico. Era, no entanto, um bom pagão.
O seu suicídio não se resume a um protesto - homens como este, de acção e honra, não se rebaixam ao nível do protesto. Venner aniquilou-se como um antigo guerreiro pagão, olhando de frente o monumento que encarna a tradição milenar francesa: a Nottre Dame de Paris, o seu sagrado altar católico, que apesar de não ser o altar de Venner, era o altar da religião que interliga as raízes pagãs folclóricas europeias e a Boa Nova, aquela que inspirou ao Velho Continente todas as suas maiores façanhas: a Medievalidade, a Cruzada, a Cristandade, a Liberdade.
Venner, enquanto europeu e pagão, morreu de frente para o último resquício de Europa que ainda não se destruiu em França. Morreu como os antigos gauleses que se degolavam para não se entregarem aos invasores. Morreu como um Homem só e voltado perante a ruína do mundo Ocidental. Hoje, os últimos europeus da Europa, calando os urros animalescos dos vendidos e dos cobardes, vão beber à sua memória, recordar as glórias da Cristianíssima França, cantar hinos à Morte e sorrir perante o invencível combate que as hordas da Modernidade lhes opõe.

Viva a Europa!
Montjoie Saint Denis!
Dominique Venner, presente!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Sol e a Serpente


Nossa Senhora da Conceição, Anónimo, Museu de Arte Sacra de São Paulo

«Estes dois abrigos-santuários do Douro (Santuários do Cachão da Rapa e Pala Pinta), serão representantes de dois níveis e dois cultos ontológicos e mitológicos: o nível ctónico, o reino da Serpente e o nível celeste, o Reino do Sol. Solidariamente, culto dos antepassados e seu saber oracular, concedido aos homens nessas salas secretas e culto do Sol, concedido ao ar livre, face ao céu; dois aspectos dum mitologema percorrendo outrora estas margens.
E que ainda se poderá testemunhar no mesmo período neolítico no sul deste território: nos dólmens da Abelhoa e Reguengos de Monsaraz, nos quais o Sol está gravado nesses monumentos votados aos antepassados e à força da vida; e ainda no dólmen do Carrapito, na Beira Alta, onde há figuras radiadas como sóis e uma linha ondulada, como serpente ou água, indicando assim dois caminhos diferentes de culto, levando à mesma finalidade salvífica.
O caminho da serpente, dos abismos,levando ao país dos mortos ou das Ilhas dos Viventes, seria aquele dominante na escatologia e história dos portugueses. E ainda perdurando nas Barcas de Gil Vicente e depois em Pessoa; as Barcas, conduzindo à Ilha Perdida, como ao Paraíso: sempre na rota do sol poente deste extremo finistérrico ocidental.
Depois, na história portuguesa, o iniciado da serpente será o primeiro Descobridor navegante aportando às ilhas atlânticas.
Rota da serpente, será ainda antes, a testemunhada no nosso período da ocupação romana, pela Pateira da Lameira, em Penamacor, onde o seu cenário infernal, com mortos na boca das trevas, Perseu combate a Medusa, tentando evitar olhá-la directamente, perigo mortal, mas só na imagem reflectida no seu próprio escudo. Depois desse perigo mortal, será do Mar Tenebroso para o Descobridor português, novo Perseu.
Vários itinerários paralelos se traçam nesses tempos, o infernal dessa Pateira e o celeste da lápide funerária de cárquere onde o morto ascende ao céu no dorso de um cavalo. Esta lápide e esse objecto votivo, testemunham uma diversidade escatológica de uma única reintegração procurada, em níveis aparentemente opostos.
E, tal ainda na própria essência do Sol, eles se conjugarão. Reintegração que se expressará nos Vedas, onde o Sol possui nomes de “resplandescente e negro”, o que traz o dia e a noite. Tal como essa concepção védica, haverá na nossa proto-história, a mesma união de contrários, como expressão da plenitude ontológica do astro-rei. Suprema união ao ctónico e celeste, que terá sua máxima expressão a nível nacional em Portugal e muito especificamente na sua história da religião e da política, em si implicando concepções teológicas e cosmológicas, no século XVII, quando o Reino proclamou a sua plena liberdade, pela Independência perante Castela, e elegendo sua Padroeira Nossa Senhora da Conceição, Rainha do Céu e da Terra tendo a seus pés a serpente e a lua, e ao alto doze estrelas como resplendor. O rei D. João IV, coroando-a com a coroa dos reis de Portugal. Eis um declarado acto político de teologia realizado pela soberania portuguesa; e único na Europa da Idade Moderna.»

Dalila Pereira da Costa, As Margens Sacralizadas do Douro Através de Vários Cultos

nota sobre a pintura:  Imaculada Conceição, coroada por 12 estrelas, é apresentada sob a forma de Virgem do Apocalipse: e comparada ao Sol (Electa ut sol) e à Lua (Pulchra ut luna). Os outros emblemas são originários do "Cântico dos Cânticos" e da "Ladainha Lauretana": a Imaculada é Fonte dos Jardins (Fons Hortorum) ou Poço de Águas Vivas (Puteus aquarum viventium), Exaltada como o Cedro (Cedrus exaltata), Rosa Mística (Rosa mystica), Torre de Marfim (Turris eburnea), Escada do Paraíso (Scala paradisii), Estrela da Manhã (Stella matutina). A esses atributos místicos, junta-se a figura da serpente infernal esmagada pela Virgem, vitoriosa sobre o pecado original. A Ordem dos Franciscanos é evocada pelos dois cordões monacais que emolduram a imagem da Virgem, cada um deles com três nós, simbolizando os votos perpétuos de castidade, pobreza e obediência. A obra, executada provavelmente em São Paulo no século XVIII, pertencia ao Convento de Santa Clara de Taubaté.
fonte: Wikipédia.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pois Bem!

Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
Fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
Fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
E para te ensinar a ser correcto já,
Coloquei-te na mão a xícara de chá...

E se for um francês que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
De ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
Fui eu que as depenei primeiro, e às gloriosas
O Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
Por essa Espanha acima, até casa a coxear.

E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Quando um dia arribei à orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
- eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

Se for um Alemão que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.

Se for um Japonês que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa à tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
Belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
Foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.
Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
E penso que não são oceanos, continentes,
As pérolas em monte e os diamantes ardentes,
Que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
- São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
Extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!

P.S. A um Espanhol, claro está, nunca direi: - Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.

Afonso Lopes Vieira

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Cristo e o Mito


"Ora, a história de Cristo é simplesmente um mito verdadeiro: um mito que exerce em nós o mesmo efeito que os outros mas com esta tremenda diferença: aconteceu realmente. E, da mesma forma, deveremos dar-nos felizes por aceitá-lo, recordando que se trata de um mito de Deus enquanto os outros são mitos dos homens; ou seja, Deus recorre às histórias pagãs para se expressar através das mentes dos poetas, utilizando as imagens que lá encontra; enquanto o Cristianismo é a forma de Deus se expressar através daquilo a que chamamos «coisas reais». Assim, é "verdade", não no sentido de se tratar de uma «descrição» de Deus (pois nenhuma mente finita poderia alcançá-la) mas no sentido de se tratar da forma como Deus escolhe (ou pode) ser percebido pelas nossas faculdades. É claro que as «doutrinas» que extraímos do verdadeiro mito são "menos verdadeiras": são traduções daquilo que Deus já expressou numa linguagem mais adequada, nomeadamente a verdadeira encarnação, crucificação e ressurreição, de modo que estas possam ser compreendidas pelos nossos conceitos e ideias."

da carta de CS Lewis a Arthur Greeves

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Rei no Exílio

Pastor mais luso e nosso
outro se não conhece;
tem puras qualidades que rebrilham
entre as dos guardadores
da honra e da mantença das lavouras.
Ele é bravo e é pobre;
a nossa Língua fala
que um século vivido entre as alheias
jamais fez esquecida;
aprendeu na dureza
e alta dignidade
do pão do seu exílio
a saber como os pobres são honrados
quase só pelo serem,
e como o ventre obeso dos tiranos
do mando ou do dinheiro
é cousa dura e feia.



Éclogas de AgoraAfonso Lopes Viera

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cidade de Papel

This is our paper city, built
on the rock of debt, held fast
against all winds by the paperweight of debt.
The crowds file slowly past, or stop and stare,
and here and there, dull-eyed, the idle stand
in clusters in the mouths of gramophone shops
in a blare of music that fills the crumpled air
with paper flowers and artificial scents
and painless passion in a heaven
of fancied love.
                       The women come
from the bargain shops and basements
at dusk, as gazelles from drinking;
the men buy evening papers, scan them
for news of doomsday, light their pipes:
and the night sky, closing over, covers like a hand
the barbaric yawn of a young and wrinkled land.

A.R.D. Fairburn, Dominion

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Doutrina Político-Poética para a Salvação Nacional

A el-Rei D. João 

Rei de muitos reis, se um dia,
se uma hora só, mal me atrevo
ocupar-vos, mal faria,
e ao bem comum não teria
os respeitos que ter devo;

Que em outras partes da Esfera,
em outros céus diferentes,
que Deus té'gora escondera,
cada uma de tantas gentes
vossos mandados espera.

Porque, Senhor, eles sós 
(justo e poderoso Rei!)
desdão ou lhe cortam nós,
como também entre nós
que sois nossa viva lei.

Onde há homens há cobiça;
cá e lá tudo ela empeça,
se a santa, igual justiça
não corta, ou não desempeça
o que a má malícia enliça.

Senhor, qu'é muito atrevida!
E onde ela nós cegos deu,
cortar é coisa devida;
exemplo, o justo de Mida, 
que el-Rei vosso avô fez seu.

Ora eu que, respeito havendo
ao tempo mais que ao estilo,
irei fugindo ao que entendo;
farei como os cães do Nilo,
que correm e vão bebendo.

A dignidade real,
que tem o mundo a direito, 
(sem ela ter-se-ia mal) 
é sagrada, é natural
deixemos medo e proveito.

As vossas velas, que vão 
dando quase ao mundo volta,
raramente contarão
gente de algum rei solta:
sem cabeça o corpo é vão.

Dignidade alta e suprema,
que há que a não reconheça?
Viu-se em Marco António tema
de a César pôr diadema
real sobre a cabeça.

Que nome de emperador
d'antes a César se dera,
sem suspeita e sem temor;
que inda então muito mais era
ser cônsul, ser ditador.

Um rei ao reino convém; 
vemos que alumia o mundo;
um sol, um Deus o sustém;
certa a queda e a fim tem
o reino onde há rei segundo.

Não, ao sabor das orelhas,
arenga cuidada e branda;
abastem as razões velhas:
a cabeça os membros manda;
seu rei seguem as abelhas.

A seu tempo o rei perdoa;
a tempo o ferro é mezinha:
forças e condição boa
deram ao leão coroa
de sua grei montesinha.

Às aves, tamanho bando, 
doutra liga e doutra lei, 
por vencer todas voando, 
a águia foi dada por rei,
que o sol claro atura olhando.

Quanto que sempre guardou
David lealdade e fé
a Saul! Quanto o chorou!
Quanta maldição lançou
aos montes de Gelboé!

Onde caíra o escudo
de seu rei, inda que imigo,
inda que já mal sesudo
saindo de tal perigo,
e subindo a mandar tudo.

O senhor da natureza,
de que o céu e a terra é cheia,
vestindo em nossa baixeza,
de real sangue se preza:
por rei na cruz se nomeia.

Sobre obrigações tamanhas
velem-se com tudo os reis
dos rostos falsos, das manhas
com que lhes fazem das leis,
fracas teias das aranhas.

Oue se não pode fazer
por arte, por força ou graça,
salvo o que a justiça quer.
Senhor, não chamam poder
salvo o que lhes val na praça.

E por muito que os reis olhem
vão por fora mil inchaços,
que ante vós, Senhor, se encolhem
duns gigantes de cem braços
com que dão e com que tolhem.

Quem graça ante o rei alcança,
e i fala o que não deve,
(mal grande da má privança)
peçonha na fonte lança,
de que toda a terra beve.

Quem joga onde engano vai
em vão corre e torna atrás,
em vão sobre a face cai;
mal hajam as graças más
de que tanto dano sai!

Homem de um só parecer,
dum só rosto e duma fé,
d'antes quebrar que volver,
outra cousa pode ser,
mas de corte homem não é.

Ouço gracejar, de cá,
de quem vai inteiro e são,
nem se contrafaz mais lá:
- Como este vem aldeão,
que não sabe onde se está!

As públicas santidades,
estes rostos transportado,
não em ermos, mas cidades,
para Deus são vaidades,
para nós vão rebuçados.

Mas, despois, que lhes fazemos?
Pode ser, não pode ser,
adiante o saberemos:
estamos um pouco a ver;
cai-lhes o rebuço, e vemos.

Senhor, hei-vos de falar 
(vossa mansidão m'esforça) 
claro o que posso alcançar; 
andam pera vos tomar
por manha, que não por força.

Por minas trazem suas azes,
encobertos seus assanhos,
falsas guerras, falsas pazes:
de fora são mansos anhos,
de dentro lobos robazes.

Tudo sua cura tem:
que é assi, bem o sabeis
e o remédio também.
Querei-los conhecer bem?
No fruito os conhecereis.

Obras, que palavras não!
Porém, Senhor, somos muitos;
e entre tanta abrigação,
tresmalham-se-vos os fruitos,
que não sabeis cujos são.

Um, que por outro se vende,
lança a pedra, e a mão esconde;
o dano longe se estende;
aquele a quem dói, entende,
com sós suspiros responde.

A vida desaparece,
e entretanto geme e jaz
o que caiu; e acontece
que dum mal que se lhe faz,
outro mor se lhe recresce.

Pena e galardão igual 
o mundo em peso sustém, 
é ma regra geral:
que a pena se deve ao mal, 
o galardão ao bem.

Se alguma hora aconteceu
na paz, muito mais na guerra,
que a balança mais pendeu,
faz-se engano às leis da terra;
nunca se faz às do Céu.

Antre os Lombardos havia
lei escrita e lei usada,
como inda hoje, parecia:
que onde a prova falecia
que o provasse a espada.

Ali no campo, às singelas,
em fim, morrer ou vencer,
fosse qual quisesse delas,
não era milhor morrer
a ferro que de cautelas?

A um nosso alto rei excelente,
Dom Dinis, tão louvado,
tão justo, a Deus tão temente,
falsa e maliciosamente,
foi grande aleive assacado.

Ele posto em tal perigo,
(rei que rei fez e desfez!)
co'as manhas do falso imigo,
foi-lhe forçado essa vez
à lei chamar-se que digo.

E às vilas e às cidades,
a que cumpriu d'acudir,
pelas suas lealdades:
tanto são más as verdades
às vezes de descobrir!

Da mesma casa real
em verdade um grande infante
tratado por manhas mal,
bradava por campo igual,
e imigos claros diante.

Em fim, vendo a indústria e arte
quanto que podem, chamou
um leal conde a de parte;
só com ele se apartou;
foi viver à milhor parte.

Onde tudo é certo e claro,
onde são sempre umas leis;
Príncipe no mundo raro!
Sobre tanto desamparo
foram três seus filhos reis.

Ó Senhor, quantos suores
passa o corpo e a alma em vão
em poder de envolvedores!
E, em fim, batalhas que são
salvo uns desafios mores?

Co'a mão sobre um ouvido
ouvia Alexandre as partes,
como quem tinha entendido,
por fazer certo o fingido,
quantas que se buscam d'artes.

Guardava ele aquele inteiro
para a parte não não ouvida;
não vá nada em ser primeiro;
quem muito sabe duvida;
só Deus é o verdadeiro.

A tudo dão novas cores,
envolvendo os peitos puros,
e falam sempre em primores.
Ante os reis, vossos senhores,
vindes com rostos seguros.

Contais, gabais, estendeis
serviços e lealdade.
Olhai, que a não daneis: 
falai em tudo verdade
a quem em tudo a deveis.

Senhor, nosso padre Adão
pecou; chama-o o Juiz.
Tenha que dizer ou não
i sua fraca razão,
porém livremente diz.

Sempre foi, sempre há de ser,
onde uma só parte fala,
sempr'a outra haja de gemer.
Se um jogo todos iguala,
as leis que devem fazer?

Vidas e honras tomais
debaixo de vosso amparo,
de estranhos e naturais;
suspiram, não podem mais,
e às vezes isto mal claro.

Também trás aquela arde
tão estimada a fazenda,
por mais que se vele e guarde;
tinha ela milhor emenda,
se não fosse mal, e tarde.

Geralmente é presumptuosa 
Espanha, e disso se preza: 
gente ousada e belicosa; 
culpam-na de cobiçosa, 
tudo sabe Vossa Alteza.

Pensamentos nunca cheios,
não têm fundo aqueles sacos!
Ainda mal com tantos meios,
para viver dos mais fracos
e dos suores alheios.

Que eu vejo nos povoados 
muitos dos salteadores,
com nome e rosto d'honrados:
vão quentes, andam forrados
de peles de lavradores.

E, Senhor, não me creais,
se as não acham mais finas
que as dos lobos cervais,
que arminhos e zebelinas,
custam menos, cobrem mais.

Ah, Senhor, que vos direi?
Que acode mais vento às velas.
Nunca se descuide o Rei:
que inda não é feita a lei, 
já se lhe buscam cautelas.

Então, tristes das mulheres,
tristes dos órfãos coitados,
e a pobreza dos mesteres,
que nem falar são ousados
diante os mores poderes.

Os quais quem os assim quer,
quem os negocia assi?
Que fará dês que os houver?
nossos houveram de ser,
buscaram-nos para si.

Ora, já que as consciências
o tempo as levou consigo,
venhamos às penitências,
Senhor, se eu visse castigo...
Boas são as residências;

Mas eu vejo cá na aldeia,
nos enterros abastados,
quanto padre que passeia,
enfim, ventre e bolsa cheia
e assoltos de seus pecados.

Se querem reconciliar
uns cos outros, tem seu trato;
abasta-lhes só acenar:
não nos fazem tal barato
ò tempo de confessar.

Senhor, esta vossa vara
como as mãos em que anda é;
a boa é ave mui rara;
crede que esta nunca é cara,
que seja muita a mercê.

Livre de toda a cobiça,
a Deus temente e a vós,
sem respeito, sem preguiça,
varas direitas, sem nós,
se quereis que haja i justiça!

Tomai, Senhor, o conselho
do bom Jetro ao genro amigo: 
é verdade, é Evangelho; 
como disse aquele velho, 
humildemente assi vos digo.

Que estas leis justinianas,
se não há quem as bem reja
fora de paixões humanas,
são um campo de peleja
com razões francas e ufanas.

Morre o nobre Conradino
co parceiro, em todo igual,
cada um de tal morte indino,
porque o duro, ou o malino
doutor interpreta mal.

Diz Agostinho sãmente: 
Cesse o sangue; a guerra finda;
diz mais, dalguns maiormente;
vem grosas, que corre ainda
o real sangue inocente.

Mas, Senhor, milhor o temos:
sendo vós o que mandais,
todos nos revolveremos,
os que tanto não podemos,
e aqueles que podem mais.

Quem por amor se encadeia, 
não é nome errado ou novo 
se por livre se nomeia;
não tem rei amor de povo 
rei em quanto o mar rodeia.

Não assoberbam soldados
aqui, nem soa atambor;
os outros reis seus estados
guardam de armas rodeados,
vós rodeado de amor.

Achar-nos-ão as divinas,
no meio dos corações,
esculpidas vossas quinas;
estas são as guarnições
de vós e dos vossos dinas.

É sem dúvida o francês 
a seu rei amor aceso:
não lho nega o português; 
traz porém guarda escocês, 
que não é de pouco peso.

O Padre Santo assi faz,
a quem certo se devia
alto assossego, alta paz;
e guardas todavia,
com que vai seguro e jaz.

Que se pode ir mais avante,
co's olhos, nem co sentido?
Sem ferro e fogo que espante,
com duas canas diante
is amado e is temido.

Uns sobre os outros corremos,
a morrer por vós com gosto;
grandes testemunhas temos
com que mãos e com que rosto
por Deus e por vós morremos.

Outrossi para os reveses
(queira Deus que não releve!)
em vós tem os portugueses
Codro dos atenienses,
Décios, que só Roma teve.

Do vosso nome um grão rei 
neste reino lusitano,
se pôs essa mesma lei, 
que diz o seu Pelicano: 
Pola Lei e Pola Grei.

Mas eu sou um guarda-cabras
vão-se assi de ponto em ponto;
queria só duas palavras:
que dos gados e das lavras
despois não tem fim nem conto.

Assim que seja aqui a fim:
tornem as práticas vivas;
perdestes meia hora em mim,
das que chamam sucessivas
estes que sabem latim.

Sá de Miranda

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves