As ordenanças constituíam outra das instituições relevantes da sociedade local portuguesa, certamente uma das mais originais. Todo o reino se encontrava dividido em capitanias-mores de ordenanças, coordenadas por um capitão-mor, que devia ser o senhorio donatário ou alcaide-mor em terras onde existisse, coadjuvado por um sargento-mor. Cada capitania-mor dever-se-ia subdividir num número variável de companhias de ordenanças, chefiadas pelo respectivo capitão, com o apoio de outros oficiais. À hierarquia das ordenanças competia ter arrolados todos homens maiores de 16 anos, exceptuando os privilegiados e os velhos, para que pudessem, quando solicitados, ser recrutados para o exército de 1 . a linha ou ainda para operarem localmente como milícias quando tal fosse necessário, pelo que deviam reunir-se regularmente para receberem treino militar. Os ofícios de capitão-mor e de sargento-mor conferiam sempre nobreza vitalícia, qualquer que fosse a dimensão da capitania (os restantes, apenas enquanto eram exercidos), e exigiam um grande empenho a quem os exercia, pela natureza das tarefas requeridas e pela duração indeterminada do ofício. A estabilidade do ofício e o tremendo poder do recrutamento militar, de que eram depositários os seus detentores, constituem aspectos fundamentais para a caracterização desta instituição, ciclicamente criticada pela sua ineficácia e pelas opressões a que dava lugar .
Nuno Gonçalo Monteiro, Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regime,