domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pode alguém ser quem não é?

no portadaloja

Pode dizer-se que os cantores de intervenção portugueses de então eram todos, mas mesmo todos de esquerda extremista. Nem sequer do PCP eram, na sua maior parte. E dominavam o discurso corrente do modo que se pode ler nas letras das canções. Um disco da Banda do Casaco ( Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios, de finais de 1974) nem sequer tinha direito ao mesmo tempo de antena daqueloutros. Porquê? Talvez porque António Pinho e Nuno Rodrigues não fossem da esquerda extremada e assim o melhor disco de mpp até hoje anda por aí perdido e quase ninguém o conhece. Preconceito ideológico? Mas é que não tenho a mínima dúvida.
Por isso é legítimo perguntar a José Mário Branco, ainda hoje, em que é que acredita verdadeiramente? Naquele poder popular de armas na mão e canção na algibeira, para matar gente em revolução se preciso fosse?
E espanta-se que o fassismo que sempre denunciam, não deixasse publicar tais letras? Acham porventura que se um grupo ou cantor ou alguém de extrema-direita, o fizessem do modo como aqueles o faziam com apelos directos à violência e à guerra de classes, os deixavam? Acham mesmo?
E agora, se aparecer alguém com os mesmos propósitos o que pensarão e dirão esses paladinos da liberdade de expressão cantada para derrubar o fassismo e impor uma ditadura do proletariado?
Acham tal proposta folclórica ou acreditaram mesmo naquilo que diziam e cantavam? Como cantava então Sérgio Godinho no seu segundo disco, de 1972 ( Prè-Histórias)e - pode alguém ser quem não é?

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves