segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pelo caminho dos outros

MCB sobre a nova direcção da Real Associação de Lisboa:
Para quem tem tido a simpatia de acompanhar este meu blogue, o excerto acima bastaria para suscitar um suspiro desiludido. É em atenção aos que aqui tropeçam que escrevo este artigo. Sem comentar demasiado sobre as qualidades morais da nova direcção de uma associação, tenho obviamente que abater sobre o comentário depreciativo dos "integralismos" e os "brasonários".
Resumindo as coisas como elas são, existem dois tipos de monárquicos - os que o são por princípio e os que o são por conclusão. MCB e a malta do Estado Sentido são, com toda a justeza, monárquicos por princípio. Os monárquicos por princípio são aqueles que acreditam que isto da monarquia funciona assim: "Primeiro há que fazer a coisa, depois o nosso povo irá conhecê-la e estimá-la". É mais uma daquelas infantilidades retiradas do contexto de um parágrafo pessoano - logo o poeta mais controverso do último século português - mas parece ser o dogma inquestionável da Causa Real portuguesa. Basta ganhar umas sondagens, convencer uns barões da media a conceder um tempito de antena e depois esperar por uma vitória num referendo prometido. Em poucas palavras, Marketing. Toda a doutrina monárquica das reais associações e dos blogues monárquicos como o Estado Sentido e o Combustões - e os seus seguidores - é profundamente democrática, mas no mau sentido, o da hiper-democracia - é uma mensagem espalhada de forma simplificada, de forma resumida e decorável, incapaz de ser absorvida porque feita para ser degustada como um slogan partidário.

Aquilo que a fantasia integralista preconizava era algo demasiado complicado para a lógica do Marketing. A sua monarquia era uma monarquia por conclusão - quer isto dizer que preconizavam a instrução de uma sociedade fundamentada em princípios morais, solidificados numa aproximação à Doutrina Social da Igreja, de uma moralização do Estado e da Economia, enfim, um trabalho de apostolado social, de contacto pessoal, o exercício de renovar uma Tradição Viva mas esquecida. No fim desse trabalho e dessa missão, à qual seriam chamados todos os portugueses - tanto os do presente como os do passado e do futuro - , a restauração da monarquia seria uma evolução natural. É claro que para os monárquicos por princípio, os monárquicos do Marketing, nada disto faz sentido. A vida, para eles, não passa ao ritmo "brasonado" das tradições quotidianas e familiares - a abordagem integralista não lhes deixa tempo para surpreender as oposições, para maravilhar os seus sequazes com argumentos académicos. O integralismo, a aristocracia, a sociedade fundada em princípios transcendentes, demorará décadas a criar. Implica sacrifícios que não prometem tornar-nos dotados de fama e reconhecimento, sugerem o desaparecimento da individualidade no Bem da Causa, um esforço que exige gerações comprometidas na recuperação do nosso país enquanto entidade colectiva dotada de um fim moral e religioso.

O Marketing monárquico está convencido que algumas sondagens televisivas são a prova definitiva de que "É a Hora!". O mesmo português descomprometido que vota numa sondagem ou até num referendo para instaurar uma monarquia por princípio não o faz por princípio. Fá-lo por capricho de instante, por um momentâneo estado de espírito, pelo desejo de fabricar uma pequena rebelião pessoal contra o actual estado da República. Esse português descomprometido, desembaraçado da ligação transcendente com o estado, é descendente directo do português que não se levantou do sofá para ver a monarquia de 1910 cair redondamente na rua, no brutal dia de 5 de Outubro. Ao mesmo tempo, é a evolução final do português criado naquele fatídico ano de 1820.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves