sexta-feira, 11 de março de 2011

Crítica de concerto (VIII)

Ontem, 10 de Março de 011, concerto de Música de Câmara na Sala Teresa de Macedo, na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, parte integrante da programação da Semana Aberta.

Começou pontualmente às 21:30h com "Dunkler Lichtglanz", de Robert Schumann, com os seguintes cantores:

Sara Cruz, Soprano
Liliana Sousa, Contralto,
João Terleira, tenor
André Carvalho, barítono
e ao piano Laura Felício.


Uma peça divertida, com um texto humorado, interpretada com rapidez, intenção mas com pouca leveza.
Todos os momentos eram de grande ênfase, soava tudo sempre forte.
Tanto nas cadências e partes de estabilidade tonal como nas progressões harmónicas, muitas em cromatismo, síntese da intensidade íntima muito presente na obra deste compositor, havia, como dizia, a necessidade de cada um revelar a sua parte o máximo possível. O resultado, por exemplo, era a submersão da Contralto por parte da Soprano, que tem um boa voz mas que exagerava nos crescendos, chegando aos agudos já em nítida desafinação com os restantes, talvez por já estar cansada de tanto cantar naquele dia.

Gostei do Tenor, com boa técnica e coordenação com todos os músicos. O barítono fazia muito bem as suas entradas, tanto rítmica como afinadamente, dentro do molde de harmónicos projectados pelo piano.

Este, sempre respeitador e atento às entradas e respirações dos cantores, demonstrou sentido de condução de estrutura da obra, mas também foi um pouco "na onda" da intensidade em excesso, mas com alguma variedade tímbrica (pouco facilitada no trabalho pelo desconforto gerado por uma "lesão" num dedo).

A soprano nunca olhava para o público, sempre de lado na postura, ao contrário dos restantes, com "interacção". "Esqueceu-se" de mandar calar o público, com o indicador, numa parte da peça, numa clara graçola física inerente a uma referência textual do muito irónico Schumann (algo que se não me dissessem, não ia imaginar).


Seguiu-se Paris 1937 de Fernando Lopes-Graça, para dois pianos.

Ambos estão de parabéns.
A Margot Welleman (a impecável pianista deste concerto) pela sua sagaz e implacável noção de balanço e afirmação rítmica, com uma variedade tímbrica inexcedível no registo grave, num piano que está um caco, muito aberto, em que seria fácil bater/berrar.
O Pedro Costa por ter tocado com febre alta mas com uma desenvoltura, alegria e variedades tímbrica e colorística muito grandes. Vê lá se tens febre mais vezes rapaz!!
Muitos Parabéns!!
Bem, na 2ª parte ouviu-se a "Playfull Quartet", de René Dequanq, pelo ensemble de Saxofones Ventos Novos.
Gostei muito da peça mas não tanto da interpretação. Demasiado vibrante, com muito ar a sair dos instrumentos. Muito alegres a tocar e muito conectados entre eles.
(Et quelle belle fille la bas).
Boa assistência, maioritariamente de cantores . Pena não ter aparecido mais gente de outras "musicalidades". Espero que apareçam nos outros dias.
Isto foi numa noite onde aconteceu outro milagre, além do do Pedro.
O Benfica lá ganhou ao... Paris Saint-German.
Isto é com cada coincidência...
"Cabecinha Pensadooora..."

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves