Qual a relação da sua música com os movimentos políticos, ou antes, qual o significado político da sua música?
- Tenho o conceito político de Platão. Vivemos numa sociedade constituída por seres humanos, mas também por seres organizados de determinada forma. De maneira orgânica, com identidades precisas. Mais do que nunca, a música que eu faço permite uma nova visão do mundo, de um possível entendimento colectivo e individual, o que é desconhecido na vida política. As pessoas que vejam Licht receberão uma mensagem política, através de um nível puramente musical. Quer Platão, quer Tomás de Aquino sabiam da importância da Música na política. Por todo o lado só ouvimos palavras ocas, a demagogia, a propaganda verbal, com os slogans do poder.
Shostakovitch, depois de ter ouvido em Moscovo a parte inicial de Licht, disse-me: "A sua música é a Paz, é a concertação dos povos".
Os partidos políticos, a meu ver, deviam deixar de existir, dividem as pessoas e guiam-nas para a luta ideológica. Todas as pessoas de classes, raças e povos estão representadas na minha música.
Há dias, eu votei por carta na minha aldeia, com cujos habitantes estabeleço a mais cordial relação. Mas eu pergunto, por que é que o meu voto tem o mesmo valor que o deles? Eles querem ter um carro, fartarem-se de comer, menos trabalho, e eu quero o contrário: não quero um carro, quero comer frugalmente e sem carne, quero trabalhar mais e mais. É impossível, é ridículo... devia desaparecer a Guerra.
1991
Entrevista realizada por Jorge Lima Barreto a Karlheinz Stockhausen
in Musonautas (2001) Editora Campo das Letras
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