terça-feira, 2 de novembro de 2010

«Esta, a verdade, quer só dar-se a quem a procura por amor, exclusivamente por sua formosura, não pelo aplauso ou pelo preço que possa render. Ora isto é o que não podem fazer as literaturas oficiais. Seria renegar o seu mesmo princípio, o culto da opinião, e o seu fim, o triunfo ruidoso mas efémero das praças públicas. Falam às maiorias, têm de ser comuns. Dirigem-se ao vulgo, têm de ser vulgares. Especulam com as paixões públicas, têm de as aceitar e lisonjear. Dependem dos ídolos do dia, têm de os incensar. Recolhem juro dos prejuízos e ilusões nacionais, têm de conservar esse capital rendoso. Têm por infalível pontífice o juízo popular, não podem renegar de suas doutrinas, seus dogmas, seus cultos. Hão-de ir sempre ao nível do espírito público, do pensar das maiorias: nunca acima. Serão entendidos, aplaudidos, estimados. Nunca, porém, elevarão, nunca hão-de ensinar, nunca hão-de mostrar mais do que pode ver qualquer dos que estão no meio da turba ...» ( Ib ., IV).

Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto