É elementar, meu caro Watson,
quando a fome é tanta,
a plebeia desconfia.
Pela verdade dos factos se mostra a vontade dos actos.
Só diz a verdade quem tem a vontade.
http://omeuamoreglandular.blogspot.pt/2011/02/apontamento-oitavo.html
"Il n'existe que trois êtres respectables: le prêtre, le guerrier, le poète. Savoir, tuer et créer" - Baudelaire
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Paixão? Sim, num copo de vinho do Porto
Fico triste quanto os meus amigos ficam tristes.
Fico triste quando o meu melhor amigo não está com sua esposa.
Fico triste quando a mulher do meu melhor amigo não está com seu marido.
Fico triste quando me lembro que já fui contente, alegre, esfuziante, dramático, carismático, sôfrego de vida, alma mater de mim mesmo.
Fico triste quando sei que fico triste.
Fico triste quando denoto que estou triste.
Fico triste quando sei que sei que fico triste.
Pela raiva contida numa pauta eu me vergo perante sua eminência, a Música.
Pela calma da voz seguinte eu me contenho em meu despudorado sofrimento.
Fico triste quando não compreendo a minha própria argumentação, quando noto que fui enganado por mim próprio vezes sem conta, que todo o meu esforço foi em vão, que esse alguém mestiço, violento e de candeias às avessas, como só umas pestanas altas, elegantes de tão austeramente brilhantes, com a clareza de um olhar que nada diz, de tão belo e fútil que é, como só essas pestanas podem parecer ser sérias.
Fico triste quando o meu melhor amigo não está com sua esposa.
Fico triste quando a mulher do meu melhor amigo não está com seu marido.
Fico triste quando me lembro que já fui contente, alegre, esfuziante, dramático, carismático, sôfrego de vida, alma mater de mim mesmo.
Fico triste quando sei que fico triste.
Fico triste quando denoto que estou triste.
Fico triste quando sei que sei que fico triste.
Pela raiva contida numa pauta eu me vergo perante sua eminência, a Música.
Pela calma da voz seguinte eu me contenho em meu despudorado sofrimento.
Fico triste quando não compreendo a minha própria argumentação, quando noto que fui enganado por mim próprio vezes sem conta, que todo o meu esforço foi em vão, que esse alguém mestiço, violento e de candeias às avessas, como só umas pestanas altas, elegantes de tão austeramente brilhantes, com a clareza de um olhar que nada diz, de tão belo e fútil que é, como só essas pestanas podem parecer ser sérias.
domingo, 29 de abril de 2012
Em dia de Abrilada
O que diz Pátria mas não diz glória
Com um silêncio de cobardia,
E ardendo em chamas, chamou vitória,
Ao medo e à morte daquele dia.
A esse eu quero negar-lhe a mão,
Negar-lhe o sangue da minha voz,
Que foi ferida pela traição
E teve o nome de todos nós.
O que diz Pátria sem ter vergonha
E faz a guerra pela verdade
Que ama o futuro, constrói e sonha
Pão e poesia para a cidade.
A esse eu quero chamar irmão
Sentir-lhe o ombro junto do meu
Ir a caminho de um coração
Que foi de todos e se perdeu.
António Manuel Couto Viana
10 Mandamentos errantes, numa coroa de barro
Anda, não fujas, não cambalearás
não acentuarás
não dançarás
não comungarás
não abanarás
não saltarás
não precisarás
não mostrarás
não perseguirás
não cairás
não acentuarás
não dançarás
não comungarás
não abanarás
não saltarás
não precisarás
não mostrarás
não perseguirás
não cairás
sábado, 28 de abril de 2012
História de vida
lá estás tu a fazeres-me corar
seu ser visceral
a análise galopante por entre as cortinas do saber
chegando o dia da grande batalha
"esse dia estará próximo, menina?"
há coisas
tão bonitas!
que eu saiba, África não faz assim tão mal às pernas
mas sim, com suas planícies e desertos
silêncios brumosos
cavam sepulturas de solidão
das esfíngies desgrenhadas
de tal sal debruado
como camisas de alecrim
envoltas num capricho
de mulher
seu ser visceral
a análise galopante por entre as cortinas do saber
chegando o dia da grande batalha
"esse dia estará próximo, menina?"
há coisas
tão bonitas!
que eu saiba, África não faz assim tão mal às pernas
mas sim, com suas planícies e desertos
silêncios brumosos
cavam sepulturas de solidão
das esfíngies desgrenhadas
de tal sal debruado
como camisas de alecrim
envoltas num capricho
de mulher
sábado, 21 de abril de 2012
segunda-feira, 16 de abril de 2012
domingo, 15 de abril de 2012
Alice no País do Inspector
No céu o mais leve arco-íris: era o anúncio. A manhã como uma ovelha branca. Pomba branca era a profecia. Manjedoura. Segredo. A manhã preestabelecida.
Ave-Maria, gratia pela, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictum frutus ventri tui Jesus. Sancta Maria Mater Dei ora pro nobis pecatoribus. Nunca et ora nostrae morte Amen.
Padre Jacinto ergueu com as duas mãos a taça de cristal que contém o sangue escarlate de Cristo. Eta, vinho bom. E uma flor nasceu. Uma flor leve, rósea, com perfume de Deus. Ele-ela há muito sumira no ar. A manhã estava límpida como coisa recém-lavada.
(Onde estiveste de noite)
Ave-Maria, gratia pela, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictum frutus ventri tui Jesus. Sancta Maria Mater Dei ora pro nobis pecatoribus. Nunca et ora nostrae morte Amen.
Padre Jacinto ergueu com as duas mãos a taça de cristal que contém o sangue escarlate de Cristo. Eta, vinho bom. E uma flor nasceu. Uma flor leve, rósea, com perfume de Deus. Ele-ela há muito sumira no ar. A manhã estava límpida como coisa recém-lavada.
(Onde estiveste de noite)
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Ritmo e vida quotidiana
Existe um tempo para tudo,
um tempo para construir,
um tempo para destruir,
um tempo para chorar,
um tempo para rir,
um tempo para procurar,
um tempo para perder,
um para se estar em silêncio e um tempo para falar...
Eclesiastes
um tempo para construir,
um tempo para destruir,
um tempo para chorar,
um tempo para rir,
um tempo para procurar,
um tempo para perder,
um para se estar em silêncio e um tempo para falar...
Eclesiastes
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Monarquia e os Jovens
Recentemente uma jornalista do JPN entrevistou-me, e a outros jovens estudantes, para um artigo sobre a monarquia entre os jovens. Os resultados estão à vista aqui e aqui, com a ressalva que é afirmado num desses artigo que conclui a minha licenciatura em Direito, o que não é verdade.
Coloco aqui na íntegra no blogue as minhas respostas.
- Como e quando entrou em contato com a causa monárquica?
O primeiro contacto com a ideia monárquica costuma ser dado em casa. No meu caso, apesar de conhecer alguns antecedentes familiares monárquicos, o meu primeiro contacto com a monarquia, de um ponto de vista intelectual e teórico, deu-se no meu primeiro ano de Direito, no seguimento do estudo de Ciência Política. No entanto, o meu pensamento monárquico só começou a conhecer uma deriva "pouco comum" a partir da leitura do livro de Erik Kuenhelt-Leddihn, "Liberty or Equality".
- O que o atraiu na Monarquia, e porque é que considera que seria uma melhor forma de governo?
O que atrai na monarquia é o facto de, ao contrário de todas as restantes formas de governo, fazer sentido. É mais fácil explicar a uma criança o dever de honra, fidelidade e amor a uma figura paternal como o rei do que ensinar o mesmo tipo de sentimentos por um órgão de soberania eleito com determinada regularidade, seja esse órgão composto por um presidente ou por um "palramento". É claro que a contra-argumentação passa por dois pontos essenciais: há aqueles que são plenamente contrários à paternalidade, e exigem o total relativismo e impessoalidade das relações políticas (e até familiares!), como se a constituição política de uma nação fosse apenas o compêndio da vontade das gerações cotemporâneas. Com esses não há discussão possível, pois o ponto de discórdia é uma questão de princípios morais. A outra contra-argumentação surge da possibilidade de o Rei não estar à altura dos seus deveres políticos "paternalistas". Ora, da mesma maneira que não existem pais e mães perfeitos, não existem soberanos perfeitos. É o fundamento moral da monarquia que a justifica: o amor filial que temos ao nosso país surge assim com uma representação pessoal, familiar e típica do quadro de valores que a maioria da população, por circunstâncias históricas e humanas, partilha.
- Tens muitos amigos monárquicos, ou nem por isso? Como reagem os outros colegas ao facto de ser monárquico? Compreendem a sua opção?
É mais fácil para um monárquico ter inimigos monárquicos do que amigos monárquicos. Uma vez que os chamados "monárquicos" e as "causas monárquicas" são receptáculos de frustrações e ambições desmedidas de alguns meninos das classes altas, o ambiente habitual nesses lupanares raramente é coisa saudável para a criação de uma teoria intelectual portuguesa, popular e coesa. O crescimento actual das Reais Associações deve-se apenas ao actual mal estar nacional, económico e social, que consegue forçar o típico "monárquico" a engolir alguma das suas "manias" e a juntar-se em comunidade com outros como ele. No entanto, o número de tradicionalistas entre as hostes monárquicas tem vindo a aumentar, com um crescimento muito pequeno mas sustentável.
Em relação à segunda pergunta, as reacções não são muito díspares: ou ignoram, ou se opõem. Já tive de me afastar de um evento devido ao facto de a presença de um "monárquico reaça" os incomodar mais do que a presença de um comunista.
- Como é que imagina um Portugal monárquico? Era possível a implantação de um regime monárquico actualmente em Portugal? De que forma seria útil para resolver a crise económica, política e social que o País atravessa?
Não imagino Portugal de outra forma sem ser monárquico. De tal forma é assim, que o que existe hoje é a República Portuguesa e não Portugal. A implantação de um regime monárquico é tão possível quando a implantação de um regime parlamentar, presidencialista ou tribalista. Com a propaganda certa, com o apoio do exército e da conjuntura económica tudo se faz. Pode ser instaurado um regime monárquico em Portugal com o acordo das restantes potências mundiais, basta querer e querer com muita força. É claro que isso não resolverá, de maneira nenhuma, os problemas do país. Esses problemas não são meramente económicos ou sociais. Há toda uma recuperação do espírito português que tem de renascer e fortalecer, e a consequência de se ensinar à Pátria aquilo que ela significa é a monarquia. Ao contrário dos constitucionalistas, não vejo a monarquia como o fim do problema em que vivemos, mas como o fim da solução que precisamos.
- Está a ponderar apenas apoiar a ideologia ou intervir ativamente num futuro próximo?
Não pretendo fazer nada em prol da restauração da Monarquia porque o país não está preparado para uma Monarquia. Trocar o Presidente da República por um Corta-Fitas honorário e hereditário (nem se pode dizer hereditário quando a sucessão do rei depende, exclusivamente, de uma lei sucessória disponível a alterações pelo Parlamento) não é restaurar a Monarquia. Aquilo que eu pretendo fazer, e aconselho que outros monárquicos como eu o façam, é que se apliquem nas suas áreas de estudo, sejam bons profissionais e procurem pelo exemplo dar a este país aquilo que ele precisa. Questões de Coroas e Princesas são claramente secundárias quando estamos perante um país a viver num completo interregno histórico, sem "rei nem lei, nem paz nem guerra".
terça-feira, 10 de abril de 2012
Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
dir-te-ei da forma que nunca mais irei dizer tal fogacho de forma tão intensa
tão rebuscada e tão cósmica
de tal virilidade será depositária outra pessoa, outra alma.
Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
se me concederes o privilégio de figurar na tua memória momentânea
toldado estará o espírito de te ver lacrimejar furiosa
rancorosa com o Mundo que eu não conheço
Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
num local que me foi dado a conhecer no Novo Mundo por vós
que de vós eu tomei a liberdade de ficar triste
pois que os amigos ficam assim
Se um dia trocares tristeza por beleza
eu vou pedir um instantâneo Isabelino
irei fazer uma festa dantesca
falarei até me rir
Se um dia eu ficar triste
irei lembrar-me dos meus amigos
e ficarei de memória falado
das palavras que te disse.
dir-te-ei da forma que nunca mais irei dizer tal fogacho de forma tão intensa
tão rebuscada e tão cósmica
de tal virilidade será depositária outra pessoa, outra alma.
Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
se me concederes o privilégio de figurar na tua memória momentânea
toldado estará o espírito de te ver lacrimejar furiosa
rancorosa com o Mundo que eu não conheço
Se um dia ficares triste, dir-te-ei estas palavras
num local que me foi dado a conhecer no Novo Mundo por vós
que de vós eu tomei a liberdade de ficar triste
pois que os amigos ficam assim
Se um dia trocares tristeza por beleza
eu vou pedir um instantâneo Isabelino
irei fazer uma festa dantesca
falarei até me rir
Se um dia eu ficar triste
irei lembrar-me dos meus amigos
e ficarei de memória falado
das palavras que te disse.
sábado, 7 de abril de 2012
Páscoa
É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a radicalidade do ser. À luz disto, creio justificado o meu apelo veemente e incisivo para que a fé e a filosofia recuperem aquela unidade profunda que as tornem capazes de serem coerentes com a sua natureza, no respeito da recíproca autonomia. Ao desassombro da fé deve corresponder a audácia da razão.
Sumo Pontífice João Paulo II
Encíclica Fides et Ratio
Sumo Pontífice João Paulo II
Encíclica Fides et Ratio
sexta-feira, 6 de abril de 2012
O processo de Bolonha e o Acordo Ortográfico aplicados à vida:
Faça você mesmo!
O meu nome é
Tenho anos de idade
Sou actor em várias coisas no presente momento, tais como para , e .
Daqui a alguns anos prevejo estar em humildade a e a em .
Enquanto esse período não chega
e se entretanto alguém ...ar/...er/ o tempo que resta,
estarei disposto a e a em .
Assinado:
a b c d
Faça você mesmo!
O meu nome é
Tenho anos de idade
Sou actor em várias coisas no presente momento, tais como para , e .
Daqui a alguns anos prevejo estar em humildade a e a em .
Enquanto esse período não chega
e se entretanto alguém ...ar/...er/ o tempo que resta,
estarei disposto a e a em .
Assinado:
a b c d
quinta-feira, 5 de abril de 2012
A Verdade na Poesia
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagebs com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
o menino fazia prodígos.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Manoel de Barros
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagebs com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
o menino fazia prodígos.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Manoel de Barros
domingo, 1 de abril de 2012
Princípio do Provocatório IX
Qual a relação da sua música com os movimentos políticos, ou antes, qual o significado político da sua música?
- Tenho o conceito político de Platão. Vivemos numa sociedade constituída por seres humanos, mas também por seres organizados de determinada forma. De maneira orgânica, com identidades precisas. Mais do que nunca, a música que eu faço permite uma nova visão do mundo, de um possível entendimento colectivo e individual, o que é desconhecido na vida política. As pessoas que vejam Licht receberão uma mensagem política, através de um nível puramente musical. Quer Platão, quer Tomás de Aquino sabiam da importância da Música na política. Por todo o lado só ouvimos palavras ocas, a demagogia, a propaganda verbal, com os slogans do poder.
Shostakovitch, depois de ter ouvido em Moscovo a parte inicial de Licht, disse-me: "A sua música é a Paz, é a concertação dos povos".
Os partidos políticos, a meu ver, deviam deixar de existir, dividem as pessoas e guiam-nas para a luta ideológica. Todas as pessoas de classes, raças e povos estão representadas na minha música.
Há dias, eu votei por carta na minha aldeia, com cujos habitantes estabeleço a mais cordial relação. Mas eu pergunto, por que é que o meu voto tem o mesmo valor que o deles? Eles querem ter um carro, fartarem-se de comer, menos trabalho, e eu quero o contrário: não quero um carro, quero comer frugalmente e sem carne, quero trabalhar mais e mais. É impossível, é ridículo... devia desaparecer a Guerra.
1991
Entrevista realizada por Jorge Lima Barreto a Karlheinz Stockhausen
in Musonautas (2001) Editora Campo das Letras
- Tenho o conceito político de Platão. Vivemos numa sociedade constituída por seres humanos, mas também por seres organizados de determinada forma. De maneira orgânica, com identidades precisas. Mais do que nunca, a música que eu faço permite uma nova visão do mundo, de um possível entendimento colectivo e individual, o que é desconhecido na vida política. As pessoas que vejam Licht receberão uma mensagem política, através de um nível puramente musical. Quer Platão, quer Tomás de Aquino sabiam da importância da Música na política. Por todo o lado só ouvimos palavras ocas, a demagogia, a propaganda verbal, com os slogans do poder.
Shostakovitch, depois de ter ouvido em Moscovo a parte inicial de Licht, disse-me: "A sua música é a Paz, é a concertação dos povos".
Os partidos políticos, a meu ver, deviam deixar de existir, dividem as pessoas e guiam-nas para a luta ideológica. Todas as pessoas de classes, raças e povos estão representadas na minha música.
Há dias, eu votei por carta na minha aldeia, com cujos habitantes estabeleço a mais cordial relação. Mas eu pergunto, por que é que o meu voto tem o mesmo valor que o deles? Eles querem ter um carro, fartarem-se de comer, menos trabalho, e eu quero o contrário: não quero um carro, quero comer frugalmente e sem carne, quero trabalhar mais e mais. É impossível, é ridículo... devia desaparecer a Guerra.
1991
Entrevista realizada por Jorge Lima Barreto a Karlheinz Stockhausen
in Musonautas (2001) Editora Campo das Letras
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Convite a Concerto (IV)
4 de Abril
21:30h
Braga
Museu Nogueira da Silva
Música inspirada no tempo de Quaresma
Joaquim Gonçalves dos Santos: Nos 75 anos do nascimento, nos 5 anos da obra Impressões Bíblicas “Servite Domino in Lætitia”
Joaquim Gonçalves dos Santos
Impressões Bíblicas “Servite Domino in Lætitia” | Moimenta - Cabeceiras de Basto, 11/02/2007
Dedicadas ao organista, pianista e cravista italiano Giampaolo di Rosa
Leitura do texto sagrado Salmo 1
"Salmo 1": Meditação sobre o destino dos bons e dos maus.
(Justorum sors bona; Impiorum mala)
Largo espressivo / Andante grazioso / Adagio Patetico
Leitura do texto sagrado Salmo 132
"Salmo 132": Breve canto ao amor fraterno. A união fraterna é bênção de Deus e é vida.
(Concordiæ fratrum jucunditas)
Andante tranquillo / Andante mosso
Leitura do texto sagrado Salmo 99
"Salmo 99": Hino processional. O Povo de Deus responde ao coro:
- O Senhor é bom,
a Sua misericórdia é eterna.
(Jubilate Deo, omnis terra; Servite Domino in lætitia)
Andante grazioso / Più mosso / Meno mosso
Joaquim Gonçalves dos Santos
Prologus, 6 Impressões musicais do Evangelho de São João | Moimenta - Cabeceiras de Basto, Natal 2001
Dedicadas à pianista Ana Isabel Telles Antunes
In principio erat Verbum - No princípio era o Verbo: Maestoso e Solene
Omnia per ipsum sunt - E todas as coisas por Ele foram feitas: Poco Andante
In ipso vita erat - E n'Ele está a vida: Allegretto
Erat lux vera - E [o Verbo] era luz verdadeira: Ricercare
Et Verbum caro factum est - E o Verbo fez-se carne: Misterioso e Grave
Et Vidimus Gloriam eius - E vimos a Sua Glória: Allegro Vibrante
Frederico de Freitas - 6 peças para piano - 1940-1943
Peça IV: "Avezinha caída"
Molto adagio
João de Deus
Poema "Hino ao Amor"
Miguel Torga
Poema "Prece"
21:30h
Braga
Museu Nogueira da Silva
Música inspirada no tempo de Quaresma
Joaquim Gonçalves dos Santos: Nos 75 anos do nascimento, nos 5 anos da obra Impressões Bíblicas “Servite Domino in Lætitia”
Joaquim Gonçalves dos Santos
Impressões Bíblicas “Servite Domino in Lætitia” | Moimenta - Cabeceiras de Basto, 11/02/2007
Dedicadas ao organista, pianista e cravista italiano Giampaolo di Rosa
Leitura do texto sagrado Salmo 1
"Salmo 1": Meditação sobre o destino dos bons e dos maus.
(Justorum sors bona; Impiorum mala)
Largo espressivo / Andante grazioso / Adagio Patetico
Leitura do texto sagrado Salmo 132
"Salmo 132": Breve canto ao amor fraterno. A união fraterna é bênção de Deus e é vida.
(Concordiæ fratrum jucunditas)
Andante tranquillo / Andante mosso
Leitura do texto sagrado Salmo 99
"Salmo 99": Hino processional. O Povo de Deus responde ao coro:
- O Senhor é bom,
a Sua misericórdia é eterna.
(Jubilate Deo, omnis terra; Servite Domino in lætitia)
Andante grazioso / Più mosso / Meno mosso
Joaquim Gonçalves dos Santos
Prologus, 6 Impressões musicais do Evangelho de São João | Moimenta - Cabeceiras de Basto, Natal 2001
Dedicadas à pianista Ana Isabel Telles Antunes
In principio erat Verbum - No princípio era o Verbo: Maestoso e Solene
Omnia per ipsum sunt - E todas as coisas por Ele foram feitas: Poco Andante
In ipso vita erat - E n'Ele está a vida: Allegretto
Erat lux vera - E [o Verbo] era luz verdadeira: Ricercare
Et Verbum caro factum est - E o Verbo fez-se carne: Misterioso e Grave
Et Vidimus Gloriam eius - E vimos a Sua Glória: Allegro Vibrante
Frederico de Freitas - 6 peças para piano - 1940-1943
Peça IV: "Avezinha caída"
Molto adagio
João de Deus
Poema "Hino ao Amor"
Miguel Torga
Poema "Prece"
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Quaresma,
Salmos,
Sebastião da Gama
Estado da Música
Pergunta-se-me qual é a minha previsão sobre a música no Ano 2000.
(...)
Que sei eu? Muito possivelmente, tão-só aquilo que os homens quiserem que ela seja, visto que, em última análise, são eles, os homens, que a fazem e é para eles que a fazem. A menos que os homens do Ano 2000 entendam que não vale mais a pena fazer música (já hoje, neste ano da graça de 1966, há tanta alminha para quem ela não tem a mínima significação, que muito bem sem ela passa...). Ou entendam que a música é uma arte que, embora gloriosa na sua história, passou... à história. Ou que , enfim, à música por eles mesmos feitos prefiram a velhíssima música das esferas, ou a novíssima música dos robots... Mas se ela, música, continuar a ser uma necessidade para esses homens do Ano 2000, natural será que eles a façam à sua imagem e semelhança, à imagem e semelhança dos seus sonhos, dos seus pensamentos, dos seus desesperos, das suas alegrias - se sonhos, pensamentos, desesperos e alegrias continuarem a ser o vero cerne do que no homem o torna verdadeiramente homem. E também de acordo com aquilo que sempre condicionou, estimulou ou renovou o processo artístico: o contexto social e o contexto técnico do momento.
E, assim, essa música do Ano 2000 será (...) muito naturalmente uma muito natural continuação da música do seu irmão barbado, o Ano 1000, contado este até às 0 horas do dia 31 de Dezembro de 1999. E como o trânsito de um milénio para o outro só será real no calendário e nas imaginações - pois que ao Tempo, contínuo na sua essência, tal trânsito é completamente indiferente - provável será também que, no dia 1 de Janeiro de 2000, a situação não difira grandemente da situação em que ela se achava na véspera. Provável ainda é que a música não seja una mas múltipla, isto é, como a dos Anos 1000, vária nos seus aspectos e manifestações, aos dodecafonistas, aos serialistas (ou o que então lhes equivala) opondo-se os tonalistas (ou o que então se entender por tal), os «concretos», os electrónicos, os aleatórios (a vingarem, e por que não?, estes modos de compor) fazendo negaças aos outros (como chamar-lhes? tradicionalistas?), aos que não seguem ou combatem esses modos de compor e a quem eles, os «concretos», os electrónicos, os aleatórios, chamarão possivelmente reaccionários, os compositores repartidos, como os seus pais e avós, em ala esquerda e ala direita, com um infalível centro, para garantia do equilíbrio e da estabilidade do mundo e das consciências... O pior é se aparecem, reincarnados, uns perigosos agitadores que se chamaram, por exemplo, Machaut, Gesualdo, Monteverdi, Rameau, Beethoven, Wagner, Debussy, Schönberg, Stravinsky ou Xenakis...
Então, adeus equilíbrio e estabilidade. Mas também se esses agitadores não voltarem, eles ou outros dos que são verdadeiramente o sal e o fermento da arte, poder-se-á conseiderar que a Música dos Anos 2000 é ainda, na realidade, uma entidade viva, dinâmica e prospectiva?
1966
A música no ano 2000, de Fernando Lopes-Graça
in Nossa Companheira Música, da colecção Obras Literárias, pela Editora Caminho
(...)
Que sei eu? Muito possivelmente, tão-só aquilo que os homens quiserem que ela seja, visto que, em última análise, são eles, os homens, que a fazem e é para eles que a fazem. A menos que os homens do Ano 2000 entendam que não vale mais a pena fazer música (já hoje, neste ano da graça de 1966, há tanta alminha para quem ela não tem a mínima significação, que muito bem sem ela passa...). Ou entendam que a música é uma arte que, embora gloriosa na sua história, passou... à história. Ou que , enfim, à música por eles mesmos feitos prefiram a velhíssima música das esferas, ou a novíssima música dos robots... Mas se ela, música, continuar a ser uma necessidade para esses homens do Ano 2000, natural será que eles a façam à sua imagem e semelhança, à imagem e semelhança dos seus sonhos, dos seus pensamentos, dos seus desesperos, das suas alegrias - se sonhos, pensamentos, desesperos e alegrias continuarem a ser o vero cerne do que no homem o torna verdadeiramente homem. E também de acordo com aquilo que sempre condicionou, estimulou ou renovou o processo artístico: o contexto social e o contexto técnico do momento.
E, assim, essa música do Ano 2000 será (...) muito naturalmente uma muito natural continuação da música do seu irmão barbado, o Ano 1000, contado este até às 0 horas do dia 31 de Dezembro de 1999. E como o trânsito de um milénio para o outro só será real no calendário e nas imaginações - pois que ao Tempo, contínuo na sua essência, tal trânsito é completamente indiferente - provável será também que, no dia 1 de Janeiro de 2000, a situação não difira grandemente da situação em que ela se achava na véspera. Provável ainda é que a música não seja una mas múltipla, isto é, como a dos Anos 1000, vária nos seus aspectos e manifestações, aos dodecafonistas, aos serialistas (ou o que então lhes equivala) opondo-se os tonalistas (ou o que então se entender por tal), os «concretos», os electrónicos, os aleatórios (a vingarem, e por que não?, estes modos de compor) fazendo negaças aos outros (como chamar-lhes? tradicionalistas?), aos que não seguem ou combatem esses modos de compor e a quem eles, os «concretos», os electrónicos, os aleatórios, chamarão possivelmente reaccionários, os compositores repartidos, como os seus pais e avós, em ala esquerda e ala direita, com um infalível centro, para garantia do equilíbrio e da estabilidade do mundo e das consciências... O pior é se aparecem, reincarnados, uns perigosos agitadores que se chamaram, por exemplo, Machaut, Gesualdo, Monteverdi, Rameau, Beethoven, Wagner, Debussy, Schönberg, Stravinsky ou Xenakis...
Então, adeus equilíbrio e estabilidade. Mas também se esses agitadores não voltarem, eles ou outros dos que são verdadeiramente o sal e o fermento da arte, poder-se-á conseiderar que a Música dos Anos 2000 é ainda, na realidade, uma entidade viva, dinâmica e prospectiva?
1966
A música no ano 2000, de Fernando Lopes-Graça
in Nossa Companheira Música, da colecção Obras Literárias, pela Editora Caminho
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